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Um dos réus da Et Pater Filium disse ter vivido momento de epifania

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COLUNA DE DOMINGO Quando crocodilos conseguem envolver suas presas, ao iniciar o banquete, uma glândula do sistema ocular desses animais é pressionada e, involuntariamente, seus olhos começam a lacrimejar. Daí a famosa expressão “lágrimas de crocodilo” para desqualificar quem chora como forma de expressar arrependimento.

Muitos viram dessa forma as lágrimas de Beto Passos durante depoimento na operação Et Pater Filium na terça-feira passada. Pode ser, apesar de para mim parecer sincero o arrependimento, o que não exclui a possibilidade de ele seguir fazendo maracutaias o resto da vida se a Justiça não o tivesse pegado. Uma coisa não anula a outra.

Em outro depoimento didático, Diogo Seidel disse que teve uma epifania. Diante de uma palmeira ouviu a tentação pela primeira vez. O canto da sereia teria vindo do empreiteiro Chrystian Mokva. Da primeira vez fingiu que não entendeu. Na segunda investida, não resistiu e cedeu. Havia entrado em um caminho sem volta. “Maldito dinheiro”, repetiram Beto e Diogo.

Os depoimentos logo me remeteram a um artigo de Luiz Felipe Pondé publicado na Folha de S.Paulo na segunda passada. “No Brasil a corrupção é parte de tudo. Mesmo no caso de muitos que pregam a não corrupção. Esta não necessariamente lida só com dinheiro em si, mas com cargos, exercício de poder, sexo em troca de oportunidades de carreira. É mentira quando se diz que isso acabou. (..) Existem aqueles que praticam corrupção, mas tem agendas sociais impecáveis. No Brasil existem corruptos com consciência social. Como assim?”

Em entrevista ao podcast de Jony Herberth Grosskopf, o vereador Willian Godoy (PSD) disse que jamais imaginaria que uma pessoa que deixa de passar o natal com sua família para passar com crianças abrigadas no Lar de Jesus faria o que fez, em referência a Passos.

De fato, Passos sempre se mostrou muito “família”, ciente das dificuldades do povo e não se anula o fato de ter ajudado muita gente como radialista. Uma pergunta pertinente para outra coluna é: o que a pessoa fez de bom tem de ser anulado quando ela cede à corrupção?

Mas uma coisa há de ficar clara: Passos se corrompeu porque quis e não porque foi tentado por Renato Pike. Furtar R$ 10 ou R$ 100 mil não tem distinção para a Justiça, a definição é a mesma. Quem diga o suplente de vereador linchado publicamente por ter afanado uma insignificante caneta.

A vida pública exige postura de quem nela entra. A pessoa deixa de ser mais um na multidão e passa a viver em uma vitrine onde todos os seus atos interessam ao público. Não é algo fácil, apesar de ter tanta gente interessada em ingressar nela. Exige engolir alguns sapos, ouvir coisas que não gosta, conviver com a constante opinião alheia e, sobretudo, manter-se cândido, palavra que dá origem ao termo candidato. Isso significa resistir as tentações, que são várias quando se está no poder.

Ao deixar a Secretaria de Administração, Seidel disse que “aí senti que me procuravam pelo cargo, não pela minha pessoa”. Por mais óbvia que seja, a frase explicita a confusão que muitos políticos fazem entre o público e o privado. Pike, por exemplo, tratava a prefeitura como quintal de sua casa. Melhor, tratava a cidade como sendo propriedade sua. Passos usava do dinheiro público que despejava nas emissoras de rádio para usar espaços nobres a fim de estocar adversários e se autoelogiar num entediante rame-rame.

Mas a coluna de hoje não quer falar somente de réus da Et Pater Filium, mas sobre todos nós enquanto cidadãos que, assim como um raio pode atingir nossa casa, alguém interessado nos nossos serviços pode nos fazer uma proposta diante de uma palmeira.

O que faz uma pessoa recusar uma rachadinha?

Novamente recorro a Pondé pra tentar responder: “Valores familiares? Hum… Não sei. Normalmente, quem fala frases como ‘meu pai me ensinou valores éticos’ não é de confiança. Neste caso, você tem uma chance enorme de estar diante de um picareta. E sem repertório: qualquer pessoa que conhece ética, sabe que virtudes são silenciosas, só se deixam conhecer pela ação e nunca pela autoenunciação prévia. Talvez a pessoa já tenha muito dinheiro e por isso não precise disso. Nesse caso, não vale. A questão só vale se for difícil recusar o dinheiro oferecido, certo? A virtude se testa em ambientes que lhe são hostis. O medo de ser pego pode ser a causa da recusa, mas, neste caso, não me parece haver virtude porque num outro ambiente mais seguro esta pessoa poderia incorrer no ato em questão.”

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