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A grandiosidade de um porta-aviões ianque no Brasil

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Vê-lo por dentro, conhecer suas entranhas, admirar o ir e vir dos aviões. Tudo um encantamento

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Ao rever fotografias armazenadas em uma grande gaveta encontrei a que me fez voltar ao tempo de meus estágios de férias na Santa Casa de Misericórdia de Santos.

Era o ano de 1957. Nossas aulas na Faculdade de Medicina iniciar-se-iam somente após o carnaval que, afortunadamente, caiu nos primeiros dias de março.

Eu começara a minha vida jornalística no jornal “O Dia”, de Curitiba, no ano anterior. A fim de conseguir fotos sobre fatos interessantes para a minha coluna eu recorria sempre aos colegas de “A Tribuna”, de Santos. Com eles eu conseguia os clichês de fotografias já publicadas. Sim, porque naquela época as imagens selecionadas necessitavam de um especialista na arte de transformá-las em negativos sobre placas de metal a fim de que pudessem ser impressas nas páginas dos jornais.

Coincidentemente, bem naqueles dias fundearia na baía de Santos um porta-aviões da Marinha Americana, o “Coral Sea”, considerado, na época um dos mais modernos do mundo.

Seu nome era uma referência em memória aos homens que lutaram em uma primeira grande batalha naval, a Batalha do Mar de Coral, situado ao largo do Arquipélago das Luisíadas, no Oceano Pacífico.

Por intermédio do redator-chefe do jornal santista consegui uma credencial para visitá-lo. E, claro, depois sobre ele escrever algo para o meu jornal.

Em uma manhã ensolarada tomamos um barco cedido pela Marinha do Brasil e fomos conhecer o monstro marítimo fundeado ao longo da barra.

Devido ao seu descomunal tamanho não atracou ao porto. Durante três dias podia-se vê-lo ao largo, na distância.

Eram transportados de barco para terra tanto os marinheiros como para lá chegar as pessoas credenciadas para visitá-lo.

O “Coral Sea” era uma unidade da classe Roosevelt. Na ocasião estava a fazer uma viagem de rotina pelo Oceano Atlântico.

Não se tratava de uma visita oficial da Marinha de Guerra dos Estados Unidos da América, mas a Capitania dos Portos de Santos organizou um variado programa para a sua recepção.

Entre as diversas atividades realizadas até a disputa de um jogo de basquetebol entre a equipe da belonave americana e os jogadores do Clube Internacional de Regatas. E os marinheiros perderam.

Esta passagem das belonaves americanos pelos portos brasileiros era um procedimento padrão quando precisavam passar de uma costa para outra de seu território. Por razões de segurança não poderiam cortar caminho seguindo pelo Canal do Panamá. Então circum-navegavam o continente, escalando, muitas vezes, em Santos.

Foi em uma destas coincidências que eu pude circular por dentro de um grande porta-aviões, o mais famoso daquela época.

Um veterano jornalista da capital paulista olhava-me de longe. Chegou perto de mim. Queria saber para qual jornal estudantil eu escrevia e como conseguira credenciais para fazer parte da equipe de jornalistas que lá se encontravam.

Naquela época o meu penteado era um rabo de cavalo. Tive de sorrir e explicar-lhe que embora estudante de medicina eu era redatora de um jornal na capital do Paraná.

Impressionante estar ao lado e presenciar pequenos aviões serem catapultados, fazerem uma circunvolução pelo ar e depois pousarem de forma abrupta em tão exíguo espaço.

Evidentemente não visitamos todos os compartimentos da grande belonave. Mas vimos o suficiente para inteirarmo-nos de seu funcionamento e do papel estratégico desempenhado pelos seus similares no decorrer da Segunda Grande Guerra Mundial.

Ouvimos uma interessante palestra. Detalhes sobre as batalhas navais travadas no Oceano Pacífico entre aliados e a Imperial Força Aérea Japonesa.

Visitamos as diversas áreas de lazer, salões de jogos, de refeições. Enfim, pudemos ver o trivial, o básico, o que poderia ser mostrado, analisado, fotografado, filmado.

Os fotógrafos tiveram permissão para captar imagens apenas em alguns locais previamente discriminados. Fato que foi aceito sem contestação. Afinal estávamos no ano de 1957. Os ranços da guerra eram ainda muito nítidos na mente de todos. Mister cuidar-se, de todas as formas, para que argutos olhos indesejáveis jamais chegassem por ali, mesmo na distância.

Olhando aquela fotografia um diferente mundo faz circunvoluções em minha mente.

Por que esta estranha necessidade de, a cada dia, mais instrumentos de guerra e de destruição têm uma evolução vertiginosa? Por que esta estranha necessidade armamentista para a defesa de um território?

Conta-se que nos tempos medievos a desculpa para invadir um reino vizinho era a necessidade de sobrevivência. Porque a lavoura tinha ido mal e sem dinheiro para comprar o que precisavam atacavam o próximo. Esta sanha de poder estagna o progresso da humanidade. Que em vez de produzir o alimento para saciar a fome do mundo, produz armas de guerra na tentativa de estar sempre alerta para o caso de ser assaltada.

Uma beleza o “Coral Sea” fundeado na barra da baía de Santos. Vê-lo ao longe, ao largo. Uma imponência a flutuar nas onduladas águas azuis.

Vê-lo por dentro, conhecer suas entranhas, admirar o ir e vir dos aviões. Tudo um encantamento. Era uma época ainda de guerra fria. Necessidade de treinamento constante de jovens embarcadiços que no decorrer das manobras aprendiam o essencial.

Pensava-se que a “guerra fria” seria eterna. Pensava-se que o horror causado após os fatídicos voos do “Enola Gay” e do “Bockscar” as guerras seriam apenas diplomáticas. Pensava-se que o estigma deixado em Hiroshima e Nagasaki serviria para que todos os países se dessem as mãos e daquele dia em diante apenas trocassem flores entre si.

Pensava-se…

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