domingo, 28

de

abril

de

2024

ACESSE NO 

O legado de Telma Regina Bley

Últimas Notícias

Ex-vereadora e ex-secretária de Saúde de Canoinhas morreu neste domingo, 31

SAUDADES

- Ads -

Por longos 12 anos, Telma Regina Bley, morta vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) neste domingo, 31, comandou a Secretaria de Saúde de Canoinhas. Não é para qualquer um. Só mesmo uma mulher forte, de fibra, que mesmo contra a corrente nadou para ver as coisas funcionando de uma maneira melhor, principalmente para os menos favorecidos pela sorte, daria conta de mais uma década à frente da mais difícil pasta dentre todas as Secretarias Municipais.

Não foram poucas as vezes que Telma desanimou, mas nunca desistiu.

Conhecia-a em 2004, quando comecei minha carreira trabalhando no jornal Correio do Norte. Havia agendado uma entrevista com o então secretário de Saúde, Tino Alexandrina. Telma já trabalhava na pasta. Foi ela quem me recebeu. Senti-me tão lisonjeado. Telma foi uma das primeiras (acho que a primeira) pessoa a me reconhecer pelo jornal. “Você não é o Edinei Wassoaski?”, perguntou com toda aquela gentileza que lhe era peculiar. Como toda pessoa que ouve seu nome como uma agradável música, abri um sorriso e já simpatizei com quem seria uma das minhas melhores amigas. Uma amizade improvável considerando a separação que sempre busco fazer entre minha profissão e minhas fontes. Telma, como secretária, era uma fonte primária importante. Mas isso nunca foi problema. Certa vez foram vazadas conversas de WhatsApp em que Telma e outros emedebistas se ressentiam da vitória de Beto Passos em cima de Beto Faria. Como relevante jornalisticamente, o conteúdo foi postado no JMais. Telma chegou a chorar ao me explicar que nada tinha a ver com aquilo, mas nunca usou da nossa amizade para pedir que algo fosse colocado ou retirado do site. Deu a mim uma das coisas que mais me fazem admirar qualquer amigo: o respeito pela minha profissão.

Como secretária de Saúde, não há o que dizer. Com todo o respeito aos demais, Telma foi, sim, a melhor profissional à frente desta pasta pelo menos na história recente. Foram muitas conquistas. Policlínica, Unidade de Pronto Atendimento, postos de Saúde, o Samu… Mas o que mais dá mérito a gestão de Telma foi seu tratamento com os que mais precisavam. Chegou a dar o número do seu celular particular para o povo fazer reclamações. E vieram muitas. Todos sabem que a Saúde é a pasta em eterna construção, nunca pronta e jamais 100% satisfatória aos olhos do povo. Basta um olhar atravessado de uma enfermeira para a gritaria começar nas redes sociais. Mas Telma, por mais sensível que fosse (e, acreditem, era muito sensível), aguentava tudo de cabeça erguida. Engolia o choro e explicava onde estava o problema, apontando a possível solução.

Eleita vereadora, com mais de mil votos, Telma não deixou o serviço público, que era uma das suas paixões. “Adoro atender o povo”, me disse quando foi auxiliar na Secretaria da Habitação, já no governo Beto Passos. Aliás, embora ela tivesse suas diferenças com Passos, o então prefeito chegou a pedir para ela continuar à frente da Saúde, colocando de lado as diferenças políticas, mas Telma achou que era hora de dar chance a outras pessoas. Poderia estar à frente da pasta até hoje, se assim quisesse.

Como vereadora, Telma teve a mesma conclusão que outra valiosa pessoa que infelizmente já nos deixou. Vagner Trautwein divergia de Telma em vários pontos, mas os dois eram pessoas éticas, corretas e realmente dedicadas a fazer a diferença. Ambos desistiram da política no primeiro mandato. Mesmo com potencial para a reeleição, arrumaram suas coisas e voltaram para casa. Desiludiram-se com a política de tal modo que juraram – e cumpriram – jamais voltar. Os motivos são os mesmos que fazem muitos brasileiros odiarem votar.

Na vida pessoal, Telma não tinha paixão maior que os filhos. A formatura em Medicina da filha Bruna a levou ao êxtase. Francisco, iniciando a vida, enchia a mãe de orgulho. “Você precisa ver eles, Edinei”, disse-me há duas semanas, quando tivemos nossa última conversa.

A última conversa, como saber quando ela chegará? Na dúvida, faça o que fez Telma, encerrando o bate-papo com palavras gentis, de encorajamento e um infalível “te amo” ao final. Vai deixar saudades, minha grande e eterna amiga. Que seu legado seja preservado e sempre lembrado como uma inspiração dentro do serviço público.

- Ads -
Olá, gostaria de seguir o JMais no WhatsApp?
JMais no WhatsApp?