Ex-secretário de Obras de Major Vieira foi morto com tiros à queima-roupa
Desde o mês de outubro passado, o empresário do ramo agrícola Luiz Alberto Benso está em prisão domiciliar. Ele foi preso em 2022 acusado de ser um dos mandantes do assassinato do ex-secretário de Obras de Major Vieira, Sérgio Roberto Lezan, um dos crimes mais rumorosos da história da cidade.
Em março do ano passado ele já tinha conseguido o direito a prisão domiciliar para tratamento de saúde, mas voltou para a cadeia em junho do mesmo ano. Inconformado com a decisão do juiz que está à frente do caso, Dr Eduardo Veiga Vidal, o Ministério Público (MP) havia recorrido ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que atendeu ao pedido do MP e determinou a prisão imediata de Benso, que se entregou espontaneamente no Fórum da comarca e foi encaminhado ao Presídio Regional de Canoinhas. Em dezembro passado, o juiz criminal concedeu o direito a prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.
Benso é um dos sete acusados de envolvimento com a morte de Lezan. A sentença de pronúncia, documento no qual o MP apresenta a denúncia contra os acusados e pede condenação, detalha toda a ação que, à época do crime, não ficou muito claro. São 70 páginas do documento.
A denúncia começa com Adriano Cordeiro e Samuel de Carvalho, citados como executores de Lezan. Os tiros disparados por Adriano, que, segundo a denúncia, estava na garupa da moto pilotada por Samuel, atingiram as regiões da cabeça, do pescoço e do dorso da vítima, que morreu na hora. Ele estava deixando o Ginásio Municipal de Esportes, onde estava trabalhando.
Adriano e Samuel permaneceram presos, sendo indiciados outros três supostos mandantes do crime. Além de Benso, Daniel Pereira e Jânio da Silva. Benso e Pereira são acusados de terem encomendado a morte de Lezan, ao passo que Jânio teria recrutado os assassinos.
Benso é apontado como mentor intelectual do crime, “prestando suporte financeiro e material para a aquisição da motocicleta, da arma de fogo e para a contratação dos executores da empreitada criminosa, sem o que não seria possível a execução do crime”. Segundo o MP, Pereira também concorreu para o crime “atuando como mentor intelectual do delito, fornecendo suporte de planejamento e logístico para que o crime fosse devidamente executado”.
Jânio teria fornecido o suporte de planejamento e logístico para que o crime fosse devidamente executado. Ele teria comprado a motocicleta utilizada no crime, providenciado o fornecimento da arma de fogo e viabilizado a contratação dos executores do crime, “realizando atos essenciais à consumação do delito, sem os quais este não poderia ter se materializado”, pontua o MP.
MOTIVAÇÕES

Conforme o MP, Benso foi motivado por vingança, por acreditar que Lezan supostamente possuía um relacionamento e fornecia drogas para sua filha, que cometeu suicídio supostamente em decorrência do seu vício em drogas em 2017. Por sua vez, Daniel também foi motivado por vingança, por acreditar que Lezan supostamente teria agredido o seu pai no passado.
Segundo uma testemunha protegida, Daniel contou a ela sobre uma noite em que estava voltando para casa com seu pai, quando foram abordados por Lezan, então policial militar. Lezan teria levado seu pai para uma sala que Daniel não conseguiu identificar e o agrediu brutalmente, utilizando coronhadas e golpes de cassetete na cabeça. Após a agressão, Lezan teria feito uma ameaça clara a Daniel, pedindo que ele ficasse em silêncio sobre o ocorrido, ou as consequências seriam ainda piores. Com medo, Daniel e seu pai voltaram para casa em silêncio, sem se atrever a falar sobre o que havia acontecido.
Dois dias depois, enquanto ajudava-o em uma construção na casa de uma irmã, seu pai se queixou de dores de cabeça. Preocupado, Daniel o levou ao hospital, onde as lesões sofridas durante a agressão o teriam levado à morte. Ainda segundo essa testemunha, com medo de represálias por parte de Lezan, Daniel teria se obrigado a mentir sobre a causa da morte do pai, dizendo que ele havia caído de um andaime e batido a cabeça.
Ainda de acordo com essa testemunha, Daniel compartilhou que foi contratado para realizar um serviço de terraplanagem para Benso. Durante essa interação, Benso revelou a Daniel que sua filha enfrentava problemas sérios com dependência química, e que Lezan estaria fornecendo drogas a ela em troca de relações sexuais. Benso, ao descobrir essa situação alarmante, teria ficado devastado, especialmente após a filha ter sofrido uma crise de abstinência tão intensa que acabou se enforcando, segundo ele teria dito.
