sexta-feira, 26

de

abril

de

2024

ACESSE NO 

A traumática história de Meaghan

Últimas Notícias

Avançou com selvagem impetuosidade parecendo que uma manada de touros indomados tivesse se jogado sobre ela

- Ads -

A narração que Meaghan fazia de sua vida fora interrompida, momentaneamente, enquanto Alfred, o garçom amigo dela, colocava na mesa de jantar um delicioso prato de peixes frescos que os marinheiros haviam captado no mar naquela manhã.

— E então, Meaghan, sua mãe aceitou as desculpas de Howard?

Ela estava quieta, sem saber se seria de bom tom continuar a narrar os percalços de sua vida enquanto jantavam. O estímulo de George fê-la continuar.

— Sabe George, naquela ocasião não entendi bem tudo o que Howard falou. Mas lembro-me bem que ele falava sem parar.

“Era isto que eu precisava desabafar. Eu nunca cessei de lhe procurar, Eileen. Porque você era a mulher dos meus sonhos. Acontece que eu era inconsequente e não sabia o que viria depois. Queria apenas usufruir do momento. Mas você nunca saiu de minha mente. E então eu a vi nas ruas de Londres com esta menina a seu lado. Calculei a idade dela e conferi com o dia em que as gêmeas nasceram. Continuei sondando os seus passos até o dia em que tive coragem de me aproximar e lhe entreguei aquelas duas maçãs. Porque foi no pomar do castelo de Sworth que eu a vi pela primeira vez quando estava a comer uma rubra maçã. Aquela imagem nunca saiu de minha mente. Agora, Eileen, você me deixaria muito feliz se aceitasse ser minha esposa e me deixasse abraçar minha filhinha e pedir perdão por todas as angústias que fiz vocês passarem.”

O palacete era espaçoso, com muitos cômodos e uma extensa área verde. A mãe de Howard recebera como herança de família. Ela se casara com um rico comerciante inglês o que deixou seu irmão, o Conde de Sworth, meio sem saber o que dizer ou fazer. Gostara muito do seu pretendente e queria a sua felicidade. Ele não tinha intenções de algum dia morar na Inglaterra. A família possuía, como herança de seus antepassados, aquela propriedade em Stratford Upon Avon onde o jovem casal foi viver. Ambos tiveram uma vida muito curta deixando órfão o ainda adolescente Howard. Que ficou sob a guarda do tio, vivendo por alguns anos na Irlanda.

Eileen aceitou o pedido de Howard e com ele se casou. Mas para Meaghan aceitá-lo como pai demorou algum tempo ainda.

Como Howard tinha negócios pendentes na França passaram a residir em Paris para onde partiram os três em um belo dia de verão. Demoraram-se por lá quase dois anos. Nesse tempo Meaghan estudou em um colégio onde aprendeu também o balé clássico. Mas o que mais encantava a menina era ficar na entrada dos cabarés parisienses a ver as moças que dançavam na porta para atrair os clientes. Ficava embevecida a olhar aquelas saias rodadas que flutuavam no espaço enquanto as esguias moças faziam suas evoluções. Até falou para os pais que algum dia seria uma bailarina igual a elas. Recebeu em troca uma tosca repreensão. Na época não conseguiu entender a razão por não mais permitirem que por aquelas bandas ela andasse.

Logo que retornaram para Stratford Upon Avon Howard começou a reclamar de algumas fisgadas em seu peito. Fisgadas que o deixavam até sem ar. Certa manhã, ao sair de casa para resolver alguns assuntos oficiais, ao entrar no coche levou a mão ao coração dando um grito de dor tão agudo que espantou todos os pássaros do bosque. Em instantes foi ao solo sem dar tempo para um socorro. Inerte, sem respirar, ali ficou.

As cerimônias fúnebres foram realizadas no palacete. O filho, Howard Junior apareceu apenas no dia seguinte, com um tio e sua avó, viúva já do velho juiz. Fizeram-se acompanhar de um membro do poder judiciário da cidade e de mais um advogado. Provaram pela documentação apresentada que aquela propriedade pertencia, legalmente, ao jovem. Mostraram-se apiedados com a situação de Eileen e Meaghan, condescendo que ali ficassem por mais alguns dias.

Howard Junior passou a viver no palacete juntamente com seu tio. As duas eram tratadas como intrusas e ali permaneceriam como empregadas.

Eileen disse para a filha que aceitaria ficar, por algum tempo, mesmo como serva, até que conseguisse juntar algum dinheiro para partirem e reiniciarem a vida em outro local.

Steven, o tio de Howard Junior refestelava-se no palacete e agia como se fosse proprietário. Sempre vivera às custas dos pais e agora encontrara a mansão de seus sonhos para morar. Enchia a casa de amigos para inúmeras festas. No dia de seu aniversário queria fazer algo mais estonteante para exibir o que haveria de melhor para se comer e beber e dançar. Já cedo, após a primeira refeição, deu ordens à Eileen e à Meaghan para que arrumassem todos os cômodos pois iria receber muitos hóspedes. Também ordenou a Eileen que fosse ao mercado a fim de comprar tudo o que fosse preciso.

