Todo atentado é antes de tudo um ataque contra a própria vida
Wellington Lima Amorim*
Caros leitores,
Já perceberam que a mídia e a indústria do entretenimento estão demasiadamente preocupados com as joias do Bolsonaro? O que significa se preocupar-se com as joias de alguém? No Caso Dora, Freud nos relata um sonho onde uma caixa de joias tem um papel fundamental na representação da genitália humana, ou seja, onde há fogo existe desejo. Essa obsessão pelas joias do ex-presidente pode significar algo. Parece-me óbvio o desejo de impor a lei ao ex-presidente, castrá-lo. Antes de tudo nos parece o desejo de alguns setores da sociedade em despotencializar alguém que aparentemente possui potência em demasia, sequer retirar sua potência, sua imbroxabilidade. Todavia, qual o arquétipo ou imaginário que o ex-presidente representa para algumas pessoas?
Talvez, seja o discurso retórico de implantação de um Estado onde a virilidade fará com que a justiça possam imperar. Por outro lado, existe o perverso que conhece a lei, mas não a usa como dispositivo de justiça, burla a própria lei com a lei, que está submetida ao seu desejo. Parece-me que nos últimos tempos existe uma força social que busca despontencializar os cidadãos, ou ainda, tirar a potência de vida do cidadão comum transformando o mesmo em animal laborans, mecanizado, cumpridor de seus deveres, operativa e burocraticamente.
Com isso, seguindo esta cartilha, Santa Catarina se reconhece em um Estado castrador, obtendo como resultado a menor taxa de pobreza do país em oposição ao Estado do Maranhão, esse último com o maior número de pobres. Santa Catarina desponta novamente com tendo segundo menor índice de criminalidade em oposição ao Estado do Amapá. Por fim, “Entre os dez pilares do levantamento, Santa Catarina obteve o primeiro lugar em dois (Segurança Pública e Sustentabilidade Social), segundo lugar em dois (Eficiência da Máquina Pública e Educação) e terceiro em mais dois (Infraestrutura e Inovação). Os demais pilares do ranking são Sustentabilidade Ambiental, Potencial de Mercado, Solidez Fiscal e Capital Humano.
Entre os três estados do Sul, o Estado lidera em sete dos dez pilares: Segurança Pública, Sustentabilidade Social, Eficiência da Máquina Pública, Educação, Solidez Fiscal, Infraestrutura e Potencial de Mercado. Nos demais, SC aparece em segundo lugar.” Para que Santa Catarina tenha obtido esses índices de desenvolvimento humano foi preciso antes de tudo que a lei interna, sentido kantiano, e externa, de um ponto de vista positivista, fosse o norte da sociedade. Por que realizo tais comparações? Eu morei e lecionei em Blumenau/SC e São Luis do Maranhão, e por isso, me sinto à vontade de realizar esta análise.
Em Santa Catarina, especificamente Vale do Itajaí, a lei é presente em todas as esferas da sociedade, desde as relações interpessoais ao poder público, em contraste ao Estado do Maranhão, onde a Justiça se apresenta precária e incapaz de atender as diversas demandas que a criminalidade impõe a Sociedade. Do lado oposto está Florianópolis provavelmente a cidade que mais faz uso recreativo de maconha do país depois de São Luís. Lembrando que na obra Estrutura perversa e Toxicomania, inspirados no pensamento do Psiquiatra e Psicanalista Joel Birman nas obras Dionísio desencantado e Feitiço e feiticeiro no pacto com o diabo, a toxicomania corresponderia à estrutura da perversão. Se pensarmos na cultura do Reggae em São Luis, que tem base a cultura do desafio a lei estabelecida pelo Estado e no uso recreativo de substâncias psicoativas, o Bar do Nelson no Centro Histórico da cidade é um Templo da Perversão. Ou seja, são dois extremos que podem explicar duas visões de Estado totalmente diferentes. Penso que estamos diante da luta de dois funcionamentos psíquicos expressos pela cultura que estão se digladiando na sociedade brasileira: Uma guerra cultural entre neuróticos obsessivos e perversos. O perverso não nega a realidade, mas burla a lei para submeter todos ao seu desejo. Assim, de lado do ringue está Santa Catarina, preocupada em manter neurótica e obsessivamente seus índices, realizando seu trabalho, sem muita reflexão, apenas um animal laborans, produtor de riqueza material.
De outro estão os perversos que psiquicamente não suportam a lei e precisam desafiar o que foi duramente conquistada desde que os primeiros colonizadores alemães chegaram no Vale do Itajaí. Isso talvez possa ser o indício, injustificável, de um rapaz de 25 anos entrar em uma creche e matar várias crianças de 4 a 5 anos de idade. Penso que todo atentado é antes de tudo um ataque contra a própria vida. Pois o facínora sabe que o desfecho para sua existência será a pior possível. Este ato terrorista, na minha opinião, não representa o funcionamento psíquico de um surto psicótico, mas de um perverso. O assassino tinha plena consciência das consequências de seus atos, se entregando a delegacia após cometer tais assassinatos brutais.
Então, por que realizou tal ato abominável? Pela crença, (não necessariamente a crença tem fundamento) de que sua vida é vazia de sentido, abominável, que não vale ser vivida, uma vida que foi reduzida a um animal laborans. Diante deste niilismo como a vida pode ficar pior em um cárcere? Por isso, ele possui a crença inabalável de estar cometendo um ato “heroico”, ato que somente é cometido por aqueles que não tem coragem de colocar uma bala na boca ou se enforcar sozinho no banheiro de casa. São pessoas solitárias, encarceradas em si mesmas, que acolheu seu ódio como um totem sagrado. Enquanto, estamos mais preocupados com as joias, genitália, do Bolsonaro, ou melhor, conter sua virilidade. Será que não reside aí uma inveja, de alguns perversos, de seu falo? Como diria Freud a inveja do pênis pode ser a reação de uma garotinha que durante seu desenvolvimento psicossexual percebe que não possui a capacidade de ser viril.