Daniel teria contado a essa testemunha que, por acaso, a conversa sobre suas rixas com Lezan surgiu durante o bate-papo com Benso. Embora ambos tenham discutido a ideia de matar Lezan, nenhum deles parecia realmente disposto a colocar o plano em prática. Mais tarde, porém, em um acordo, decidiram que cada um contribuiria com uma quantia em dinheiro, e Daniel ficaria responsável por encontrar pessoas para executar o crime. Ele já conhecia pelo menos dois indivíduos que poderiam ajudar, um deles sendo um parente distante.
Esses indivíduos teriam aceitado a proposta, ainda de acordo com esta testemunha protegida, mas afirmaram que precisariam primeiro investigar Lezan. Daniel teria dito que o autor do disparo era um indivíduo conhecido como “mata rindo”, mas não sabia seu nome verdadeiro.
Além disso, Daniel teria revelado que a arma usada no crime era um revólver calibre .38, de sua propriedade, e que o atirador, “mata rindo”, jogou a arma no rio Canoinhas após o crime.
PERSONAGEM CHAVE
À frente da investigação, o delegado Nadal Jr contou que mesmo com Adriano, e um segundo suspeito que depois foi inocentado, presos, havia uma ponta solta. Adriano negava a autoria e o segundo suspeito sustentava que estava trabalhando na hora do crime, o que foi comprovado. Ele seguiu preso, contudo, porque tinha mandado de prisão contra ele relacionado a outro crime.
Foi então que a Polícia chegou a Samuel, que foi preso em São Francisco do Sul. Samuel falou, e não foi pouco.
Em um interrogatório na delegacia de São Francisco do Sul, Samuel indicou Daniel Pereira como mentor do crime, além de descrever a dinâmica da ação criminosa. Ele admitiu que foi ele que pilotou a motocicleta enquanto Adriano efetuava os disparos, e relatou que estavam monitorando a vítima dias antes do crime.
Essas informações já haviam sido corroboradas por imagens de câmeras de segurança que mostraram os veículos dos criminosos seguindo a vítima ao menos dois dias antes do crime. Samuel também revelou que foi contratado por Adriano para cometer o crime, recebendo cerca de R$ 1,5 mil. Ele explicou que Jânio e Daniel foram os responsáveis por contratar Adriano. O encontro inicial entre Samuel e Jânio ocorreu em um posto de gasolina, onde a motocicleta foi entregue a Adriano.
O depoimento prosseguiu com Samuel detalhando a logística da ação. Ele e Adriano se deslocaram para Major Vieira, onde Daniel e Jânio estavam presentes para mostrar a casa da vítima e fornecer a arma de fogo. Adriano, que ficou hospedado em um hotel em Papanduva, recebeu um pagamento de R$ 5 mil e a motocicleta para a execução do crime.
A investigação já havia levantado informações que batiam com o que Samuel contou. O telefone de Adriano sinalizou para Major Vieira um dia antes do crime, 13 de junho, enquanto o celular de Samuel também se conectou à antena na mesma localidade. No dia seguinte, Samuel habilitou um novo número e ligou para Jânio, sugerindo que a comunicação entre eles era constante e estratégica.
Samuel ainda mencionou que se falava por WhatsApp com Jânio e Daniel, e que eles apagavam as mensagens após a leitura. Detalhes adicionais sobre Daniel foram revelados, incluindo a localização dele próximo ao crime e a descoberta de que o telefone utilizado por ele estava cadastrado em nome de uma pessoa falecida.
As investigações também trouxeram à tona um padrão de comportamento entre os envolvidos. Fotografias e vídeos recuperados do celular de Jânio mostraram momentos em que eles seguiam a vítima. Mensagens trocadas entre Jânio e seu irmão revelaram que Daniel estava planejando “algo grande”.
Uma nova linha de investigação surgiu com a menção a Benso, que supostamente financiava as atividades criminosas. Uma mulher que mantinha um relacionamento com Daniel, confirmou que os dois foram até seu trabalho para falar sobre a arma do crime e que Daniel receberia uma quantia significativa pelo serviço.
O depoimento de Samuel, prestado em 19 de julho de 2022, acabou por confirmar muitas das informações que a polícia já possuía, levando às demais prisões e novas investigações. A suspeita sobre Benso se intensificou após relatos de uma suposta extorsão. Ele contou que foi ameaçado por alguém que se passava por policial civil.
