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Há 150 anos, uma família italiana chega ao Brasil – parte 2

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A grande maioria optou por continuar o roteiro inicial

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Leia aqui a primeira parte

Felizes subiram a Serra do Espigão! Um grito soou de suas estupefatas gargantas ao depararem-se com a magnífica pradaria planaltina à sua frente. Um gélido vento perpassou por sua espinha. Encontravam-se a mais de mil e cem metros de altitude em um clima igual ao da Itália de onde vinham.

 Felizes deslizavam pelos campos de Lages. Algumas famílias, de tão entusiasmadas que ficaram com a região, decidiram por ali permanecer. Outros descobriram uma antiga trilha indígena que começa bem no alto de uma montanha de onde se enxergava o mar. Decidiram descer por aqueles tortuosos e íngremes paredões. Formaram as primeiras povoações italianas do sul do estado de Santa Catarina.

A grande maioria optou por continuar o roteiro inicial. Após atravessarem os campos de Lages depararam-se com uma íngreme descida que findava nas margens de um largo e grande rio. E agora? Como atravessá-lo com toda a carga que levavam?

Foi então que descobriram a balsa. Acamparam às margens do rio Uruguai e só no dia seguinte conseguiram efetuar a travessia.

O entusiasmo era o seu guia. Pradarias sem fim cobertas já com uma fina camada de gelo ao amanhecer. Um sol esplendoroso a ofuscar-lhes a visão. Sua trilha seguia ao largo de grandes estâncias. Todas cercadas com muros de pedras brutas empilhadas. Pedras vindas em carretos puxados por mulas que peões traziam de riachos e serras distantes.

Um crepúsculo de entontecer, como jamais haviam visto, encontrou-os no ponto final de sua viagem, o chamado Campo dos Bugres, local que até então era a morada dos índios caingangues.

Não tinham certeza se as mudas e sementes de videiras que, com tanto, cuidado, trouxeram da Itália, ainda tivessem força em seu seio para vicejarem nas terras gaúchas.

Com todo o carinho e pedindo que do Alto viessem as boas energias, no fértil solo colocaram as sementes e colocaram as mudas.

Quando as primeiras videiras mostraram suas carinhas para o sol, em pranto ajoelharam-se. E em uma carta ao Padre Archangello, da Basílica de San Michelle, em Verona, na Itália, contaram de sua felicidade.

Ao receber a notícia, o velho pároco correu a contar a notícia aos pais de Thereza. Há quantos anos já seus amigos haviam partido. E nunca mais deles tivera notícia.

Na Itália a vida ia de mal a pior. A terra exaurida já pouco produzia. O furacão conhecido como Revolução Industrial inebriava jovens e adultos. Iniciava-se uma nova vida. Não mais teares em que se levavam preciosos dias para se fazer um tecido. Agora as fábricas colocavam nas vendas fardos e fardos desde as mais finas sedas até as mais festejadas casimiras em curto espaço de tempo.

E dentro de galpões sem ventilação, ao lado de máquinas movidas a carvão, por dezesseis horas diárias o mundo dos trabalhadores era encontrado. O mundo dos que antes aravam a terra e viviam do leite e seus derivados.

Não tardou para que a pneumoconiose, a tuberculose e demais doenças associadas à poeira do carvão, à emissão de gases patológicos e ao confinamento em locais insalubres e sem ventilação adequada iniciassem a sua sanha assassina.

Uma associação de perniciosos fatos abriu os olhos de multidões de amigos e compatriotas de Alicia, de Luigi, de Mariana e de Enrico. E levas e levas de italianos apresentavam-se para vir trabalhar nesta terra prometida chamada Brasil.

Foi nesse tempo que Thereza conheceu Marcelino. E com ele partiu para uma nova vida na América.¹

Estava Thereza em uma tarde na cozinha de sua trattoria, ao lado da estação ferroviária de Curitiba, quando ouve uma algaravia de crianças na sala de refeições. Correu para ver o que estava acontecendo e deparou-se com sua velha amiga Alícia e de mais uma porção de gente que não parava de falar.

Após abraços emocionados e muitas lágrimas, Alícia apresentou a Thereza os demais integrantes da buliçosa caravana.

Alícia viera com seu filho Giordano, sua mana Edviga e sua sobrinha Olga.

— Sabe Thereza minha mana e eu encontramos por aqui dois irmãos Righettos, vindos de Napoli e casamos com eles. E você aqui com esta linda menina…

— Minha Neninha. Tem o nome da mãe de Marcelino, Petronilla, e mais Rosina. A minha Neninha.

Passaram-se anos. Thereza foi morar na estação Canoinhas, hoje Marcílio Dias e os Righettos foram trabalhar no escritório de uma serraria americana na vila de Três Barras.

Reviveram a antiga amizade e com muita macarronada e uma taça de vinho brindaram à nova vida nesta terra de sonhos chamada Brasil.

¹ Para detalhes vide o livro “Nas Fímbrias do Tempo”

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