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Empresário pagou R$ 120 mil para Passos e Pike pelo cargo de João Linzmeier, diz ex-secretário

Imagem:Arquivo

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Diogo Seidel disse que ouviu essa afirmativa de Pike, porque cargo não era do PL

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A colaboração premiada de Diogo Seidel, ex-secretário de Administração do governo Beto Passos, revelou um novo esquema criminoso de corrupção dentro da prefeitura de Canoinhas. Foi a partir desta delação que ocorreu a nona fase da operação, batizada de Maus Caminhos e que culminou na prisão de João Linzmeier, secretário de Planejamento do governo Passos.

Segundo a colaboração de Seidel, o empresário do setor de asfaltos Crystian Mokva, pagou R$ 120 mil para comprar o cargo que seria ocupado por Linzmeier. Seidel explicou que depois do pedido de exoneração de Rafael Roeder, já no começo de 2020, quando se intensificou a corrupção no governo, Mokva demonstrou interesse em indicar Linzmeier par ao cargo a fim de facilitar as ações ilícitas. O cargo, contudo, era cota do PSD de Passos. Pike contou a Seidel, segundo o ex-secretário, que para que Mokva pudesse indicar Linzmeier, precisaria pagar R$ 120 mil a título de propina para Passos. Mokva teria feito o pagamento e, assim, Linzmeier foi nomeado como indicado pelo PL, partido de Pike. A ideia era que Mokva pudesse fazer o que bem entendia com as obras licitadas para a empresa que ele representava, considerando que Linzmeier fazia vista grossa para as inúmeras irregularidades e atrasos. Como secretário de Planejamento, cabia a Linzmeier fiscalizar a execução de contratos do setor de obras.

Quando da prisão de Linzmeier, na casa dele foram encontradas anotações das obras da Prado & Prado, empresa que Mokva representava. São abreviações, números, valores e menções aos aditivos.

Mokva tem outra versão para o caso. Ele disse em colaboração premiada que ouviu de Pike que Linzmeier pagou R$ 100 mil para Passos pelo cargo. O valor teria sido emprestado por Pike para Linzmeier ir pagando aos poucos. Linzmerier, diz Mokva, sempre pedia pequenos valores (R$ 2 mil, R$ 3 mil) que, segundo o ex-secretário, seria para pagar Pike.

O ESQUEMA

Segundo o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), entre 18 de agosto de 2020 e 29 de março de 2022, Beto Passos, Renato Pike, Diogo Seidel, João Linzmeier e Chrystian Mokva, constituíram, integraram, promoveram e financiaram organização criminosa, associando-se de maneira estruturada e com divisão de tarefas, ainda que informal, com o objetivo de obter direta e indiretamente vantagens financeiras mediante a prática de corrupção ativa e passiva, além de lavagem de dinheiro.

Segundo o MPSC, Mokva procurou a instituição a fim de colaborar com as investigações, afirmando que pagava propina a Pike. Em seu depoimento, Mokva se disse cansado de ser ameaçado e que era amigo de Pike desde criança. Contudo, essa relação mudou quando Pike foi eleito vice-prefeito e passou a tratá-lo como uma fonte de renda.

Ele conta que, em 2017, fundou a Volpesa Construções e passou a participar de licitações da prefeitura iniciando o pagamento de propina que variava entre R$ 5 mil e R$ 10 mil diretamente para Pike. “De um dia para o outro Pike pedia R$ 10 mil”, contou, afirmando que chegou a entregar dinheiro de propina dentro da prefeitura. Isso lhe garantia enviar uma nota fiscal cedo para a tesouraria da prefeitura e o valor ser pago à tarde, passando na frente de outros credores.

Já Passos, segundo Mokva, recebeu R$ 20 mil de propina diretamente dele somente uma vez, mas o pedido foi feito por Pike. “O Beto, de vocês não vai pegar nada, pode ter certeza, ele tem medo que você grave, tem medo que você filme”, teria dito Pike a Mokva. Por isso, quando Passos viu Mokva com os R$ 20 mil, apenas abriu uma gaveta do gabinete e, sem dizer nada, Mokva depositou o montante na gaveta.

