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Denúncia do MP detalha como Shimoguiri recebia e cobrava propina

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Vinte encontros foram registrados pelos investigadores entre 2017 e 2022

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Denúncia do Ministério Público (MP) mostra que Shimoguiri teria recebido propina do Mensageiro em ao menos 20 oportunidades de 2017 a 2022. Os investigadores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que é o braço armado do MP, interceptaram contatos telefônicos entre o prefeito e o “mensageiro” que indicariam as datas de pagamento da propina.

O “mensageiro” se identificava como “Paulo de Curitiba”, que não é seu nome verdadeiro, por motivo que ainda não foi identificado pela investigação uma vez que o próprio “mensageiro” afirmou em sua delação que não sabia ser parte de um esquema criminoso.


TODO CUIDADO É POUCO

Segundo os investigadores, com Shimoguiri o “mensageiro” demonstrava ter mais cuidado do que com a entrega de propina a outros políticos. Para burlar a possibilidade de serem rastreados, os dois desenvolveram um método mais sigiloso para a entrega dos envelopes com dinheiro.

O “mensageiro” ia até a prefeitura de Três Barras, onde fazia contato visual com o prefeito. Dali, os dois seguiam “dissimuladamente e de forma separada ao ponto previamente combinado na estrada de saída de Três Barras sentido Mafra, SC-120 que liga à BR-280”.

Local onde Shimoguiri e o “mensageiro” realizavam seus encontros para entrega de propina

Outro mecanismo desenvolvido por eles era a entrega de propina a domicílio. O “mensageiro” parava seu carro na frente da casa de Shimoguiri, em Canoinhas, e entregava o envelope.

Em um desses encontros na casa de Shimoguiri teriam sido entregues R$ 36 mil por três meses de acordo. Desse modo, indica-se que os pagamentos eram mensais mas os repasses ocorriam depois que a propina já estava acumulada.



COBRANÇA DE PROPINA

O acúmulo de alguns meses antes da propina a ser paga a Shimoguiri irritava o prefeito, que chegou a fazer cobranças a um dos sócios da empresa que assinou acordo de delação premiada.

“O prefeito atual, o Shimoguiri, ele assumiu em 2017, mas no final de 2018 ele me chamou para uma reunião na Prefeitura que era para tratar de assuntos do contrato, mas essa reunião, no final dela, ele falou que havia um acerto com a empresa num valor mensal e que ele estava precisando desse dinheiro”, relatou o executivo. Ele complementa que quando foi cobrado pelo prefeito, falou “que iria ver com a empresa se havia algum saldo para mandar para ele. Até nessa situação ele falou que caso não houvesse saldo era para adiantar algumas parcelas porque ele tinha alguns compromissos e precisava realmente cumprir esses compromissos”.

Depois disso, esse sócio foi até a sede da empresa e levantou o valor devido, que teria sido entregue pelo “mensageiro”.




REAJUSTE

De acordo com o levantado pelos investigadores do Ministério Público junto aos delatores, em janeiro de 2022, Shimoguiri exigiu reajuste da propina que recebia da Serrana. Em reunião com um dos sócios da empresa, o prefeito teria exigido que a propina passasse a ser de R$ 9.500 para o contrato de tratamento e distribuição de água e R$ 7.500 para a coleta de lixo. Ou seja, dessa maneira, a propina mensal a ser paga a Shimoguiri seria de R$ 17 mil.

As planilhas que descreviam o pagamento das propinas encontradas pelos investigadores no e-mail de um dos sócios da empresa continham a observação de que o prefeito de Três Barras teria um acréscimo em seus proventos de desvio de verba pública.

Para justificar o aumento do valor da propina, Shimoguiri teria dito ao sócio da empresa que “o valor dele era o mesmo desde o início do contrato, mas que o contrato teve alguns reajustes de valores por conta de cláusulas do próprio contrato e precisava reajustar esse valor”. Foram identificados ao menos três pagamentos já com o novo valor sendo praticado.




CASA DO SECRETÁRIO E DA MÃE

Segundo informações presentes na denúncia que o MP apresentou ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), Shimoguiri teria utilizado a casa do secretário municipal de obras de Três Barras, Francisco Altamir Farias, para receber o dinheiro da propina. A investigação apontou que a escolha por esse local teria acontecido pelo fato da organização criminosa ter orientado o “mensageiro” para entregar a encomenda – um envelope pardo contendo R$ 30 mil em dinheiro – em um ambiente privado, por já suspeitarem de que estariam sob a mira de uma investigação envolvendo o esquema. Nesta ocasião, Shimoguiri teria usado o carro da Saúde, conforme o JMais já publicou.

Os dados fornecidos a partir da investigação apontam que nesta ocasião em específico, Shimoguiri teria utilizado uma caminhonete Amarok registrada no CNPJ do Fundo Municipal de Saúde de Três Barras para se deslocar até a casa do secretário e receber o dinheiro referente à sua participação no esquema de favorecimento ilegal da Serrana no âmbito do poder público municipal.

Em maio de 2022, de acordo com a investigação do MP, Shimoguiri teria orientado o funcionário da Serrana a deixar o pacote contendo R$ 31 mil em dinheiro na casa de sua mãe, aos cuidados de seu irmão. O “mensageiro” teria buscado o valor na sede da Serrana em Joinville, assim como na vez anterior e, posteriormente, teria se dirigido ao endereço indicado pelo prefeito. Já nesta ocasião, o valor da propina foi entregue a uma funcionária da casa da mãe de Shimoguiri dentro de uma caixa de celular.


DENUNCIADO

Shimoguiri segue denunciado, mas ainda não se tornou réu da Operação Mensageiro. Ele foi preso em 27 de abril deste ano na quarta fase da operação acusado de se envolver em uma relação ilícita para favorecer a Serrana Engenharia nas contratações para coleta e destinação de lixo em Três Barras e para o saneamento por meio da estatal Samasa.

Por Alexandre Douvan e Leonardo Carriel

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