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Enfim, os livros retornam aos meus olhos

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 Feliz estava eu após múltiplos procedimentos e uma refinada cirurgia da mácula

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Enquanto somos jovens alimentamos a ilusão de um organismo perfeito no decorrer de uma vida. O organismo como um todo e, em especial, cada um de nossos órgãos.

Claro que há problemas patológicos que já se manifestam em nossa mais tenra infância e mesmo outros que trazemos em nossos cromossomos.

Os problemas de minha visão manifestaram-se a meio caminho entre os quarenta e os cinquenta anos.

Quando criança eu sonhava em usar óculos. Porque eu queria ser igual à minha irmã Avany, que portava uma severa miopia hereditária. Aliás, menina que eu era, dez anos mais nova, em tudo eu queria ser igual a ela.

Tive de me contentar no aguardo dos anos para enfeitar meu rosto com lentes de grau.        

Eram, na época, bifocais os primeiros corretores artificiais de minha visão. Coloridos aros. Logo encomendei dois. Que combinassem com os meus vestidos usados em ocasiões de gala.

Em breve já me receitariam as lentes multifocais.

E assim feliz, pelos anos, eu vagava. A cada ano novos graus eram adicionados.                 

A ficha que se usa para marcar os dados vitais de um paciente anestesiado, no decorrer de uma cirurgia, é toda quadriculada. Em branco e preto. Comecei a notar que a minha era acrescida de vermelhas linhas verticais e horizontais. Achei lindo!!!!

Lá pelo início deste século preparava-me para prestar as provas para obtenção do Título de Especialista em Acupunturiatria. E em meio às linhas inseridas nos compêndios começaram a imiscuir-se minúsculos pontinhos pretos.

Ao consultar com minha colega e amiga, médica oftalmologista, Márcia Mitiko Guinoza, o inevitável em meus olhos já se fazia presente. O cristalino já cristalino não era. Transformara-se apenas em uma lastimável massa opaca.

 No Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, de Joinville, foi realizada a necessária cirurgia para remoção das cataratas. Com colocação de lentes intraoculares.

Na retirada dos tampões que cobrem nossos olhos desde o pós-operatório imediato, a desagradável surpresa. Em um dos olhos, apenas borrões à minha frente.

Foi então que fiquei aos cuidados do professor Dr. Mário Junqueira Nóbrega.

Já relatei estes fatos na crônica “E depois da névoa … o ponto de luz!”¹

 Peregrinações contínuas ao consultório do Dr. Mário. Os anos foram passando. Graus das lentes em aumento progressivo ano após ano.

 Feliz estava eu após múltiplos procedimentos e uma refinada cirurgia da mácula. Parecia-me que agora eu estaria com uma visão já intensamente revista e melhorada para sempre.

Eis que outro problema surgiu. Que também consta de um relato na crônica “Visões alucinógenas em uma mente sã” já publicada no JMais.

Desde então livros de amigos escritores, livros que ganhava de amigos, acumulavam-se em minha estante.

Até tentava lê-los com a ajuda de uma pequena lupa em uma das mãos. Era muito complicado.

Com o passar do tempo e a estabilização do último procedimento cirúrgico passei a usar uns óculos especiais. Ou seja, duas lupas em uma armação.

Não são tão simples de serem resolvidos os problemas inerentes às deficiências visuais decorrentes com o passar dos anos.

Uma imperiosa razão para que jamais a juventude deprecie seus amigos e colegas que usam lentes corretivas para a melhora de sua visão apelidando-os com termos nada agradáveis como cansei de ouvir por aí. Porque “ceguinho” e ou “míope” são palavras que calam fundo na vida dos que tem, desde a infância, distúrbios de visão.

E agora é que tem início a minha história de hoje.

Uma semana após fazer uso destas lupas consegui ler dois livros.

Podem imaginar a minha felicidade?

Poder contar para vocês sobre Roatán (Aprendendo a ser Feliz) & Paragon (Bem-vindo a Paragon onde tudo é para poucos e nada é para muitos), de Ariel Seleme e Um caminho para amar, de Natacha Oliskovicz.

Ariel Seleme nasceu em Itaiópolis, filho dos canoinhenses Seleme Isaac Seleme e Edith Stulzer Tack. Sobrinho também de duas pessoas ligadas à arte literária e à literatura portuguesa, Sálua Seleme e Isis Maria Tack Baukat.

O estilo descritivo de Ariel é digno dos maiores elogios. Fala-nos de um país imaginário onde um crime acontece. Linhas após linhas eu tinha vários suspeitos. Mas o delegado, segundo Ariel, com cursos de especializações nas melhores academias de polícia e investigação da América, nem se preocupava com a plêiade de personagens que circulam pela história. Para ele, apenas um garoto era o assassino. Que foi preso e atrás das grades aguarda sua execução em uma cadeira elétrica. Sim, porque naquele pequeno país a pena de morte era lei.

“Tempo. Começo, meio e fim. Juventude, começo e fim. Paragon acordou com o fim. Jovens sentados na praia vendo o mar sem fim e o horizonte cheio de promessas, quando antes do começo chegou o fim”.

No início de Roatám Ariel insere umas tintas sobre seu personagem:

“Separação de pessoas, países. Formando culturas. Fronteiras, antigas e novas. Móveis e fixas. De costas para o mundo, a vida de Lino se resumia a trabalho e negócios. Mundo sem fronteiras e do tamanho de seu egoísmo. ”

Lino desfila pelas páginas. É algo deslumbrante acompanhar seu itinerário do começo ao fim.

Sobre Um caminho para amar falarei outro dia.

¹ Esta crônica está inerida no libro “O Meu Lugar”.

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