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Por que devemos nos preocupar seriamente com a inflação?

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Quais seriam as causas da inflação no Brasil?

Jorge Amaro Bastos Alves*

Nesse ano de 2021, a inflação foi e continua sendo um dos assuntos mais em voga, tanto na mídia, como na política, e também nas conversas entre amigos. Aliás, não poderia ser diferente, pois, entre os economistas, a inflação é um tema recorrente.

Tecnicamente falando, inflação é a diminuição do poder de compra de uma determinada moeda ao longo do tempo, expressa por uma taxa que reflete o aumento do nível de preço médio de uma cesta selecionada de bens e serviços em uma economia, ao longo de um período de tempo. No Brasil, o governo federal usa o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como índice oficial de inflação, calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Deixando a parte técnica de lado, a população em várias partes do mundo sente no bolso a escalada dos preços ao consumidor. Assim, os índices de inflação estão em disparada em vários países e ganham as manchetes nos meios de comunicação. Nos EUA, a inflação em outubro desse ano chegou a 6,2%, a maior, desde 1990. Na Zona do Euro, a inflação dos preços ao consumidor atingiu em novembro a maior alta em 25 anos. Mas, o Brasil se destaca, devido a que a taxa de inflação aqui, subiu muito mais rápido do que outra economia emergente.

Inflação no Brasil é levada muito a sério pelos economistas, haja vista que já foi muito nefasta por aqui. Os mais antigos certamente se lembram de como a hiperinflação castigou o Brasil nas décadas de 1980 e 1990. Naqueles anos, comerciantes remarcavam diariamente os preços dos produtos, que se esgotavam freneticamente das prateleiras, pois a população era obrigada a estocar alimentos com receio das incessantes altas. A inflação era tão alta, que a moeda nacional perdeu sua referência de valor, passando a ser preterida pelo dólar que norteava os preços para imóveis e veículos, por exemplo.

Na atualidade, em 12 meses, a taxa subiu para 10,74% em novembro de 2021 – o teto da meta de inflação é de 5,25%. Entre as principais economias desenvolvidas e emergentes que formam o G20 – nações que representam cerca de 80% da economia global – o Brasil só fica atrás da Turquia e da Argentina que possuem inflações girando na casa de 20% e 50% respectivamente.

Mas, quais seriam as causas da inflação no Brasil? Essa resposta é complexa, contudo podemos elencar algumas. O que está acontecendo é decorrente de choques simultâneos na economia que afetam não apenas a inflação, mas também, outras variáveis econômicas como taxa Selic, PIB e taxa de câmbio.

Por conta de diversas medidas tanto para o combate ao Covid-19, como para a recuperação econômica pós pandemia, houve uma forte expansão de gastos públicos, aliado a maior injeção de dinheiro feita pelo Banco Central (BC) da história do sistema bancário na economia brasileira. Isso fez com que a oferta de moeda aumentasse mais rápido do que o crescimento da produção de mercadorias e serviços (PIB) na economia. Isso gerou inflação, porque havia mais dinheiro circulando, para o mesmo número de mercadorias, logo, as empresas aumentaram os preços.

O fato é que essa ideia dos governos “imprimirem dinheiro” para pagar gastos é atraente, mas pode ter consequências adversas graves. Quando se fala em impressão de dinheiro, não se trata do sentido literal, por exemplo, do governo federal mandar a Casa da Moeda imprimir notas de reais. No Brasil, cabe ao Banco Central, que é a autoridade monetária, emitir moeda. Isso ocorre basicamente, por meio da emissão de títulos de dívida que são comprados por investidores, como pessoas físicas, empresas, bancos, fundos de pensão e fundos de investimento.

Outra causa da inflação é a forte estiagem, a pior em quase um século, que secou reservatórios de hidrelétricas, aumentando a demanda em usinas térmicas, encarecendo a oferta de energia no país.

Depois, a forte desvalorização de cerca de 25% do real frente ao dólar, desde março de 2020, impactou o aumento do preço de matérias-primas importadas – cujo acréscimo é repassado para o valor final dos produtos – e de produtos derivados do trigo, do petróleo, além de remédios que pressionou a inflação.

Além disso, os surtos de Covid provocaram interrupções recorrentes na cadeia de abastecimento mundiais, principalmente na Ásia, causando um descompasso entre a oferta de produtos e a rápida recuperação da demanda. Custos relevantes, como transporte, dispararam, causando preços de venda mais altos para os consumidores. Segundo a Bloomberg, entre março de 2020 a setembro de 2021, os custos de frete aumentaram 674% globalmente.

Por fim, as expectativas também desempenham um papel fundamental na determinação da inflação. Quando pessoas e empresas percebem preços mais altos, eles incorporam essas perspectivas em negociações salariais e ajustes de preços contratuais (como aumentos de aluguel). Também, os reajustes do salário mínimo são atrelados à inflação do ano anterior). Esses movimentos influenciam e estabelecem a inflação do próximo período, resultando numa inércia inflacionária.

Em resposta a esse quadro, o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC), elevou a taxa Selic várias vezes desde março de 2021, para 7,75% em outubro com intuito de modificar o comportamento futuro da inflação. Aumentos adicionais podem ser esperados nos próximos meses, o que pode elevar a taxa Selic acima de 10% ao longo de 2022.

Portanto, como se vê, controlar inflação é tarefa árdua que envolve um emaranhado de variáveis econômicas. Além do mais, a elevação da taxa Selic acaba prejudicando o crescimento econômico, dado que aumenta o custo do dinheiro tanto para consumidores inibindo o consumo, como para empresas, freando investimentos nas empresas. Logo, fica mais vantajoso para o empresário emprestar seu capital para o governo recebendo como pagamento de juros a taxa Selic, do que investir no seu negócio. Por outro lado, a taxa Selic alta atrai capital especulativo estrangeiro, o que contribui para a redução da taxa de câmbio no país, mas às custas de redução do investimento industrial.

Em vista disso, pode-se dizer que a função da equipe econômica é similar ao do malabarista que joga objetos ao ar sem deixá-los cair. Só que no caso, esses objetos seriam as variáveis econômicas: inflação, taxa de câmbio, crescimento do PIB, taxa Selic. Deve-se acrescentar ainda o fator mais importante, a preservação ambiental, indispensável para a vida. Todas essas variáveis devem ser obrigatoriamente mantidas em níveis razoáveis para que o país cresça de forma sustentável. Ou seja, não é um trabalho fácil.

* Jorge Amaro Bastos Alves é economista, mestre em Desenvolvimento Regional e doutor em Ciência e Tecnologia Ambiental. [email protected]

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