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Entre a oposição política e a vingança

Imagem:Arquivo

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As consequências da batalha que opositores de Juliana Maciel aparentam querer lutar

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Começo a coluna de hoje fazendo um exercício de retorno no tempo, retrocedendo a dezembro do ano passado, e, mais especificamente, a última sessão da Câmara de Vereadores. Naquela ocasião, o governo da recém-eleita prefeita Juliana Maciel (PSDB) tinha apenas começado, e a última sessão do ano definiria um ponto de extrema importância para qualquer governante do poder executivo, qual seja, a eleição do presidente da casa legislativa – responsável por pautar os assuntos e projetos de lei que circularão naquele espaço.


Com relação a este pleito, dois nomes estavam postos na disputa: a da vereadora Tatiane Carvalho (MDB) e do vereador Wilmar Sudoski (PSD). Muito mistério se fazia entorno dessa disputa, já que havia posições indefinidas e votos de Minerva pelo ar. Estimulado pelo mistério, fui assistir a sessão presencialmente. Chegando lá, no entanto, a situação que vi foi bem outra. Com efeito, não tardei a descobrir que um acordo de última hora fora firmado para garantir a candidatura única, e, consequente vitória de Tatiane Carvalho ao principal cargo da Câmara. As bases deste acordo se deram nos seguintes termos: Wilmar Sudoski retiraria sua candidatura, dando vitória unânime a Tati, e em troca, obteria, juntamente com Silmara Gontareck (UNIÃO), algum cargo secundário na mesa diretora. Desse modo, todos saíam ganhando. A prefeita, por ver sua vida facilitada ao ter na presidência do legislativo uma aliada, Tatiane Carvalho, por razões óbvias, e Wilmar Sudoski, por ainda assim ter conseguido uma posição de influência.


O que me surpreendeu com relação a este dia, contudo, não foi nem este acordo (muito comum nos meios políticos, vale frisar), mas sim, o discurso de união que se procurou construir depois dele. Imersos no “clima natalino” que se fazia presente por aquela época, o ambiente pós eleição era festivo e pacífico. Vereadores, tanto da base do novo governo municipal quanto do anterior eram só alegria. Ressentimentos, tanto de um lado para com o outro pareciam ter ficado no passado, e todos juravam que passariam a trabalhar conjuntamente em prol do bem e do que fosse melhor para o munícipio. A palavra oposição parecia inexistir e o já referido discurso de união era de uma beleza plácida. Eu, que me encontrava na posição de espectador desse “espetáculo”, porém, não demorei a colocar nisso tudo um ponto de interrogação, no que cheguei à conclusão de que tal discurso não se sustentaria por muito tempo. Modéstia a parte, pode-se dizer que meu palpite se mostrou acertado, afinal de contas, quem quer que tenha visto alguma das primeiras sessões deste ano não percebe por ali nenhuma grande “união” – pelo contrário: o que se vê é um crescente conflito entre executivo e legislativo que pode custar caro a ambos os lados. Faço, daqui por diante, uma breve análise sobre este ponto.


No que concerne ao executivo, cumpre fazer nestas linhas alguns exercícios rememorativos também, sobretudo com relação ao contexto no qual se deu a eleição de Juliana Maciel. Recordemos que ela foi eleita num pleito excepcional, decorrente das acusações da operação Et Pater Filium, que retirou o então prefeito Beto Passos, e seu vice, Renato Pike, do jogo político, em função de um dos maiores esquemas de corrupção que envolveram o nome da cidade. Sua eleição, portanto, se deu num contexto traumático, no qual a população ansiava por uma renovação imediata. A escolha de seu nome se deveu principalmente a aguerrida oposição que manteve para com o governo Passos nos dois anos em que foi vereadora, e a pauta anticorrupção, que constitui uma de suas principais bandeiras. A expectativa em torno de sua figura, desse modo, era (e é) alta.


Todavia, a situação em que Juliana se encontra é bastante complexa: ela possui apenas curtos dois anos para mostrar serviço e tentar, com isso, a reeleição, além de ter encontrado um cofre quase vazio, por conta dos já referidos escândalos do governo anterior. Resta-lhe, assim, tempo e dinheiro apenas para empreendimentos mais modestos. Some-se a alta expectativa do povo a esse cenário negativo, acrescentando uma antiga base governista (outrora muito atacada por Juliana), que neste momento constitui maioria e que já dá mostras de que vai se tornar oposição, seja criticando obras e promessas dos quais a prefeita não consegue dar conta, seja barrando projetos, mesmo os mais simples, de seu interesse, e veja um desastre político acontecer. Numa conjuntura destas, o poder executivo fica estagnado e o descontentamento/frustração popular não tardam a se manifestar. Para piorar o quadro, sua base dentro da Câmara tem apresentado até então, apoios e defesas muito tímidos de suas ações na prefeitura.


Entrementes, as ações do legislativo, sobremaneira dos antigos governistas e agora vereadores de oposição, pode se converter num grande tiro no pé a depender do caminho que escolham trilhar. Isso porque, uma coisa é oposição e outra bem diferente, é vingança. Se optarem apenas por fazer oposição, no sentido de fiscalizar e cobrar o executivo, estarão em seu direito, ajudando, inclusive, a tornar saudável o ambiente democrático, controlando e impedindo a concentração de poder sob uma única instância. Agora, se o que se apresentar, for uma vingança coletiva pelo que se deu no passado, tecendo-se apenas uma crítica pela crítica, ou um indecoroso atravancamento de projetos e ações políticas que poderiam beneficiar a comunidade, muitos correm o risco de assinarem, neste ato, sua certidão de morte política. Isso porque, em tal caso, uma manobra nesse sentido pode acabar alçando a prefeita ao posto de vítima da história. A que tentou fazer, mas se viu impedida por um pequeno grupo político contrário aos interesses coletivos. Se souber propagandear tal perspectiva, é possível que retome de modo ainda mais significativo, o apoio que a oposição desejaria que perdesse.


Como no campo da política, não constitui fator tão relevante o fato em si, mas sim, a interpretação que se constrói sobre um fato e que ganha conotação de verdade no terreno do social, vencerá essa queda de braço, aquele que melhor souber disseminar sua narrativa para os diferentes extratos da população. Entretanto, encerro este texto, reiterando algo que já foi pontuado aqui: os custos políticos disso podem acabar resultando caro a ambos os lados. Faço, porém, uma ressalva: em se tratando de conflitos políticos mesquinhos, quem paga a conta maior, é sempre o povo.

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