Investigação aponta que dados eram atualizados de acordo com cada pagamento em dinheiro realizado
Informações oficiais presentes na denúncia do Ministério Público (MP) contra o prefeito de Três Barras, Luiz Dinvonsir Shimoguiri (PSD), e na decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) acatando a denúncia do MP contra o prefeito de Major Vieira, Adilson Lisczkovski (Patriota), apontam que uma funcionária do Grupo Serrana também envolvida no esquema investigado pela Operação Mensageiro mantinha uma planilha atualizada com os valores em propina pagos aos prefeitos.
De acordo com o documento do TJSC, haveria uma organização logística para os pagamentos, após os empenhos pelos municípios, com a produção de notas fiscais frias para a volta de parte dos valores empenhados para os agentes públicos, nos repasses em forma de propina.
A investigação apontou que após a logística financeira ser realizada internamente por diversos funcionários do Grupo Serrana que tinham conhecimento do envolvimento ilegal da empresa com as prefeituras, os valores eram repassados a uma funcionária também integrante do esquema que detinha a função de organizar os pagamentos, separando as quantias em envelopes próprios e normalmente identificados, além de lançar os valores correspondentes no controle gerencial informatizado da empresa em código próprio para o registro de propina aos agentes públicos.
Os próximos passos no trajeto dos envelopes contendo as quantias destinadas à propina, de acordo com as informações oficiais do MP, seriam para as mãos de um outro funcionário da Serrana, que na sequência repassaria os valores ao “mensageiro”, responsável por enfim se deslocar até pontos de entrega combinados, em geral nas próprias cidades de atuação de cada prefeito e realizar oficialmente os pagamentos aos agentes públicos envolvidos no esquema, em troca do favorecimento do grupo empresarial na cidade para a qual foi eleito.
DETALHAMENTO DOS PAGAMENTOS E REAJUSTE DE PROPINA A SHIMOGUIRI
A denúncia do Ministério Público (MP) contra Shimoguiri traz informações de que o valor acordado entre ele e os representantes da Serrana envolvidos no esquema seria de R$ 12 mil, sendo R$ 5 mil provenientes do contrato do serviço de coleta de lixo e R$ 7 mil provenientes do serviço de água na cidade de Três Barras. Cada um dos 20 encontros entre Shimoguiri e o “mensageiro”, entre os anos de 2017 e 2021, teria sido registrado na tal planilha da Serrana, organizada por uma funcionária do grupo também envolvida no esquema.
Depois de cinco anos do recebimento de propina em pagamentos bimestrais ou trimestrais ainda com o valor inicial acordado, Shimoguiri teria marcado uma reunião com representantes da Serrana e pedido um aumento – sendo R$ 9.500 no contrato de manutenção do sistema de água e R$ 7.500 pelo contrato de coleta de lixo, totalizando o novo acordo em R$ 17 mil mensais. Esse “reajuste” no valor da propina também foi registrado pela mesma funcionária da Serrana na mesma planilha mantida para controle interno da organização criminosa, recuperada por equipes da Polícia Científica.
REGISTRO DOS VALORES PAGOS AO PREFEITO ADILSON
No caso do prefeito de Major Vieira, Adilson Lisczkovski (Patriota), as informações presentes na decisão TJSC por acatar a denúncia do MP apontam que o valor inicialmente solicitado por ele para favorecimento dos interesses do Grupo Serrana no município teria sido de R$ 10 mil mensais, porém o acordo final entre as partes teria sido de R$ 5 mil mensais em propina. Tal acordo também foi registrado pela funcionária da Serrana responsável por organizar os pagamentos no controle gerencial informatizado da empresa e em planilhas secretas.
INVESTIGAÇÃO, DENÚNCIA, PRISÃO E POSSÍVEL CASSAÇÃO
Shimoguiri segue denunciado, mas ainda não se tornou réu da Operação Mensageiro. Ele foi preso em 27 de abril deste ano na quarta fase da operação acusado de se envolver em uma relação ilícita para favorecer a Serrana Engenharia nas contratações para coleta e destinação de lixo em Três Barras e para o saneamento por meio da estatal Samasa.
Adilson se tornou réu da Operação Mensageiro nesta semana, após o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) ter acatado a denúncia registrada pelo Ministério Público (MP). Equipes do Gaeco prenderam o prefeito no dia 27 de abril de 2023 e ele permanece preso até o momento. O pedido de cassação do mandato de Adilson será votado pela Câmara de Vereadores de Major Vieira na próxima terça-feira, 1º de agosto.
A funcionária da Serrana responsável por organizar em planilhas as informações referentes aos pagamentos de propina foi denunciada juntamente com outros colaboradores da empresa envolvidos no esquema, assim como o próprio “mensageiro”, e pode responder por envolvimento direto com organização criminosa e corrupção ativa.