Como doar para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul? Veja os canais oficiais

segunda-feira, 20

de

maio

de

2024

ACESSE NO 

Como doar para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul? Veja os canais oficiais

A arquitetura vernacular: (re)conhecer e (re)valorizar

Últimas Notícias

A arquitetura tradicional mais representativa na Região Sul do Brasil é aquela construída principalmente em madeira de araucária

- Ads -

João Ricardo Licnerski*

Jairo Marchesan**

Argos Gumbowsky***

Aqueles que vivem ou transitam pela Região Sul do Brasil percebem, na paisagem rural, a predominância de edificações em madeira, e, da mesma forma, porém, em menor proporção, também podem observar que as áreas urbanas ainda contêm significativas edificações desse tipo. Tais características compõem expressivamente um dos elementos constitutivos da identidade cultural e arquitetônica regional. Normalmente, aqueles que aqui vivem estão acostumados a vê-las cotidianamente e, por vezes, pouco reconhecem e refletem sobre a história, a cultura e o valor social de tais edificações.

Há a tendência de considerar as edificações mais singulares ou diferenciadas, as quais acabam sendo transformadas em pontos turísticos ou algumas permanecem sob o interesse e zelo dos proprietários. É importante reconhecer que tal arquitetura não foi produzida em nenhum escritório de algum profissional da área. A maioria desses imóveis carece de um projeto arquitetônico e tampouco passaram por uma análise técnica rigorosa antes de ser edificada: é a arquitetura popular ou vernacular.

A arquitetura vernacular, popular ou tradicional, foi feita por mãos de construtores e carpinteiros anônimos que, majoritariamente, não estudaram ou passaram por alguma escola técnica, ou então, possuíam e possuem, associado a dons, a capacidade de pensar virtudes, técnicas e habilidades de “desenhar” na memória e construir moradias ou edificações para outros fins. Em geral, são edificações pensadas para as necessidades dos seus usuários. Tais “desenhos” constituíram-se da assimilação e transmissão das técnicas construtivas das gerações passadas e são coerentes com o uso de materiais e recursos disponíveis na época da construção. As concepções e construções de edificações vernaculares foram executadas num contexto de época carente de meios técnicos como os que estão disponíveis atualmente, de tal modo a mostrar coerência racional e pertinência aos valores sociais, econômicos e ambientais.

A arquitetura tradicional mais representativa na Região Sul do Brasil é aquela construída principalmente em madeira de araucária (Araucaria angustifolia), também conhecido como pinheiro-do-paraná, pinheiro-araucária, pinheiro-brasileiro, entre outras denominações.

O sistema construtivo parte de um esquema básico de estrutura volumétrica cúbica vedada com tábuas verticais e mata-juntas, além de diversas soluções de plantas e sistemas de coberturas. Esta arquitetura teve sua origem já na segunda metade do século 19, anterior ao ciclo econômico da madeira e da expansão da indústria madeireira, entre os anos de 1930 e 1950. Com o passar do tempo, as edificações em madeira passaram por transformações estruturais e formais, com a introdução de elementos de alvenaria, dentre outros.

 O interesse pela arquitetura vernacular nos meios acadêmicos constituiu-se com maior intensidade a partir da década de 1960, no contexto de crise da arquitetura do Movimento Moderno. Uma das questões críticas, em linhas gerais, referia-se ao projeto uniformizador e universalista da arquitetura moderna, que ignorava os valores locais e culturais das comunidades. Em nome da “modernização” do habitat, os parâmetros construtivos e espaciais das moradias foram padronizados, extinguindo os aspectos peculiares ou especificidades culturais e antropológicas das populações regionais. Entre muitos críticos, ganhou projeção o arquiteto Bernard Rudofsky (1905-1988) e sua exposição “A arquitetura sem arquiteto”, em 1964, no Museu de Arte Moderna (Moma), em Nova Iorque. As diversas imagens da arquitetura popular de todo o mundo demostraram a qualidade criativa e o valor cultural desta arquitetura. A nível institucional, o Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios – Icomos –, vinculado à Unesco, em sua Carta del Patrimônio Vernáculo Construído (1999) evidencia a importância da arquitetura tradicional ou vernacular para as comunidades do mundo, situando os princípios de conservação e as linhas de ações possíveis.

A arquitetura tradicional ou vernacular, por suas características, está em risco de extinção. A crescente “modernização” das formas de habitar, a formalização do processo construtivo, a difusão das novas técnicas e materiais, além das novas pautas e valores em torno da moradia são alguns fatores determinantes. Por outro lado, os instrumentos de preservação e conservação dos bens de interesse patrimonial, a nível de políticas públicas, priorizam imóveis singulares do ponto de vista histórico, artístico e arquitetônico.

Conhecer, reconhecer e valorizar a arquitetura vernacular, deste modo, é fundamental para entender a cultura do habitar e de nossa identidade sociocultural regional. Para concluir, vale trazer para o conhecimento público o que diz a Carta del Patrimônio Vernáculo Construído: “ O patrimônio tradicional ou vernacular construído é a expressão fundamental da identidade de uma comunidade, de suas relações com o território e ao mesmo tempo, a expressão da diversidade cultural do mundo”.

*João Ricardo Licnerski é arquiteto e urbanista e doutorando do Programa de Doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado.

**Jairo Marchesan é doutor em Geografia e docente no Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado.

***Argos Gumbowsky é doutor em Educação e docente no Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado.

- Ads -
Olá, gostaria de seguir o JMais no WhatsApp?
JMais no WhatsApp?