Com várias ações trabalhistas, a Volpesa passou a sofrer bloqueios de contas, o que levou a dificuldades financeiras. Foi quando ele procurou a empresa Prado & Prado e passou a representá-la em processos licitatórios de asfaltamento. Em Canoinhas, a Prado & Prado participou de três licitações, perdeu duas e ganhou a terceira, em valor aproximado de R$ 4 milhões. Foi aí que o valor das propinas recrudesceu. Pike teria recebido vários pagamentos de R$ 20 mil e R$ 30 mil por esta obra. Apesar de sempre pagar a propina para Pike, Mokva diz que o ex-vice-prefeito afirmava sempre que o valor era dividido com Passos.

IMPLICADO

Anotações demonstram superfaturamento planejado por Mokva, diz MPSC/Reprodução

Mokva foi implicado pelo ex-secretário de Administração Diogo Seidel que, em colaboração premiada, disse que o motivo por estar vestindo laranja (uniforme do presídio) era ter aceitado propina de Mokva.

Seidel explicou durante a colaboração premiada o que seria “tirar um caminhão”. Segundo ele, um caminhão de massa asfáltica tem mais ou menos 16 metros cúbicos de material de fato, mas Mokva elevava esse número para 30. Cada tonelada custa, em média, R$ 260, o que eleva a R$ 8 mil uma carga. O valor excedente seria desviado para caixa de campanha. Visitando uma obra, Seidel diz que ouviu de Mokva: “Diogo, você trabalha tanto, você é o secretário que mais trabalha e ganha igual aos outros, vamos tirar um caminhão para nós?”. O ex-secretário diz que fez que não entendeu, mas ao deixar o local ouviu a mesma proposta novamente.

Seidel entregou um papel com anotações feitas por Mokva de como superfaturar obras como a da rua Alfredo Mayer, contratada enquanto Pike assumiu a prefeitura nas férias de Passos em 2018.

O grosso da propina foi pago entre os anos de 2020 e 2021, quando a Prado & Prado assumiu obras no valor de R$ 16,3 milhões.


PEDÁGIO

Em sua colaboração premiada, Mokva conta que ao ganhar o primeiro processo licitatório de 2020, foi interpelado por Pike dizendo: “Ganhou, parabéns, só que assim, não esqueça que tem o pedágio de 8%, senão vai ser cancelado o contrato, posso mandar cancelar amanhã”.

Mokva afirma que pagou o “pedágio” para não perder a obra. Adiante, segundo promessa de Pike, o Município faria o chamado “reequilíbrio contratual”, um aditivo ao valor original como adequação a alta dos custos, como forma de ressarcir o “pedágio”.

Acumulando “pedágios”, Mokva conta que certa vez Pike lhe apresentou uma conta de R$ 1,180 milhão, que ele tinha de ir pagando em parcelas.

Ele não precisa o valor pago em propina, mas afirma que fez pagamentos de R$ 30 mil, R$ 50 mil, R$ 80 mil e até R$ 100 mil em dinheiro vivo, sempre entregue a Pike.

O PRESO

Anotações suspeitas em agenda de João Linzmeier/Reprodução

Único preso de fato na nona fase da Operação Et Pater Filium, o engenheiro João Linzmeier, que exercia o cargo de secretário de Planejamento desde 2020, também é acusado de participar do esquema. Ele foi preso em outubro e segue detido.

Ao comentar certa vez com Linzmeier que já tinha pagado mais de R$ 1 milhão em propina para Pike, Mokva disse que o ex-secretário contou sobre a conversa para Pike que, irritado, o chamou e o repreendeu, afirmando que ele perderia as obras e pagaria multa de R$ 3 milhões.

Ao firmar acordo de colaboração premiada, Mokva escapou da cadeia, assim como Seidel, que ganhou a liberdade logo que teve a delação homologada.

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