A posição de cada estado é um processo histórico
Walter Marcos Knaesel Birkner*
Ano a ano, o Centro de Liderança Pública (CLP) divulga o Ranking de Competitividade dos estados brasileiros (e também dos municípios). Trata-se de um levantamento de índices que diagnostica os pontos fortes e fracos do desenvolvimento dos entes federativos. Governantes inteligentes têm se inspirado nisso pra governar melhor. O relatório estimula à competitividade salutar e serve para o nosso entendimento político e sociológico. Tradicionalmente, Santa Catarina aparece no podium. Vamos ver como estamos no ranking CLP 2024.
O índice reúne 100 indicadores, distribuídos em dez categorias, chamadas pilares, sendo eles: 1) segurança pública, 2) infraestrutura, 3) sustentabilidade social, 4) educação, 5) solidez fiscal, 6) eficiência da máquina pública, 7) sustentabilidade ambiental, 8) capital humano, 9) potencial de mercado e 10) inovação. Não por acaso, mas por inteligência, esses pilares e seus indicadores têm uma correlação sistêmica, algo muito bem pensado e elaborado, com a finalidade de medir a capacidade cívica e econômica de uma sociedade e de sua governança.
De fato, os governos estaduais e municipais mais atentos têm se baseado nesse diagnóstico e mencionado o ranking na mídia, para explicar seus sucessos na gestão pública. Espírito Santo, Paraná e Goiás vem num crescendo, em boa parte porque seus governantes apreciam a estatística, não sendo os únicos. A realidade diagnosticada também é produto da sociedade, mas bons governantes ajudam ao governar por diagnósticos estatísticos, tomando decisões estratégicas que interferem nos resultados, ano a ano.
Veja-se os dez primeiros colocados no ranking deste ano:
1º | São Paulo |
2º | Santa Catarina |
3º | Paraná |
4º | Distrito Federal |
5º | Rio Grande do Sul |
6 | Espírito Santo |
7º | Minas Gerais |
8º | Goiás |
9º | Mato Grosso do Sul |
10º | Mato Grosso |
Como se vê, Santa Catarina figura bem, permanecendo no podium, como nas edições anteriores. Desde a sua primeira edição, em 2015, o podium é ocupado pelas mesmas quatro unidades federativas, quais sejam, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal. Somente a ordem classificatória foi alterada entre eles. Santa Catarina começou em 3º lugar e assumiu a segunda posição em 2017, nela permanecendo. São Paulo sempre esteve em 1º lugar e Paraná e Distrito Federal alternaram os 3º e 4º lugares.
É útil lembrar que não apenas governantes usam esses diagnósticos. Na orientação de suas decisões estratégicas, investidores nacionais e estrangeiros consultam índices, em busca de oportunidades de negócios, compra, venda, instalações empresariais e de expansão das atividades. Isso inclui também a decisão de onde residir, onde estudar, pra onde viajar, que destinos conhecer, de quem falar bem ou mal etc. Em geral, os pilares acima mencionados são referências importantes, pra não dizer decisivas, sobre que estados, quais cidades geram maior confiança.
Os indicadores que constituem os 10 pilares da competitividade também são fundamentais para avaliar vantagens e ou constrangimentos para o crescimento de cada estado e município do País. Permite entender porque, por exemplo, um estado como Santa Catarina cresce, mas também porque não cresce mais, sabendo o que falta, onde governos acertam ou erram. Nesse sentido, esses índices deveriam estar sendo estudados com rigor científico nas graduações das instituições de ensino superior.
Vejamos, agora, quais são os estados campeões em cada um dos pilares e como está Santa Catarina em cada um deles, separadamente:
Pilar | 1º colocado | Posição de SC |
Solidez fiscal | Espírito Santo | 7º |
Sustentabilidade ambiental | Paraná | 10º |
Potencial de mercado | Tocantins | 10º |
Eficiência da máquina pública | Rio Grande do Sul | 3º |
Inovação | Rio Grande do Sul | 4º |
Infraestrutura | São Paulo | 3º |
Educação | São Paulo | 9º |
Segurança Pública | Santa Catarina | 1º |
Sustentabilidade Social | Santa Catarina | 1º |
Capital humano | Santa Catarina | 1º |
No próximo artigo, interpretaremos a posição de S₢ em alguns dos pilares. Há observações importantes a fazer. Por enquanto, vale dizer que a posição de cada estado é um processo histórico, de antes e além de governos que, contudo, têm grande parcela de responsabilidade, pro bem e pro mal. Se podemos reconhecer o zelo de governos, devemos reconhecer o ethos de cada sociedade. A posição catarinense é, a um tempo, resultado de governos zelosos e de uma sociedade ativa. E, isso nos remete aos dois pressupostos básicos desta coluna: o capital social e humano que fazem de Santa Catarina o estado “bola 8” do desenvolvimento.