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As leituras de uma vida

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Passou a aceitar, incondicionalmente os padecimentos de seus pequenos pacientes

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Foi em Há dois mil anos, um livro que narra episódios da história do cristianismo no século I, que Thalia começou a encontrar inúmeras respostas para as questões que, intimamente, se fazia.

Logo nas primeiras páginas conhece o jovem senador Públio Lentulus Cornelius, um orgulhoso nobre que fora designado por Augustus Cesar a exercer importantes funções na Galileia.

A filha do casal fora contaminada por uma moléstia incurável e de nada adiantaram seus poderes e sua riqueza para curá-la.

Aconselharam­­-no a procurar um jovem e humilde profeta que era sempre seguido pelas multidões.

E foi nas margens do lago Tiberíades que ele O encontrou. A conversa foi longa.

Em dado momento Públio Lentulus sente seu coração pulsar de uma maneira surpreendente ao ouvir do meigo profeta estas palavras:

“— Não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina… Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da terra.”¹

E a filha de Públio Lentulus foi curada.

Em mais de quatrocentas páginas Emmanuel — o nome espiritual de Públio Lentulus — escreveu esta história pelas mãos de Francisco Cândido Xavier.

No dia seguinte, a cada intervalo entre uma consulta e outra, entre um atendimento e outro Thalia devorava as páginas de 50 anos depois.

Uma história que se passa 50 anos após a destruição de Pompeia pelas lavas expelidas, com fúria, por um Vesúvio em erupção. Naquela tragédia sob intensos sofrimentos, Públio Lentulus deixa a vida terrena. Reencarnou nas vestes de um humilde escravo.

Em Ave Cristo, o terceiro livro que Thalia recebera de presente de seu amigo Ivo, as histórias passam-se já no século II, em Roma, duzentos anos após o encontro do senador Públio Lentulus com Jesus às margens do lago Tiberíades, na Galileia.

Mudanças verificaram-se no seio da cristandade. Era o tempo do Imperador romano Marco Aurélio Antonino Bassiano, cognominado Caracala. Era um governo magnânimo aos cristãos mais bem abonados e cruel com os escravos e plebeus que se dedicavam ao Evangelho.

A curiosidade de Thalia acerca da vida espiritual aumentava dia a dia.

E então ela começa a ler a série de livros escritos pelo Codificador do Espiritismo, Allan Kardec.

Seguiu as orientações de seu amigo Ivo e demais amigos que já professavam esta doutrina. Aconselharam-na a não pular etapas, a ler na sequência. Então começou pela cartilha, pelo primeiro livro. Um compêndio com muitas explanações e com mais de mil perguntas com suas respectivas respostas.

Thalia não o leu apressadamente como lera os romances. Era um verdadeiro tratado de teologia com detalhadas explicações.

Era o Livro dos Espíritos.

Lentamente, cm profunda meditação e um espírito carregado de interrogações, leu a seguir O livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, A Gênese e O céu e o inferno.

Sua vida mudou. Passou a aceitar, incondicionalmente os padecimentos de seus pequenos pacientes e de outras pessoas que a seus olhos nunca nada de mal fizeram a qualquer ser vivente e passavam por dores incoercíveis.

Entendeu as passagens negras pelas quais recentemente passara. Descobriu que suas agruras nada mais eram que um resgate, que o pagamento de vidas anteriores.

Convidaram-na a participar de reuniões espirituais.

Aprimorava-se sempre mais no estudo do mundo invisível.

Pela voz dos médiuns ouvia a preleção de espíritos superiores. E ouvia também súplicas dos que ainda sofriam do outro lado da vida.

A família de Thalia insistia para que ela fosse trabalhar na terra em que nascera. Mas por lá deixava-se ficar. Sentia-se bem. Fazia o que mais amava fazer.

Há alguns anos seu pai fora submetido a uma cirurgia para extirpar um câncer na região do hemitórax esquerdo. Parecia que tudo corria bem. Até o dia em que a terrível recidiva aconteceu. No mesmo lugar. Necessitava urgentemente de nova intervenção cirúrgica.

Thalia foi ao seu encontro na cidade onde estudara. E pela mesma equipe de cirurgiões foi ele operado. Acompanhou, uma vez mais, todo o procedimento. Permaneceu a seu lado no decorrer de toda a recuperação. Muitas sessões de radioterapia, uma vez mais, foram necessárias. A quimioterapia encontrava-se em suas fases iniciais. Mas em países cientificamente mais avançados naquela época.

Quando tudo, aparentemente, retornara ao normal, Thalia volta para seu tugúrio encantado em pleno sertão. Volta para suas atividades clínicas, para a pacata vida de antes.

Mas a insidiosa doença não abandona as pessoas em que se enraíza. E uma carta desesperadora de sua mãe faz com que se despeça de seus amigos, arrume sua mudança e volte para a terra onde vivia sua família.

Procurou saber, dentre seus amigos, se haveria alguém que professasse a doutrina espírita. Começou a participar de um grupo de estudos e de sessões espirituais.

Entre estas pessoas havia uma senhora já de mais idade que não apenas recebia as entidades já desencarnadas a ministrar ensinamentos, como psicografava mensagens e tinha ainda o dom de ver os espíritos.

A filha desta senhora estava grávida e consultava no postinho de saúde com Thalia. Chegada a hora do parto o marido levou-a para a maternidade e lá ela ficou ao lado de sua mãe.

Thalia encontrava-se, naquele momento, na sala de cirurgia. Enquanto isto um colega examinou a parturiente e de imediato avisa-a de que o feto se encontrava em posição transversa.

Mesmo sendo uma terceira gestação uma cesariana precisaria, de imediato, ser realizada.

Após terminar seus procedimentos no centro cirúrgico Thalia dirigiu-se ao quarto da amiga que estava em trabalho de parto. Examina-a detidamente. Auscultou os batimentos cardíacos do feto.

Nada falou nem para a paciente e nem para a velha senhora. Foi até a janela. Respirou fundo. Olhou para a mãe da jovem ali no leito ao lado. Notou um sorriso a aflorar em seus lábios.

E a pensar lá bem no íntimo de seu ser. Aquele colega era um excelente profissional. Como teria se enganado ao examinar aquela mulher em trabalho de parto?

Tornou a examiná-la. Com mais detalhes ainda. O feto encontrava-se em posição normalíssima, cefálica, e era hora já de levá-la para a sala de parto.

 — Não posso afirmar nada, mas o nosso nenê logo vai nascer e com a maior probabilidade de ser um parto normal. Vamos para a sala de parto e depois…

— Thalia, minha menina — interrompeu-a a velha senhora — quando o outro doutor examinou minha filha a criança estava mesmo na posição atravessada. Quando você colocou as suas mãos sobre a barriga dela eu vi outras mãos sobre as suas e a cabecinha de minha netinha passou para a posição normal.

Foi o parto mais lindo que Thalia presenciou em sua via. Chorava e ria junto com a mãe e a avó de uma linda menina de olhos arregalados e já uma vasta cabeleira negra.

(continua)

¹Trecho do livro Há dois mil anos

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