Querem importar um nome, transformar Santa Catarina em laboratório de dinastias políticas, ignorando seus próprios quadros
Walter Marcos Knaesel Birkner*

A possibilidade do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL-RJ) disputar uma vaga ao Senado por Santa Catarina provocou reações nos meios político, empresarial, na imprensa e no churrasco do domingo. Em entrevista às páginas amarelas da Veja, o governador Jorginho Mello se disse aberto, “se for da vontade do ex-presidente Jair Bolsonaro”, demonstrando genuflexão incondizente com o orgulho catarinense que costuma enaltecer. Porquanto seja uma resposta eleitoralmente calculada, não tem sintonia com a parte produtiva e orgulhosa do Estado.
Santa Catarina tem base sólida de lideranças enraizadas nas cidades, nos setores produtivos e no imaginário político dos catarinenses. Cogitar um nome importado e alheio à cultura local, por sua filiação familiar e conveniências de cúpula partidária nacional? No que isso representa Santa Catarina?
A legitimidade parlamentar nasce da conexão com o eleitorado, do enraizamento histórico e do mérito político — e não de um sobrenome oligárquico ou da imposição de um líder supremo (nem vou falar o nome disso pra não cair no lugar comum). Como bem expressou a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), “a voz do Estado em Brasília deve ser constituída com base no mérito, no diálogo com a sociedade e na profunda conexão com os catarinenses — e não por imposições externas”. Isso, sim representa Santa Catarina.
Atualmente o Estado mais promissor do País, Santa Catarina construiu sua identidade com base no trabalho, na inovação, na disciplina fiscal e na altivez. Não vivemos de repasses federais e da “malandragem institucionalizada”, comum no Estado do mencionado vereador. Somos o 6º maior PIB do País, referência em qualidade de vida, segurança e educação básica – 1% do território e 5% do PIB. Apadrinhar uma candidatura ao senado, de um vereador de outro Estado, pra atender a um projeto familiar de poder, é jogar nossa reputação no lixo.
Agora vou mostrar pra que serve um preconceito:
O mencionado vereador não tem ligação com a vida catarinense e, ainda que fosse um antropólogo da cultura, não entenderia a distância político-cultural entre o seu mundo e o nosso; desconhece a Santa Catarina profunda, nunca debateu com nossos empresários e trabalhadores, jamais defenderia nosso Estado quando isso contrariasse os interesses do seu Estado natal. Não faz ideia do que seja uma cultura conservadora e comunitarista originada da pequena propriedade e do capital social. Afinal: é um vereador carioca, meu Deus!
Em 2022, um amigo e conterrâneo do mencionado vereador foi eleito senador por Santa Catarina com mais de 39% dos votos válidos. Nada a declarar sobre tal escolha, mas é suficiente lembrar que se trata do defensor da “moral, da família e dos bons costumes” que, durante a tragédia no Rio Grande do Sul, sua demonstração de solidariedade foi ir ao show da estrela do erotismo pop mundial, no Rio de Janeiro. Nada contra a Madona: minha bronca é contra o paradoxo cínico e a reputação do meu Estado. Em seguida, esse ser humano, bêbado, grava um vídeo pedindo desculpas: seria somente patético, não fosse um senador por Santa Catarina, um forasteiro apadrinhado envergonhando o Estado.
Agora, querem repetir a fórmula: importar um nome, transformar Santa Catarina em laboratório de dinastias políticas, ignorando seus próprios quadros. No próprio PL, nomes como Caroline de Toni e Júlia Zanatta são escanteados. Provavelmente, o governador calcula que a candidatura de João Rodrigues (PSD), ao senado, estaria garantida. E o mencionado vereador forasteiro tomaria a vaga do senador Esperidião Amin, um conservador de verdade e, diga-se, de competência republicana indiscutível. Tem comparação?
Agora pensa: um senador, ex-governador, professor universitário, doutor em engenharia do conhecimento, conhece cada município catarinense, conhece o valor da história do Estado, tem atuação parlamentar reconhecida nacionalmente. Aí, a mando de um líder supremo, com a servidão de um governador e um milhão de séquitos irrepreensivelmente fiéis e crédulos, além da maria-vai-com-as-outras e … um político catarinense da cepa, liberal-conservador, perde a vaga de senador para um vereador de um Estado endividado e controlado pela milícia mancomunada com o narcotráfico.
Ou vai que o tiro sai pela culatra e quem fica sem a vaga é João Rodrigues, atual prefeito de uma baita cidade, entre as melhores do País! Ele ainda pode mudar de ideia, candidatar-se a governador, virar o jogo e …, de todo modo, elegeríamos mais um forasteiro. Pensa na estupidez, produto final da democracia degenerada; sobra a vergonha e o deboche. Penso na caixa de Pandora “das coisas imponderáveis”, lembrada por Torquato Neto. E, assim como a Fiesc, o Jornal ND+ e o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro, me posiciono pela reputação e vergonha na cara: xispa lagarto!
Concluo o raciocínio no próximo artigo.
