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O Oscar e a crítica da Escola de Frankfurt: uma reflexão sobre a Indústria Cultural

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Os produtos culturais promovem valores e ideologias que perpetuam a estrutura de poder existente

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Na semana passada tivemos a premiação do Oscar, concedendo estatuetas e homenagens a atores, diretores e demais artistas/profissionais da área que se destacaram em suas atividades nos últimos meses nessa linguagem artística.

Nos círculos do cinema e da teoria cultural, o Oscar é um evento de destaque anual, reverenciado como a mais alta honra na indústria cinematográfica. No entanto, por trás do glamour das estatuetas douradas e dos discursos emocionados, há uma discussão crítica em curso, impulsionada pelas ideias da Escola de Frankfurt sobre a indústria cultural.

No cerne da crítica da Escola de Frankfurt à indústria cultural está a ideia de que a cultura de massa, incluindo o cinema, é moldada pelos interesses de grupos dominantes e serve como uma forma de controle social. Os produtos culturais são produzidos em massa e comercializados para o consumo em massa, promovendo valores e ideologias que perpetuam a estrutura de poder existente.

Aplicando essa perspectiva à premiação do Oscar, podemos fazer uma análise crítica dos padrões estabelecidos pela indústria cinematográfica e pela sociedade em geral. Por exemplo, muitas vezes os filmes que recebem reconhecimento no Oscar são aqueles que se encaixam em narrativas convencionais e reforçam estereótipos sociais dominantes, enquanto filmes mais desafiadores e progressistas são frequentemente negligenciados.

Além disso, a concentração de poder e influência nas mãos de grandes estúdios de cinema e de corporações de mídia levanta questões sobre a diversidade e representação na indústria cinematográfica. As barreiras de entrada para cineastas independentes e para histórias de minorias são altas, o que resulta em uma homogeneidade de perspectivas e experiências nos filmes que recebem destaque no Oscar.

Ao considerarmos a premiação do Oscar à luz das críticas da Escola de Frankfurt à indústria cultural, é crucial questionar quem realmente se beneficia desse sistema e quem é deixado de fora. Enquanto o Oscar continua a ser um símbolo de excelência no cinema, é importante manter um olhar crítico sobre suas práticas e impactos na cultura e na sociedade em geral, bem como prestarmos atenção aos esquecidos da noite de gala.

Nesse sentido, interessa salientar, mesmo que de passagem, uma abordagem da psicologia, com relação ao “não dito”. Na psicologia, a abordagem do “não dito” refere-se à compreensão do significado subjacente por trás do que não é explicitamente expresso verbalmente. Essa perspectiva reconhece que a comunicação vai além das palavras e inclui elementos como, inclusive, o silêncio sobre algum assunto. Acredita-se que o que não é dito muitas vezes revele insights importantes sobre as emoções, motivações e pensamentos de uma pessoa, ajudando os psicólogos a compreenderem mais profundamente a experiência humana.

O conceito do “não dito” é profundamente relevante quando consideramos a premiação do Oscar e sua seleção de filmes reconhecidos. Enquanto a cerimônia celebra os filmes que recebem destaque e reconhecimento, o que não é mencionado ou valorizado também lança luz sobre os padrões e preferências da indústria cultural. Filmes que não são indicados ou premiados pelo Oscar muitas vezes representam perspectivas, histórias e estilos que estão fora do mainstream ou desafiam as convenções estabelecidas. O não reconhecimento desses filmes pode revelar as limitações e tendências da indústria cinematográfica, destacando lacunas na representação e na diversidade, bem como os interesses e prioridades subjacentes aos principais estúdios e tomadores de decisão. Portanto, o que não é valorizado pelo Oscar não apenas reflete as escolhas da premiação, mas também revela muito sobre as dinâmicas de poder e as normas culturais presentes na indústria do cinema.

A produção artística é profundamente influenciada pelo contexto sócio, histórico e cultural de uma época. As obras de arte, incluindo o cinema, refletem as normas, valores e ideologias predominantes na sociedade em que são criadas, sendo moldadas em alguma medida pelo que já se aceita ou se quer que aceite. Desde a escolha de temas até as técnicas utilizadas, o contexto cultural e histórico exerce uma influência significativa sobre os artistas, contribuindo para a pouca diversidade da arte ao longo do tempo.

No entanto, surge a questão sobre a possibilidade ou impossibilidade de se fazer uma arte completamente desvinculada da influência sócio-histórico-cultural de uma época. Enquanto alguns argumentam que é possível criar uma arte que transcenda seu contexto, outros sustentam que toda produção cultural é inevitavelmente moldada pelas condições e experiências de seu tempo. A arte é uma expressão humana intrinsecamente ligada à realidade em que é criada, e tentar separá-la totalmente desse contexto pode ser uma tarefa difícil, se não impossível.

Mesmo que tal produção cultural, referindo-se a uma totalmente desvinculada do contexto padrão de uma época, fosse possível de ser produzida, ela enfrentaria desafios de reconhecimento e validação como arte, como o esquecimento em uma premiação do Oscar. A definição do que é considerado arte é influenciada por instituições, mercado, críticos e público, que tendem a valorizar formas de expressão que se enquadram nos padrões estabelecidos e familiarizados. Assim, mesmo que uma obra desvinculada de seu contexto histórico e cultural seja criada, sua aceitação e reconhecimento como arte dependeriam da disposição daqueles que determinam os critérios de valor artístico.

Por fim, a discussão sobre o Oscar e a indústria cultural nos lembra da importância de questionar e desafiar as normas e estruturas de poder em todas as áreas da vida, incluindo o mundo do cinema. Somente ao reconhecer e confrontar os padrões, as injustiças e desigualdades presentes na indústria cinematográfica podemos trabalhar em direção a uma cultura mais inclusiva e verdadeiramente representativa, e não somente a reverberação de uma visão de mundo predominante que se quer consolidar.

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