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Precisamos falar sobre Cancellier, o reitor que se matou por se sentir injustiçado

Imagem:Arquivo

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Esta é uma coluna de opinião. Aqui você vai encontrar notas sobre bastidores da política regional e estadual, além de artigos que expressam a opinião do colunista.

Vergonha da acusação o levou ao desespero

CANCELLIER

COLUNA DE DOMINGO Recordo-me de ter visto a notícia no site da NSC Total: “Polícia Federal prende reitor da UFSC em operação contra desvio de recursos”. Era setembro de 2017 e a Operação Lava-Jato estava no seu auge, empoderando a Polícia Federal, que desencadeava uma fase atrás da outra contra os crimes do colarinho branco. A imprensa se unia a voz do povo para aplaudir as operações.

Olhando agora com uma distância de seis anos é possível detectar os excessos que pareciam somente cumprimento do dever em 2017. Mas ainda defendo a Lava-Jato como um momento único na nossa história de combate à corrupção. Mas no caso da fatídica manchete de setembro de 2017 houve evidentes excessos.

O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luís Carlos Cancellier de Olivo, foi preso na operação “Ouvidos Moucos” da Polícia Federal no dia 14 daquele mês. “Autoridades desarticularam uma organização criminosa que, envolvendo professores, funcionários e empresários, supostamente desviou R$ 80 milhões em recursos que deveriam ir para cursos de Educação a Distância (EaD) da instituição”, noticiou a NSC Total. Trabalhamos em texto semelhante e acompanhamos todo o caso aqui no JMais.

Preso e algemado, Cancellier foi libertado em 36 horas e proibido de circular na universidade. Dezoito dias depois, o professor matou-se, atirando-se do alto do shopping center Beira-Mar de Florianópolis. No seu bolso havia um bilhete que dizia: “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade.” Parecia que estávamos no Japão, onde acusados de corrupção se matam de vergonha. Cancellier se matou de desgosto por ter visto seu nome, injustamente, envolvido em lama.

Essa condição “injusta” só veio a público na semana passada. O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que investigará se foram praticados abusos na operação. O anúncio de Dino veio logo depois de o Tribunal de Contas da União ter revelado que não encontrou irregularidades na gestão do professor.

Como disse o grande mestre Élio Gaspari, “a morte do reitor Cancellier foi um momento exacerbado dos tempos lava-jatistas. Revisitá-los com frieza evitará que se repitam.” Não se trata de dizer que a operação foi toda equivocada, pelo contrário, houve muitos acertos como frear a sanha política pelo tesouro público, por exemplo. Mas estes excessos, especialmente o cometido contra o reitor, precisa ser estudado, analisado e exposto dentro das próprias instituições que têm o poder de prender e soltar. Combater o crime não é deter a verdade absoluta.

A investigação contra Cancellier partiu de uma denúncia anônima. Em julho de 2017, a delegada da Polícia Federal Érika Marena produziu um relatório de 126 páginas e o encaminhou à Justiça. Marena era delegada da Lava-Jato e chegou a ser interpretada pela atriz Flávia Alessandra no filme Polícia Federal – a Lei é para Todos. Cancellier e outros cinco professores foram presos pela equipe dela. Pulou-se uma etapa bastante importante, pois se houvesse uma checagem correta, o tal desvio de R$ 80 milhões não se sustentaria já que o programa tinha repassado metade desse valor a UFSC.

Ao fim e ao cabo, nada mais sobra que uma infame futrica universitária, guerra de egos com pitadas de inveja e ressentimento que levaram a tal “denúncia anônima”. O que veio a seguir foi uma sucessão de equívocos que levaram ao suicídio um homem íntegro e correto que, aliás, justamente por ser assim encontrou somente na morte uma saída para o seu sofrimento.