Com o avanço das investigações, novos elementos surgiram, incluindo a descoberta de que Benso pesquisou informações relacionadas ao crime e à uma tatuagem identificada em Samuel e divulgada pelo JMais à época. Além disso, pagamentos suspeitos a advogados e outros vínculos foram identificados, levando a polícia a crer que a motivação por trás do homicídio estava ligada a uma busca por vingança.
EXTORSÃO
Após a prisão de Jânio, Benso se apresentou na Delegacia e relatou que estava sendo extorquido por uma pessoa que se passava por policial. Ele mencionou que essa pessoa afirmava que havia um pen drive na Delegacia que continha evidências que o ligavam ao assassinato de Lezan, e que estava exigindo R$ 180 mil para não revelar essas informações.
O policial anotou o número de telefone que Benso forneceu, com a intenção de repassar essa informação para a Divisão de Investigação Criminal (DIC). Durante a conversa, algo que chamou a atenção do agente foi a declaração de Benso de que, se o pen drive realmente existisse, ele deveria dividir o pagamento com o “policial de Major Vieira”, referindo-se supostamente ao próprio policial que o atendeu. Essa afirmação sugeria que, se as evidências realmente existissem, Benso estava disposto a pagar metade do valor para o agente, segundo o policial.
O policial imediatamente repeliu a investida e alertou Benso de que esse tipo de extorsão não era comum e que ele passaria o número para a DIC investigar a situação. Horas depois, uma equipe da DIC chegou à Delegacia, e o policial já havia prestado depoimento sobre o que havia ocorrido.
O agente ainda destacou que Benso parecia querer que ele verificasse se havia algo contra ele. Se houvesse, Benso estaria disposto a pagar para evitar sua prisão e que as provas desaparecessem.
Ele orientou Benso a agir com cautela e a não pagar a extorsão, reconhecendo que a situação poderia ser um golpe. Não houve investigação posterior para identificar o dono do número de telefone fornecido, e o policial se limitou a informar o delegado sobre o ocorrido.
DEFESAS

A defesa de Adriano levantou questões sobre a autoria do crime, solicitando a impronúncia e a exclusão das qualificadoras que foram apresentadas no caso. Para a defesa, há incertezas que tornam a acusação insustentável.
Samuel, representado por sua defesa, também requereu a impronúncia. O advogado pediu a exclusão das qualificadoras.
Por último, a defesa de Jânio alegou que não há elementos mínimos que comprovem sua autoria no crime, pedindo assim a impronúncia. Subsidiariamente, também solicitou o afastamento das qualificadoras.
As mesmas alegações de inocência foram ponderadas pela defesa de Daniel.
Por sua vez, a defesa de Luiz Alberto Benso também pediu a impronúncia, contestando a imputação de coautoria direta e premeditada no homicídio. Os advogados argumentaram que a versão apresentada na denúncia não se sustenta, destacando a falta de indícios concretos que sustentem a autoria mencionada. Além disso, solicitaram a exclusão das qualificadoras.
Em juízo, Benso foi o único que aceitou falar. Ele afirmou categoricamente que não foi o mandante da morte do ex-secretário. Segundo ele, não havia qualquer interesse na morte de Lezan, já que os dois eram parceiros comerciais.
O empresário recordou que, durante o período em que Lezan ocupou o cargo de secretário de Obras e ficou responsável pelas máquinas na prefeitura, ele estava realizando uma terraplanagem. Lezan, por sua vez, visitou o local para oferecer conselhos sobre como proceder com o trabalho na área em questão. Além disso, Benso mencionou que a prefeitura deveria entrar com uma tubulação para drenagem de águas pluviais, o que teria um custo estimado em R$ 60 mil, e que Lezan estava colaborando ativamente para que a terraplanagem fosse realizada da melhor forma.
Benso ainda destacou que planejava uma parceria com a prefeitura para a construção de barracões destinados ao aluguel para indústrias da região. Ele informou que, inicialmente, a ideia era construir três barracões, e que Lezan também o ajudou nesse projeto.
Por fim, fez questão de enfatizar que não tinha motivos para querer a morte de Lezan e que não nutria nenhum ressentimento em relação a ele. Ele também negou qualquer envolvimento no financiamento de pessoas para cometer o homicídio.
PRÓXIMOS PASSOS
Nesta sexta-feira, 20, ocorreu mais uma audiência no Fórum da comarca de Canoinhas para tratar sobre o caso. O juiz à frente do processo está colhendo elementos para instrumentalizar o tribunal do júri, que deve julgar os cinco acusados do crime. O julgamento deve acontecer em outubro.