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A ignorância e a deputada

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Proposta de Ana Caroline Campagnolo revela mais uma tentativa de se alimentar do radicalismo

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COLUNA DE DOMINGO Dizer que o Brasil é um país que pouco valoriza a educação é chover no molhado. É necessário reconhecer, no entanto, que a desvalorização da educação não parte só dos gestores públicos. Vem de quem foge das aulas, de quem finge que estuda e do paternalismo de Estados e Municípios que fazem um acordo tácito com maus alunos: fingimos que ensinamos e você finge que aprende. Todos ficam felizes e passam de ano.

Parte, também, de maus professores que, descontentes com os baixos salários, não se especializam nem se atualizam em um mundo com a informação tão acessível. Transformam-se em um tumor dentro das escolas. Sim, não são todos, mas esses professores existem. Se existem.

Esse cenário de deseducação é terreno fértil para profetas do apocalipse e oportunistas. Se você não tem acesso à ciência, aos estudos baseados em evidências e afins, mais fácil de acreditar em qualquer um que tenta te convencer de uma boa teoria da conspiração e, até, de ignorar vacinas, uma das maiores conquistas da humanidade aperfeiçoada a partir de uma curiosa descoberta (mulheres que ordenhavam vacas com varíola desenvolviam a doença quase que assintomáticas, ao contrário de quem não tinha contato com essas vacas que, invariavelmente, morriam da doença. Logo, o contato superficial com o vírus daria imunidade) por vários cientistas a quem devemos nossas vidas. De quantas doenças nos livramos logo na infância graças às vacinas? Inúmeras!

Eis que nesta semana a deputada estadual de SC, Ana Caroline Campagnolo (PSL) apresenta projeto de lei que busca vedar a vacinação compulsória e garantir a livre locomoção, assim como proibir sanções aos servidores e agentes públicos que recusarem o procedimento.

Em dezembro de 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que estados e municípios podem decidir pela aplicação ou não da obrigatoriedade. Um dos requisitos para que isso aconteça é que, segundo a Corte, “os imunizantes tenham ampla informação sobre eficácia, segurança e contraindicações”.

“O processo de regulamentação de um medicamento é longo, rigoroso e custa muito caro para a indústria farmacêutica. Ele deve cumprir diversas etapas, desde as que antecedem seu uso por seres humanos até o acompanhamento após o lançamento – para comprovar que aquele produto não incorrerá em reações prejudiciais à vida das pessoas. Esse processo é chamado de ensaio clínico e, em circunstâncias normais, costuma durar mais de uma década”, declarou Campagnolo.

A preocupação da deputada é anacrônica já que mais de 20% da população catarinense já tomaram as duas doses da vacina anticovid. Quem tomou as primeiras doses da coronavac está imunizado desde fevereiro. Ninguém desenvolveu nada próximo de efeito grave da vacina. Mas a deputada ignora a verdade que grita em nossas caras há mais de um século: são insignificantes os casos de efeitos colaterais graves das vacinas, incluindo, claro, a da covid.

Nos últimos meses o Ministério da Saúde, através do Sistema Único de Saúde (SUS), já imunizou mais de 102 milhões de brasileiros em todo o território nacional, o que representa quase 50% da população brasileira. Em Santa Catarina foram pouco mais de 5 milhões de doses aplicadas até o momento, sem nenhum relato de efeitos colaterais graves. Há, sim, relatos de mortes por covid, mas nunca se falou que nenhuma das vacinas têm blindagem 100% contra óbitos. Pode acontecer, sim, mas está bem claro que o vacinado tem menos chance de morrer, senão não teríamos a queda de casos ativos e mortes que estamos vendo em todo o País.

Mas Ana Paula sabe disso. Estudiosa, ela arrumou encrenca com uma professora porque a docente feminista se recusava a orientar uma dissertação antifeminista. Articulada, ela defende com unhas e dentes seus ideais e tem se destacado pela intransigência na Assembleia. Desconhecida até então, se elegeu na onda 17. Fiel defensora de Jair Bolsonaro, embarcou em uma onda que não parece ser a sua. Inteligente, contudo, se deu bem ao fazer uma aposta certeira: abraçou o bolsonarismo e ganhou o cargo. Sabe que só se manterá na política se for fiel ao povo que a elegeu. Esse povo é o citado no início do texto. Campagnolo é cobrada por seu eleitorado e responde com projetos esdrúxulos como este. Usa o lindo discurso da “liberdade” para defender que as pessoas decidam se querem ou não ser imunizadas. A questão teria alguma legitimidade não fosse essa doença altamente contagiosa. Em nome da liberdade dos insanos que a seguem, os outros que se danem.

Algum deputado sensato poderia propor duas emendas a esse projeto: 1) pode se recusar a se vacinar desde que pague multa de x reais se comprovadamente infectar alguém; e 2) caso venha a contrair a doença no seu estágio grave, que arque com os custos do internamento. E não adianta dizer que já paga o SUS. Quem se vacinou também paga.

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