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Não há desenvolvimento; não há nada debaixo do sol

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A tradição nunca é eliminada ou sente vergonha de sua História

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Este final de semana, diante de uma paisagem belíssima, hospedado no Hotel Hilton/Porto Alegre, com uma vista panorâmica, circunferência de 180º graus sob o Guaíba, enquanto o sol descia majestosamente, não posso deixar de dizer que eu estava sob o efeito de uma dose da única bebida que um homem com H maiúsculo deveria beber, Bourbon Tennessee, quando uma pessoinha bela e provocadora, uma espécime em extinção no sistema planetário, me fez refletir com duas perguntas cabulosas: você conseguiria explicar de forma sucinta a filosofia hegeliana? Por que você não acredita no desenvolvimento social e humano?

Senti-me compelido a escrever uma carta a mão, com uma pena, usando a minha bela letra desenhada, treinada e aprendida nos antigos cadernos mesopotâmicos cuneiformes de caligrafia, que a minha explicadora, Dnª Diva, no município de Mesquita, Vila Emil, baixada fluminense, Rio de Janeiro, me obrigava a praticar desde os 4 anos de idade. Pensei: vou enviar pelo correio para seu endereço. Como está amada amante (Ops.. ato falho: amiga) mora no Moinhos de Vento, tive uma epifania: não seria o mais apropriado. Tenho a impressão de que o bairro vizinho me acharia muito cringe. Todavia, eu sempre acreditei que os filósofos explicavam seus conceitos com cartas. Isto porque, em geral, livros somente servem para acadêmicos que não têm nenhum contato com o mundo da vida, lebenswelt. Hoje em dia esta molecada e muita gente não muito moleca, vem introduzindo terminologias estadunidenses como cringe. Traduzindo para língua de gente: vergonha. Ou seja, eles têm vergonha dos setentistas e oitentistas. Fiquei me perguntando: será Hegel um cringe? Considerar Hegel cringe é o mesmo que dizer que se tem vergonha da tradição, aquela cultura produzida pelos nossos pais, tios e avós.

Importante dizer que o conceito central do pensamento hegeliano é o conceito de desenvolvimento. Porém, a tradição nunca é eliminada ou sente vergonha de sua História, que pode e deve ser redescrita, mas nunca ser extinta. Por exemplo: Um carro que sai da concessionária hoje costuma perder o valor. Mas o fusquinha vai na contramão do mercado. Ele está sendo redescrito, reinventado e curiosamente está em alta chegando a ser vendido, em alguns casos, por 100 mil reais.

Isto significa que a tradição é revitalizada, existindo uma sinergia entre o antigo e o novo, inclusive quando customizamos o antigo fusquinha.

Por isso, para entender o filósofo alemão, o processo de desenvolvimento em Hegel nunca é uma positividade pura, pois se tem plena consciência da precariedade da vida, contingências e como somos afetados pelo tempo que se desenrola implacavelmente. Ou, ainda, o processo de desenvolvimento de Hegel não é imprudente, mas dialoga com a negatividade, eu diria: fazendo um bom uso do negativo, uma digestão ou cozimento. É o tipo de processo daquele que gosta e sente prazer em cozinhar e sabe manipular os alimentos e temperos na medida correta. É o decadente que é restaurado e se torna vintage, clássico e universal. Por isso, gosto de usar, em vez da palavra desenvolvimento tão gasta e abusada de forma incorreta, por envolvimento. Ser hegeliano é estar envolvido com o Outro, misturado, dominado pelo poder da amabilidade. Em uma sociedade narcisista e solipsista, fechada em si mesma, convocamos a todos amar somente a si, passando a compreender o amor pelo Outro como submissão, doença, fragilidade.

Para Hegel, o processo dialético por excelência é o poder que o amor possui, que é constantemente compreendido, erroneamente, como coação e submissão, repressão ou violência sobre nosso eu. O poder não separa, mas une. E somente a violência é capaz de separar. Então como o amor ao Outro pode ser violento? O poder do amor deve ser apreendido como a expressão ou continuidade de si mesmo e por isso não pode ser associado a repressão e violência.

Certa vez, Hegel em sua Filosofia da História, nostalgicamente, diz: “nada de novo acontece sob o sol”, como sabemos a coruja de minerva somente alça voo ao entardecer e a Filosofia sempre chega tarde demais para dizer o que deve ser feito. Esta consciência que Hegel parece ter atingido em sua Filosofia tardia não é a comprovação de que o desenvolvimento humano e social é ilusório? Parece-me que a única atitude sensata a ser tomada é apenas se envolver, abraçar o mundo e o Outro, que neste entardecer de nossas vidas, pode ver a sabedoria alçando voo somente a noite, quando todos os gatos são pardos e o prazer toma conta de nossas alcovas.

Eu tenho vergonha é dessa geração de coitados, Enzos e Valentinas, nascidos tarde demais para ver os Stones e o AC/DC em algum lugar ou pegar uma onda em Saquarema (RJ), enquanto Raul e Rita Lee, enlouquecidos pelo ácido, embalavam as fogueiras ao pé da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Cringe é esse bando de anime, que acha que lutar por um mundo melhor é acabar com a língua portuguesa introduzindo a linguagem neutra, esquizofrenia social que nega a realidade em si, mas, ainda querem falar mal das línguas dos anjos nas igrejas cristãs e bolsonaristas. Somente sei que estou no fim da civilização e estava desesperado para sentir algo até o longo do fim dos meus dias. Quase pensei em me ajoelhar e pedir ao Senhor: manda logo o cometa, senhor dos exércitos! Quero ser arrebatado, junto com a Baby Consuelo, para o reino dos céus!

Mas…neste final de semana aconteceu um milagre…uma janela com direção ao infinito se abriu…

Dedico a Michele Tamagno

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