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O Rei da TV passa dos limites e inventa uma realidade paralela

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A série, que pretendia biografar Silvio Santos, troca até as datas em que os eventos ocorreram

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O Rei da TV é uma série de duas temporadas disponível na plataforma Star+, dirigida e produzida por Carol Minên, Júlia Jordão e Marcus Baldini. A produção pretendia biografar Silvio Santos, mas peca ao trocar datas, inventar cenários e diálogos. Em suma, a série passa dos limites da ética e inventa uma realidade paralela.

O enredo toma como base o período em que Silvio Santos tratou de um câncer na garganta em 1988, com o uso de cortes temporais para abordar a infância, adolescência e juventude do empresário e apresentador até culminar no escândalo do banco Panamericano, que pertencia a Silvio.

Como o apresentador é uma figura pública e constantemente citado em jornais e sites, além de já possuir ao menos três biografias publicadas, não parece ser um trabalho difícil encontrar dados sobre sua trajetória. Entretanto, ao que tudo indica, os diretores da série devem ter optado por produzi-la sem consultar bases de dados, livros ou fazer entrevistas com pessoas que estiveram presentes nas ocasiões retratadas. Com isso, erros de datas e insinuações de condutas criminosas são feitas – o que pode custar caro aos diretores no caso de um processo.

Entre os primeiros erros encontrados está a relação entre Silvio e Manoel de Nóbrega (pai do humorista Carlos Alberto de Nóbrega). Somente nesse ponto existem duas falácias: a primeira que o comediante chamava Silvio de “peru”, nome artístico que não era utilizado no trato pessoal. A segunda indica que Silvio teria aplicado um golpe em Manoel e furtado dele os direitos pela empresa Baú da Felicidade, o que o biógrafo Arlindo Silva refuta, tal como Carlos Alberto classifica como “mentira”.

Outro desencontro empresarial acontece na invenção de que Silvio não sabia para quem estava vendendo a Record, ficando possesso quando descobriu que seria para o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal. A realidade é que os dois empresários passaram por diversas negociações diretas até fechar o negócio.

Tais alegações da série, que não condizem com os fatos, cruzam a linha entre a criação artística em cima de acontecimentos da vida de uma pessoa pública e a ética profissional ao tratar de biografias. A liberdade de criação permite que diálogos sejam inventados para gerar emoção, tensão ou clímax. Entretanto, não permite que personalidades e pessoas “comuns” sejam implicadas em crimes, como estelionato, furtos e desacatos.

Na mesma linha, outros problemas podem ser indicados, como o sequestro da filha de Silvio, Patrícia Abravanel, e do próprio apresentador ser posicionado em 1999, sendo que ocorreu em 2001. Da mesma maneira, eventos que teriam ocorrido nos anos 1980 e início dos 1990 são retratados nos estúdios da Anhanguera, que só foi inaugurada em 1996.

Em critérios técnicos, não há do que reclamar. A série investiu boa atenção à construção dos cenários, figurinos e preparo dos atores. É perceptível o foco das atuações em caracterizar os personagens da vida real da maneira mais fiel possível – o grande problema sendo a direção sobre o ator principal, José Rubens Chachá, que em alguns encenou lapsos mentais de Silvio nos anos 1980 que nunca ocorreram.

Mesmo com tantas informações sobre a série, o leitor pode ter a certeza de que não teve os famosos “spoilers”, pois ainda há dezenas de problemas que poderiam ser apontados.

MAS, VALE A PENA ASSISTIR?

O leitor que chegou a esta altura do texto pode estar se perguntando se vale a pena assistir a uma série que se propõe biográfica e tem tantos erros e problemas. A resposta é: sim, vale a pena, mas apenas como entretenimento.

A razão de valer a pena é encarar o conteúdo como uma forma de passar o tempo e se envolver com a história sabendo que ela é fictícia. Caso alguém a assista com o objetivo de conhecer um pouco da história da televisão brasileira ou sobre a carreira de Silvio Santos, pode ser facilmente conduzido a falsas conclusões.

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