Meaghan encontrava-se absorta a arrumar um dos quartos quando Steven irrompe, subitamente, com mais dois amigos que naquela manhã já haviam chegado. Avançou com selvagem impetuosidade parecendo que uma manada de touros indomados tivesse se jogado sobre ela. Como não conseguia desvencilhar-se de seus fortes braços a menina cravou os dentes no rosto de Steven enterrando, com força, suas longas e afiadas unhas em seu torso, numa tentativa de defender-se. O revide veio de imediato na forma de uma violenta bofetada diretamente em sua região temporal, fazendo-a perder os sentidos.

Foi então que a bacanal teve início. Com os três usufruindo da pobre menina desacordada. Só não a deixaram inválida para o resto da vida porque ouviram o tropel de cavalos e o rodar dos coches de outros convidados que já estavam a chegar. Atiraram-na, às pressas, para dentro do quarto da mãe, que ficava ao lado. Rapidamente ajeitaram seus trajes, limparam os vestígios de sangue e esperma, abotoaram suas vestes, desceram a escadaria e, sorrindo como se nada demais houvesse acontecido, foram dar as boas-vindas aos recém chegados.

Quando Eileen retornou com as compras e perguntou pela filha, que àquela hora já deveria estar na cozinha a iniciar os preparativos, recebeu de Steven uma cínica resposta.

— Deve estar dormindo depois de se deleitar nos braços dos rapazes que nos servem…

Não acabou de proferir a frase. Recebeu uma sonora bofetada em seu rosto. Mais outra marca sobre a que Meaghan já deixara ao nele cravar seus dentes. Eileen ainda viu um fio vermelho a escorrer de sua boca. Correu aos aposentos da filha. Não a encontrou. Nisto ouviu um leve gemido. Que vinha de seu quarto. Correu lá e viu-a estendida no chão. Ao lado uma poça de sangue. Rubro sangue que escorria de suas entranhas. Tomou-a nos braços, desceu a escadaria dos fundos do palacete e correu até a cocheira. Quando tentava encilhar um cavalo e atrelá-lo a uma charrete, William, o velho cocheiro acabava de entrar. Correu a ajudá-la e, às pressas, dirigiram-se a um hospital. Uma cirurgia de emergência foi realizada. Foram dias de angústia. Meaghan entre a vida e a morte. O médico garantia apenas uma coisa para Eileen.

— Não posso dizer que ela sobreviverá. Perdeu muito sangue. A cirurgia foi grande. Infelizmente o útero também foi rompido. Fui obrigado a extirpá-lo e se ela conseguir superar esta fase e ficar viva, jamais poderá ser mãe.

A tristeza de Eileen era do tamanho do mundo. Pediu ao cocheiro que pegasse suas coisas, bem como as da filha e as trouxesse ali no hospital. Para o palacete ela jamais regressaria.

Foi com mil malabarismos que os criados conseguiram, às escondidas, juntar os pertences das duas. E mais fizeram aquelas boas pessoas. Entregaram parte de suas economias para que elas pudessem começar vida nova em outras terras.

E Steven? Continuou a viver nababescamente com a herança que Howard Junior recebera. Mas alguém precisaria pagar os honorários dos médicos que atenderam Meaghan e as despesas hospitalares. Howard Junior foi intimado na justiça. O crime acontecera em sua propriedade. Tinha como atenuante o fato de ser menor de idade e que não participara da ação. Jogou tudo em cima do tio.  Steven acostumado que seu pai juiz sempre o protegia, debochou das notificações recebidas. Mas seu pai já não existia mais e ele foi obrigado a implorar para que o sobrinho pagasse as dívidas.

***

— Quando eu falei para você que eu era de Stratford Upon Avon era a verdade dentro de mim, pois foram, de início, os melhores anos de minha vida. Sou irlandesa, no entanto. Nasci no mesmo castelo em que você nasceu. Alguns anos antes, claro.  Mas agora precisamos retornar ao nosso convés, George. O meu amigo Alfred, o garçom, já me fez um sinal. Outra hora contarei o resto. Se estiver interessado em saber.

George ofereceu-lhe o braço e desceram as escadarias até o convés inferior.

A brisa suave da noite, ao soprar entre os cordames do navio, emitia sons como se alguém a solar um violino estivesse a fazer uma serenata de amor para eles. Recostaram-se sobre a amurada a olhar o movimento das ondas na tênue luz emitida pelos lampiões. Um frêmito de embevecimento tomou conta de ambos. Nada havia a dizer. Ela fez menção de recolher-se para sua cabine. George não largava seu braço. Caminharam até o fundo do corredor mal iluminado. Detiveram-se junto à portinhola. Ela sussurrou-lhe um boa noite enquanto, trêmula, não conseguia mover a fechadura. Quando deram por si estavam os dois abraçados dentro do cômodo. E assim seguiram pelo estreito espaço até o último beliche.

 Durante o longo beijo que os unia Meaghan começou a desabotoar as vestimentas de George. Enquanto desatava o laço de sua gravata, ele, timidamente, começou a desabotoar os botões do vestido em suas costas até vê-lo cair a seus pés. Então uma a uma as peças de roupa amontoavam-se pelo chão. Deixaram-se cair sobre um beliche recheado de macios travesseiros. Intimamente Meaghan sorriu. Era o presente de suas companheiras. Haviam preparado um leito de amor para que na maior suavidade passassem aquelas horas.

- Ads -
Olá, gostaria de seguir o JMais no WhatsApp?
JMais no WhatsApp?