segunda-feira, 29

de

abril

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2024

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Fantasmas dançantes das noites de Réveillon

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Meus fantasmas lembram cirandas de um tempo de sonhos

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Espalham-se, multiplicam-se no espaço, levemente azulado pelo clarão de uma lua crescente que timidamente inicia sua noturna jornada, coloridas luzes a encetar a sua dança triunfal.

Continuam em seu ritmo, em seu encantamento, em suas fulgurações nesta insone madrugada que não se cansa de ser insone, que não se cansa de ser madrugada.

Fantasmas dançam entre as sombras, fantasmas dançam entre os sons, fantasmas dançam em meio às cores que dançam em meio às luzes que em meio delas dançando se infiltram.

Os meus fantasmas têm cores, os meus fantasmas têm sons, histórias os meus fantasmas têm. Meus fantasmas lembram cirandas de um tempo de sonhos.

Reluzem em meio à fantasmagoria que inunda os céus nesta noite grávida de alegria, grávida de gratidão, grávida de euforia.

Nebulosas são as memórias que circulam entre as tênues linhas que separam a concreta consciência do absoluto abstrato de um reluzente mundo que se fez distante apenas na névoa do tempo. De um reluzente mundo que aqui eu vejo e sinto tão nítido nos momentos todos em que os sons do meu enlevo só lágrimas vertem no acalanto da hora.

É de saudade esta lágrima quente e úmida que escorre? Não sei se é ela, a saudade, que me faz ver estes fantasmas que insistem em perambular pelas névoas de minha mente brincando comigo nos momentos mais diversos de meu diário caminhar.

É de dor esta lágrima quente e úmida que escorre? Seria ela, a dor da alma tão intensa que me faz vislumbrar as etéreas linhas que se entrelaçam entre o turbilhão de luzes que no infinito se dispersam e se multiplicam como estrelas em decomposição?

E os meus fantasmas a vaguear em meio ao fogaréu do espaço, ante os meus olhos tristes me olham.

Seriam olhos de gatos que brilham na noite azulada entre os finos clarões desta fantástica pirotecnia? Seriam gotas do orvalho da madrugada que dançam e brilham na dança que minh’alma não cansa de olhar?

Não! São apenas as lembranças, são apenas a saudade que dentro de minh’alma habita.

São coloridos fantasmas que nesta insone madrugada transitam pelo espaço azul ao meu redor, semelhantes a minúsculos astros que de meu jardim se aproximam como se impregnados estivessem dos mais belos momentos vividos em êxtase, em alegria, em felicidade.

Como se o amor lá do alto acenasse, sorrisse, cantasse e contasse… Ah! Os poemas do amor espalhados em cada folha, em cada gota do luminescente orvalho desta minha imaginária floresta que nasce e renasce nas noites de réveillon… Nesta tão verde floresta quanto a esperança de ver o meu abstrato livremente fluir entre os luminescentes pingos que inundam esta noite tão linda, entre os luminescentes pingos que escorrem pela grama e pelas flores do jardim, pelo chão onde escorrem estas gotas de luz que do infinito emanam nas noites tristes da alma.

Ah! Os poemas de meu pobre amor, de meu tão maltratado, tão vilipendiado, tão sofrido, tão enterrado amor dentro de sua abstrata alma corroída nos espasmos depressivos que a sua vida envolveu.

O amor ali, sangrante, entre as sombras deixando fluir seu místico sorriso em meio às ilusões.

E o amor veste as flores, veste a grama, veste um jardim inteiro com seus poemas envoltos em neblina. Impregna-se com os raios luminosos que as névoas atravessam. Absorve-os, torna-se diáfano e reluzente num misto de todas as cores apreendidas de um arco-íris misterioso que o seu todo envolveu.

Ah! Então eu sabia. Desde o começo era ele, ele, o amor que atraia o meu olhar, a minha alma, para aquele espaço multicolorido, irreal, diáfanas imagens misto de fantasmas e paixões que ao se formarem entre os luminescentes pingos dançantes, entre as luzes dançantes, entre as sombras dançantes fizeram o meu eu transformar-se neste imenso mar salgado carregado com tantas lágrimas de saudade.

Tênues, muito tênues começam as danças das luzes que encantam as noites de minha alma. Tênues, leves perdem-se no ar, sem sentido nenhum a tomar, nesta dança sem fim. Ante a minha visão aturdida de semicerrados olhos transmutam-se as luzes… são fantasmas dançantes a esgueirar-se em voluptuosos movimentos ao som dissonante de crepitantes fogos que não cessam de ser fogos, que não cessam de ser sons.

Meus fantasmas dançam em meio ao pirotécnico espetáculo pelos céus. Na mudança de cores e tons insinuam-se os meus fantasmas. Seu tênue e manso início, levemente azulado, vai aos poucos, aos pedaços alongando-se em ferinas línguas de fogo de fantasmagórica mistura de cores.

No céu labaredas multicoloridas volteiam nas mais contrastantes direções sob a ação de um vento que se insinua entre elas e não cansa de ruflar. Imiscuem-se os meus fantasmas entre nesgas de brancas nuvens parecendo zombar de mim que nem perto mais consigo chegar.

Estática e pétrea incrusto-me em marmóreo manto. Nem a mente consegue mais discernir o espaço em frente onde, até há pouco, em meio à fumaça e às nuvens, encontravam-se os olhos que com tão forte magnetismo me fitavam.

Em suas rubras cores vestidos os meus fantasmas enrodilham-se, escondem-se, entrelaçam-se, movem suas línguas flamejantes numa ânsia doida e doída para atingir o clímax antes que finde o seu fugaz viver.

Eis, então, que surge, no centro daquela fulgurante luminescência de múltiplas cores, no centro de todas as luzes de múltiplos tons, a mais branca e mais pura, o fantasma que brilha com maior intensidade dentre todos os fantasmas que o rodeiam, dentre todos os fantasmas que se movem ante a minha atônita visão.

Apenas ele, somente ele tem o dom de iluminar a noite azul que pelo infinito se alonga para além deste muro que, há milênios, implacável se estende à nossa frente, a nos segregar, a nos separar.

Em meu sonho, entre a mística pirotecnia eu mergulho. Por entre as luzes o meu corpo fluídico navega ao sabor dos ventos que o seu calor gera ao encontrar-se com as frias paredes do infinito além.

Das profundas brumas do sonho eu retorno. Tristes fantasmas são agora apenas pequenos espaços em meio à fumaça, em meio à névoa de remanescentes fogos que ainda atingem os céus.

Os meus fantasmas transformam-se em voluptuosas bailarinas que em meio ao nevoeiro da madrugada lançam seus últimos olhares faiscantes para mim.

Os meus fantasmas emergem da névoa e em meio ao espaço ainda enfumaçado, meio cinza, meio dourado ascendem e evolam-se no ar em meio ao clarão de uma tênue lua crescente.

Os meus fantasmas emaranham-se entre as nuvens onde eu contemplo a suavidade de teu rosto, onde se encontram os contornos de teu corpo e onde ainda ouço a ternura de teus versos.

Por que estes artefatos pirotécnicos que se transformam em meus fantasmas tentando queimar a tua imagem, não queimam também esta saudade?

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