O Brasil vive dívidas elevadas, juros exorbitantes, expectativas fiscais frágeis e uma política econômica sem rumo
Jorge Amaro Bastos Alves*
Em tempos de populismo fiscal e revisionismo econômico, volta ao centro do debate uma proposta que desafia a lógica elementar da boa política monetária: a Teoria Monetária Moderna (TMM). Com roupagem sofisticada e aparência de modernidade, a TMM defende que governos soberanos, que emitem sua própria moeda, podem gastar sem limites, financiando-se por meio da simples emissão de dinheiro. Trata-se, no entanto, de uma doutrina que ignora as bases sólidas da ciência econômica, e mais grave ainda, repete erros históricos que já levaram nações ao colapso.
O argumento central da TMM é que o endividamento público não constitui um problema, desde que seja emitido na própria moeda nacional, e que eventuais pressões inflacionárias seriam contidas por aumentos pontuais de impostos. Essa visão subestima profundamente a complexidade das economias reais, como alertam os economistas Antony Mueller e Samuel Vaz‑Curado. Em estudo de 2019, ambos demonstram que os déficits ilimitados cavaram tumbas econômicas, da Espanha do século XVI à Alemanha da hiperinflação pós‑Primeira Guerra Mundial, e que a América Latina sofreu ciclos similares no Chile, Peru, Bolívia, Argentina, Venezuela e Brasil dos anos 1980.
Milton Friedman já ensinava que “a inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário”, e Thomas Sargent destacou como expectativas desancoradas se tornam gatilhos de crises. O economista Adolfo Sachsida reforça que metas frouxas desembocam em inflação, que por sua vez exige juros ainda maiores, travando o investimento e penalizando os mais pobres. Fato é que a expansão monetária contínua rompe sinais de preço, distorce a alocação de recursos e gera ciclos artificiais de crescimento seguidos por correções. Estabilidade monetária é pré‑requisito para poupança, investimento e prosperidade de longo prazo.
O Brasil atravessa, neste exato momento, um cenário preocupante de instabilidade fiscal. O Instituição Fiscal Independente (IFI) calcula que em 2030 a dívida bruta do Brasil passará 100% do PIB. Em vista disso, o governo sinaliza uma postura desorientada, marcada por ações pontuais, de curtíssimo prazo, sem a necessária ancoragem em um plano fiscal robusto. O resultado dessa ausência de estratégia coerente é o agravamento da percepção de risco: o crescimento estagna, o custo da dívida sobe e a credibilidade do Banco Central é corroída. Nesse contexto, qualquer aproximação com as teses da TMM funcionaria como catalisador do colapso.
O Brasil vive um ponto crítico: dívidas elevadas, juros exorbitantes, expectativas fiscais frágeis e uma política econômica sem rumo. Resgatar a credibilidade exige compromisso firme com o equilíbrio fiscal, autonomia efetiva do Banco Central e metas de inflação críveis e estáveis. A TMM propõe exatamente o oposto: acelerar gastos e emitir moeda como se não houvesse consequência, ignorando as lições do passado e reforçando tensões inflacionárias que já são visíveis. Defender a economia liberal, com responsabilidade fiscal, metas claras e instituições independentes, não é uma escolha meramente ideológica: é um caminho necessário para resgatar a confiança, garantir estabilidade e construir uma trajetória sustentável de crescimento. Ignorar isso é assinar um cheque sem fundos contra o futuro da nação.
