Feminicídio julgado nesta semana chama a atenção para a frequência de casos
COLUNA DE DOMINGO O julgamento de um rapaz de 26 anos acusado de matar Leila Ribeiro Domingues Maciel, de 23 anos, em novembro do ano passado no bairro Cristo Rei, em Canoinhas, abre uma discussão que precisa ser ampliada e aprofundada na região: o alarmante número de ocorrências policiais envolvendo violência doméstica na comarca de Canoinhas.
Em entrevista ao colunista do JMais, Biluka, o juiz criminal Eduardo Veiga Vidal demonstrou seu espanto não só com o alto número de homens que batem, mutilam, violentam e matam mulheres na comarca como, também, com o abjeto crime de abuso sexual de menores de idade. Meses atrás, em entrevista à esta coluna, Vidal já tinha demonstrado sua preocupação. Ele disse que não tinha feito nenhum estudo, mas comparando a comarca a outras pelas quais ele passou, o alto número de casos por aqui salta aos olhos.
O professor Reginaldo Marques, estudante do assunto violência doméstica, com foco na mulher, tem feito um trabalho de formiguinha, mas que, creio, há de apresentar resultados no futuro. Ele organiza palestras, aulas e debates com estudantes da rede pública de escolas de Três Barras, com foco no São Cristóvão, distrito com maior número de ocorrências envolvendo violência doméstica em Três Barras. Essas ações visam dialogar com os estudantes, principalmente os meninos. Ouvir os tantos relatos da violência que eles presenciam no bairro onde moram e dentro de suas casas, com pais violentos que, a priori, tendem a repassar essa “herança maldita” aos filhos. Basicamente, o trabalho do professor consiste no convencimento de que o que seus pais fazem ou fizeram não precisa ser reproduzido por você. Que há outras maneiras de se relacionar imensamente mais saudáveis. Pode ser pouco, mas é uma das poucas iniciativas, essa com apoio das Polícias Civil e Militar, que estão acontecendo. Medidas radicais – se houverem – em relação a costumes geralmente não dão certo, então, o local (a escola) e o público (adolescentes) é a forma ideal de abordagem que, mesmo que consiga um resultado tímido, já é alguma coisa.
Mais delicado ainda, o tema do abuso sexual de crianças que, segundo estatísticas, acontece em 80% dos casos dentro da própria casa da criança, precisa ser levado mais a sério. Mas como abordar o assunto na escola se há forte apoio a ideias de se erradicar a educação sexual já que, como muitos argumentam, “isso é assunto para os pais ensinarem aos filhos quando e como quiserem”? Muitos de fato “ensinam”, da forma mais cruel e desvirtuada possível. Como está em formação e sem nenhuma orientação externa, a criança tende a normalizar a situação, afinal, se o pai, o avô ou o tio estão fazendo é porque está certo, não há nenhum outro norte para o pobre infante que passará a vida toda traumatizado ou traumatizada até entender o horror que passou em casa. A julgar pelos tantos casos que chegam à Justiça, somados aos que não chegam, isso provavelmente está acontecendo debaixo dos seus olhos. Mas não podemos falar sobre esse assunto que só cabe aos pais.