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maio

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Coral Santa Cecília – Vozes que encantam

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“Como vai o Coro? Sempre azul? ”

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Minha alma vagueia entre esferas luminosas para além dos dourados e inimagináveis horizontes azuis dos meus sonhos. O som de vozes que encantam permanece em meus ouvidos e levam-me de volta para um mundo de magia, o mundo da música, o mundo das artes.

Continuo naquele espaço cultural, o velho armazém de minha infância, ao lado da estação que me viu nascer.

Magnífica tarde no Complexo Turístico e Cultural de Marcílio Dias.

Lá comemorou-se o 110º aniversário de fundação do Coral Santa Cecília, de Canoinhas.

Lá ouvimos loas aos que há anos ousaram iniciar o Canto Coral em Santa Cruz de Canoinhas.

Lá ouvimos loas aos maestros e maestrinas que nunca mediram esforços para alegrar os ouvidos e a mente de milhares de pessoas com maravilhosas melodias interpretadas com arte e alma

Lá o Imortal Matheus Theodorovitz Prust, membro da Academia de Letras do Brasil – Canoinhas promoveu o lançamento de seu livro.

Um sugestivo nome para uma obra que conta a história viva de um Coral. A relembrar as palavras da mestra da música nas terras da Santa Cruz, Irmã Maria Carolina Gross:

“Como vai o Coro? Sempre azul? ”

Um magnífico resultado obtido após infindáveis horas de árduas pesquisas!

São 110 anos de história nele registrados.

Após brilhar com um arco a tanger as 4 cordas de seu violino Matheus entrou para o mundo das letras.

Não é o primeiro livro que publica.

Na área musical já publicou dissertações e textos outros. Além de uma publicação on-line com comentários e poesias da época do Contestado em parceria com Sherazade Elis Ramos Daud.

Foi realmente uma profunda escavação para concluir esta história.

Quando estudei no Sagrado Colégio das Irmãs Franciscanas de Maria Auxiliadora conheci a Scholla cantorum Sancta Caecilia! Um coro dirigido pela mestra Irmã Maria Carolina Gross.

Difícil contar em poucas palavras sobre esta pessoa especial de quem só víamos a face. Cabeça, tronco e membros sempre cobertos pelo hábito marrom, a branca balaclava e um preto véu.

Sempre me pareceu que era muito alta. Talvez por ser muito franzina, talvez pela angulosidade de seu fino corpo.

Agilmente locomovia-se pelos longos corredores do Instituto de Educação “Sagrado Coração de Jesus”.

 Ministrava as mais variadas matérias tanto no curso fundamental como na Escola Normal, escola que formava professoras.

Era mestra não apenas em música, mas em latim, matemática, filosofia, pedagogia, sociologia, psicologia, matérias que compunham o curriculum do curso do magistério de então.

Vejo-a ainda, ao raiar do dia, na antiga capela do velho colégio de madeira.

Quando chegávamos para a missa diária lá estava ela, já sentada em seu banquinho, à frente do pequeno harmônio a entoar músicas sacras. E as vozes do coro eram as vozes das freiras.

 Ali não era uma pessoa franzina. Era uma majestade a deslizar as mãos sobre um teclado.

Além de dedilhar as teclas do harmônio cantava e regia o Coro das Irmãs.

Ela sempre dizia que quem canta reza duas vezes. Ao tocar um instrumento triplicam-se as orações. E como no harmônio ainda há o movimento com os pés então seria uma oração na quarta potência… Palavras de Irmã Carolina!

Era um longo corredor o que se encontrava ao entrar no velho colégio de madeira.

À direita, a sala de música. À esquerda, a capela.

Os dois mundos prediletos de Irmã Carolina.

Onde ela passava, tenho certeza, os momentos mais felizes de sua vida.

Em meio à música, em meio aos sons.

Eu tive a alegria de vê-la ainda uma vez após seu retorno para a sua Gaissau, na Áustria, a cidade da Saint Josephaus, convento e casa de repouso das Irmãs Franciscanas de Maria Auxiliadora.

Sofrera um Acidente Vascular Cerebral. Encontrava-se acamada em um quarto especial.

Pudemos vê-la, minha companheira de viagem Jucy Seleme — que também fora sua aluna e professora no Sagrado Colégio — e eu.

Parecia uma rainha, recostada sobre os travesseiros. A primeira e única vez que eu a vi sem o hábito marrom, sem a branca balaclava e sem negro véu.

Lá estava ela a sorrir para nós.

Tudo de Canoinhas queria saber. Com os leves gestos de sua mão direita ela insistia para que mais coisas contássemos.

Apesar de sua dislalia entendemos que queira ouvir o Hino de Canoinhas. Ainda bem que Jucy tinha uma bela e afinada voz. Porque eu sempre primei pela desafinação. O canto nunca foi o meu forte.

Foi nesta hora que a emoção máxima tomou conta de mim e fluiu em meio aos meus neurônios.

Com suas angulosas e um tanto travadas mãos ela regia o canto. Inesquecível o brilho de seu olhar. Parecia emitir fulgurantes raios coloridos naquele humilde ambiente. Foi algo forte demais. Lembrar-me de sua fortaleza a reger o Coro, sentada em seu banquinho, à frente do harmônio, dedilhando as teclas, cantando….

Encolhi-me atrás de um reposteiro para dela esconder as lágrimas que não cessavam de rolar sobre meu rosto.

Esta imagem de Irmã Maria Carolina Gross, como uma rainha, em linda camisola rosa, um gorro a cobrir sua cabeça, em seu leito de enferma, recostada sobre os travesseiros, com seu fulgurante olhar e um lindo sorriso a reger o imaginário coro que ela por tantos anos regeu….

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