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Condenações a integrantes do PGC mostram que políticas públicas nem sempre são o suficiente

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Distrito onde nasceu célula da facção é assistido por vários programas sociais

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COLUNA DE DOMINGO No julgamento que já entra para a história como o maior em número de réus na comarca de Canoinhas o advogado de defesa Charles de Brito perguntou a Jenifer de Agostinho, a Maléfica, até que ano ela estudou. “Até o nono ano (do ensino fundamental)”, respondeu. “Qual a situação do bairro São Cristóvão, onde você morava?”, questionou o advogado. “Precária”, respondeu. “O fato de ter estudado até o nono ano de alguma forma te barrou no mercado de trabalho?”, indagou o advogado.

“Sim, porque a maioria dos serviços tem de ter ensino completo”, respondeu afirmando que foi atrás de vários empregos, mas não conseguiu.

O que impediu Jenifer de cursar, ao menos, o Ensino Médio? E de conseguir um emprego?

O distrito do São Cristóvão, em Três Barras, é, talvez, o mais bem assistido assistencialmente da região. As famílias de baixa renda do distrito recebem sacolões mensalmente do Município. Além disso, o distrito tem um posto de saúde que funciona até altas horas e um Centro Educacional que oferece cursos profissionalizantes e deve receber em breve alunos em tempo integral, com três refeições diárias. Além das políticas públicas municipais, várias ONGs e trabalhos sociais promovidos por igrejas de diferentes credos já passaram pelo distrito.

Seria simplista dizer que entra para o mundo do crime quem quer, mas no caso do São Cristóvão talvez essa expressão popular não esteja tão errada assim. O Caic fechou uma série de cursos profissionalizantes por falta de alunos (veio a pandemia e os cursos se acabaram de vez). Há uma creche que atende o dia todo para facilitar a vida das mães que trabalham fora. Mas será que tem trabalho?

Basta ver a página de empregos aqui do JMais ou ouvir nas emissoras de rádio. A Brasnile, por exemplo, vive um constante déficit de operários. A exigência é o ensino fundamental. A WestRock, por sua vez, tem dificuldade em encontrar mão de obra especializada, problema compartilhado pela Mili. Juntas, estas empresas geraram 47,5% da arrecadação de Três Barras no ano passado. É dinheiro que reverte em investimentos em Educação que, só no ano passado, consumiu 26,5% de toda a arrecadação.

Em 2019 o Ministério Público interveio na distribuição dos sacolões e mandou retirar da lista de beneficiados quem não mandava os filhos para a escola e que tinha envolvimento com o tráfico. Até então não havia essa peneira.

Dentro desse cenário, é espantoso imaginar que uma facção criminosa tenha seduzido tantos jovens do distrito. Talvez quem acompanha o cotidiano do distrito mais de perto não tenha se surpreendido. É preciso considerar que o crime tem seus atrativos. É um atalho, que desconsidera todo o esforço da educação e o suor do trabalho braçal, mas que pode resultar em 40 anos de prisão, como é o caso de Jenifer. Espantosamente há quem aceite pagar o preço.

A discussão sobre os motivos que levam ao mundo do crime dentro de determinado contexto é complexa e nem um pouco simplista. A coluna de hoje é uma pequena provocação sobre o assunto, tão somente.

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