Reflexões para uma manhã de sábado
Em meio a tantos papéis,
traços e cálculos,
cifras, números e códigos
eu me enrolo.
E me atolo.
Tento por dias seguidos
envolver-me no doce mundo
dos meus sonhos.
Sem conseguir a pausa açucarada
para escrever em qualquer canto.
Aqui está a pilha
dos enciclopédicos relatos
a atormentar-me os olhos, a mente.
Perco-me neste labirinto
rotineiro e piramidal.
Abril/1977
Ω
Vejo luas solando harpas
na madrugada fria
e ouço grilos tristes
sufocando lágrimas
em agudos estertores.
…
Agora os sons mudaram
Rugem máquinas distantes
Luminárias tristes
apontam para o céu
mostrando amarelada fumaça
adentrando nuvens
e a infiltrar-se pela névoa já sem cor.
20/12/1977
Ω
Menino dos ontens
eu te dei uma rosa
em dia muito especial…
Pensei que somente ela
o motivo fosse
de teu sorriso inteiro.
Eu te dei uma rosa menino
em dia muito especial.
Depois eu te vi sorrindo…
sorrindo pra mim,
sorrindo pro mundo
sorri também
e sorrimos juntos.
Depois, menino,
eu vi aquela rosa
enfeitar o sorriso de outra menina.
Agosto/1974
Ω
Amargura sentida,
amargura vivida,
dos tempos que tempos não são mais.
Amigo-irmão
eu quero tirar
do mais fundo de mim,
sem prantos, sem canseiras,
as catástrofes antigas.
Que em estilhaços
Transformaram minh’alma
arrebentando-me sempre mais.
Jogaram-me contra muros
pontiagudos muros
esfacelando-me no chão.
Julho/1977
Ω
Este amarelo triste de sol
despedindo-se agora,
infiltra-se por reflexos
como espelhos nesta sala.
E a tudo ilumina num repente
para logo deixar
a escuridão apenas.
Bem assim foi teu sorriso inteiro
num último olhar,
prometendo infinitas esperas
para depois mergulhar no caos.
Julho/1977
Ω
Chove tanto neste maio triste.
Não consigo lembrar a alegria da festa.
Porque efêmera foi.
Foi tão longo
o tempo do sonho sonhado
em de olhos limpos ver-te.
Apagaram-se as luzes
sem mais cristais
para se espelharem,
quando vi a tua face embrutecida,
teus gestos bruscos
e teus olhos sem cor.
Maio/1977