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A COLUNA ESTÁ DE FÉRIAS. VOLTA A PUBLICAR TEXTOS INÉDITOS EM 1º DE FEVEREIRO DE 24. ATÉ LÁ, TEXTOS DE 2023 SERÃO DESTACADOS COMO ESTE, POSTADO ORIGINALMENTE EM 9 DE ABRIL

Sociedade está doente, mas atitudes hediondas como esta não podem ser tomadas como culpa de terceiros

A BANALIDADE DO MAL

COLUNA DE DOMINGO Hannah Arendt solidificou em um termo uma constatação que parece mais atual do que nunca: a banalidade do mal. Hannah foi chamada para assistir e escrever sobre o julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pelas atrocidades cometidas pelos nazistas. Foi nesse grande momento que ela escreveu sobre a Banalidade do Mal, sobre o mal banal do indivíduo.

A filósofa buscava a compreensão da origem do nazismo, a partir das inquietações sobre os regimes totalitários. Depois de acompanhar de perto o julgamento e muito estudar, chegou à conclusão sobre o mal de Eichmann. O mal que ele praticava não era um mal demoníaco, mas era um mal constante que fazia parte da rotina dos oficiais nazistas como instrumento de trabalho. Ou seja, a banalidade do mal é um mal que virou comum de ser praticado.

Hannah acreditava que o a justificativa de Eichmann para praticar o mal seria a ascensão a regimes totalitários e a banalização da razão e coerência do ser humano. Eichmann era obcecado por poder e ascensão social, faria qualquer coisa para ser reconhecido e ter sucesso, mas esse desejo de sucesso é o que levaria a praticar o mal. Era por essa razão que ele deveria ser punido. Incapaz de fazer o bem, ele praticava o mal, primeiro por ser o que se tinha de mais premente no momento e, segundo, porque nasceu com essa predisposição. Se o ambiente influenciou, pouco importa, a ascensão do nazismo encontrou um fiel aliado.

Escrevo sobre essa teoria filosófica para tentar entender o que leva um motoboy de 25 anos a invadir uma creche e matar quatro crianças a golpes de machadinha. Antes de tudo, na minha visão, está o mal intrínseco a essa pessoa desde que nasceu. Não se trata de possessão demoníaca ou sei lá o que. Creio que temos de nos acostumar a pessoas assim. Pode acontecer em um lar desestruturado ou em uma família abastada. O mal nasce, cresce, se ramifica e tem como estopim atos bárbaros como o da semana passada.

Se a rede social, a deep web ou companhias na escola influenciam, creio que tenha pouca relevância diante do mal genuíno. Ele encontra, apenas, boas condições de se fortalecer, de se encorajar, quando encontra grupos que o apoiam, mas o mal está ali desde o nascimento. Na infância dá sinais nos maus-tratos ao gato ou cachorro da família. Na escola se traduz nas tantas chamadas porque agrediu os coleguinhas e, na vida adulta, via de regra, se traveste de silêncio e um ódio profundo acalentado e que, por vezes, se exprime em atos violentos.

Se estou certo, tudo isso torna o problema maior ainda. Um colossal desafio às autoridades: criar políticas públicas para fazer frente à banalidade do mal. Já escrevi sobre isso, e reforço: não é facilitando porte de armas que combateremos este problema. Se por um lado isso aumenta a sensação de segurança para alguns, por outro, abre precedente para malucos andarem armados. Mas este é apenas um aspecto do amplo e complexo problema que se torna cada vez mais frequente no Brasil. Creio que a família tem papel fundamental nisso, ao ter frieza para identificar o problema dentro de casa e procurar ajuda. O que se fazer a partir de então é uma pergunta que, creio, nem os especialistas têm respostas prontas. Mas é preciso tentar.

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