Ele era funcionário da cooperativa de alunos do Cedup Vidal Ramos
Um funcionário da Cooperativa Escola dos Alunos do Centro de Educação Profissional Vidal Ramos (Coopesa) foi demitido sumariamente após uma aluna, menor de idade, ter denunciado ele por tê-la assediado sexualmente. O caso foi registrado em 20 de setembro e desde a semana passada o JMais acompanha o caso ouvindo diferentes pessoas envolvidas.
O pai da menina foi até o colégio e, bastante nervoso, decidiu retirá-la da escola. Ela foi transferida para outra escola estadual.
O caso foi o estopim para uma situação que vem se agravando desde 2019, quando aconteceu a eleição para a diretoria da escola. Uma ala de pais e professores contrária ao diretor João Carlos Martins aproveitou o episódio para apontar o que seriam falhas de sua gestão. Segundo fontes ouvidas pelo JMais na condição de anonimato, o diretor seria condescendente com situações com estas, estabelecendo um clima de misoginia e machismo dentro da escola. Em entrevista a reportagem, ele nega. João Carlos confirma o episódio envolvendo a menor e diz que não caberia a ele demitir o acusado, mas à diretoria da Coopesa, que de imediato, ao saber do caso, demitiu o homem sumariamente. Um aluno testemunhou a cena e detalhou a diretoria da Coopesa, que é formada por alunos da instituição.
Segundo a menina e a testemunha, o abuso teria iniciado na sala de ovos com piadas e insinuações, que evoluíram para uma tentativa de agarrar a menina que, de imediato correu para a sala de aula e chamou seu pai. Além do procedimento estabelecido de imediato pela comissão de fiscalização da Coopesa, o pai da menor registrou um boletim de ocorrência na Delegacia. O acusado nega que tenha cometido abuso contra a menina.
COOPESA
A gerente regional de Educação, Cleide Alberti Gonçalves, disse que desde que o caso veio à tona, até a sexta passada 14 atas denunciando o que os denunciantes (pais e professores) consideram arbitrariedades do atual diretor foram registradas. Eles começam questionando o método que levou a contratação do suposto abusador, o que leva a um questionamento antigo sobre o modelo de gestão da Coopesa, que é coordenada por alunos (todos maiores de idade ou emancipados, segundo o diretor da escola) e que tem entre os oito funcionários uma filha de João Carlos.
O diretor se defende afirmando que sua filha foi contratada pela Coopesa, que tem total liberdade de gestão sem sofrer qualquer ingerência da sua parte.
Pais de alunos já haviam procurado o JMais anteriormente para reclamar do fato de terem de pagar R$ 400 mensais para alimentação considerando que a comida vem do Governo do Estado e que o dinheiro gerado pela Coopesa é revertido em melhorias para todos os alunos. Além disso, eles reclamam da qualidade da comida, chuveiros queimados e colchões ruins (os meninos pernoitam no colégio). João Carlos diz que a comida que o Estado manda é insuficiente e precisa ser complementada. Sobre o dinheiro arrecadado pela Coopesa, ele diz que, também, é insuficiente para cobrir todos os custos do colégio, até porque, a maior parte do valor é destinada para compra de insumos como ração, combustível, máquinas, medicamentos, sementes e os próprios animais.
Para muitos pais, a conta não fecha. No dia da família na escola, João Carlos disse (e confirmou a reportagem) que mais de 200 dúzias de ovos são coletadas por dia da granja de aves. Há ainda produção de queijos e outros derivados do leite, além de extensas plantações que cultivam culturas sazonalmente.
Sobre a prestação de contas da Coopesa, a responsável explica que é feita anualmente, sempre no mês de março. A publicização dos dados, contudo, é restrita aos 195 alunos que, via de regra, são todos cooperados a partir do momento em que ingressam na escola.
ELEIÇÃO
Para João Carlos, seus desafetos estão aproveitando o episódio para desestabilizá-lo diante da comunidade escolar considerando que em novembro acontece nova eleição para a direção das escolas estaduais. Essa eleição é direta, ou seja, toda a comunidade escolar vota. João Carlos disse que é candidato. “Estou nesta escola há 29 anos, 25 só de sala de aula. Essa escola me deu muita coisa e quero ajudar. Assumimos a escola com a Coopesa tendo uma dívida altíssima, que foi paga. Reorganizamos a escola”, afirma.
O Cedup Vidal Ramos é um dos cinco que existem no Estado de Santa Catarina. Segundo João Carlos, todos têm cooperativa de alunos no mesmo modelo da Coopesa.
PROVIDÊNCIAS
Cleide diz que o Nepre, uma ferramenta de apoio para o registro das situações de violências na escola, eliminando formulários físicos, está acompanhando a menina e que as atas que denunciam diferentes situações, boa parte delas envolvendo o diretor do Cedup, estão sendo compiladas e que a Coordenadoria não ficará omissa diante da situação. Ela não adiantou, contudo, que providência pretende tomar.