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Uma outra vivência é possível?

Imagem:Freepik

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Mesmo quando não estamos no trabalho, sentimos que precisamos ser produtivos

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A sociedade industrial avançada, ao invés de nos libertar, nos aprisiona em uma única dimensão do pensar e do viver. Costumamos ver o progresso técnico como uma vitória. Os avanços tecnológicos tornam nossas vidas mais fáceis, nossos trabalhos mais rápidos e nossas distrações mais acessíveis.

No entanto, Marcuse alerta para o fato de que essa mesma tecnologia, quando guiada pelos interesses econômicos, cria um sistema de controle sutil, mas eficaz. Esse controle não se dá apenas por coerção, mas por persuasão, ao moldar nossos desejos, nossas aspirações e, em última análise, a nossa percepção da realidade.

Imagine a propaganda de um novo smartphone. A mensagem promete felicidade, conexão e estilo. Mas, será que precisamos realmente daquele objeto? Marcuse argumenta que a sociedade industrial cria falsas necessidades. Essas necessidades não vêm de dentro de nós, mas são implantadas por um sistema que depende do consumo incessante, potencializado em momentos como a Black Friday e o Natal que está chegando.

É como se estivéssemos constantemente tentando preencher um vazio com produtos e experiências que, na verdade, não nos satisfazem de forma duradoura. O que sentimos, portanto, não é o prazer profundo que surge de uma vida autêntica, mas uma espécie de satisfação superficial, que nos mantém ocupados e conformados.

Por isso, Marcuse chama a atenção para a ilusão de liberdade. Achamos que escolhemos nossos caminhos, mas muitas vezes apenas seguimos trilhas cuidadosamente pavimentadas por interesses externos. Comprar, trabalhar, consumir, esses atos são apresentados como liberdade, mas, na verdade, são manifestações de uma lógica que nos limita a uma única dimensão: a de consumidores dóceis e obedientes.

Em uma sociedade onde as necessidades básicas já foram amplamente atendidas, seria de se esperar que tivéssemos mais tempo e energia para a criatividade, o lazer e a reflexão. No entanto, o sistema encontra maneiras de nos manter ocupados, ansiosos e dependentes.

Um exemplo disso está na cultura do desempenho. Mesmo quando não estamos no trabalho, sentimos que precisamos ser produtivos: lendo mais livros, melhorando nossas habilidades ou alcançando metas pessoais. Essa pressão constante transforma até o lazer em uma forma de trabalho, roubando de nós a possibilidade de contemplação e resistência.

A educação, por sua vez, muitas vezes reforça esse padrão. Em vez de nos ensinar a pensar criticamente, ela nos prepara para nos ajustarmos ao sistema. O resultado é uma população que raramente questiona o status quo e que aceita como inevitáveis os problemas sociais e ambientais causados pela lógica do crescimento ilimitado.

Se Marcuse fosse apenas um crítico, sua obra poderia ser facilmente descartada como pessimista. Mas ele nos oferece algo mais: uma visão de como resistir. Para ele, a chave está na imaginação e na capacidade humana de transcender a realidade presente.

Precisamos recuperar o que ele chama de “grandes recusas”, o ato de dizer não ao que nos é imposto como necessário ou inevitável. Isso não significa rejeitar a tecnologia ou o progresso, mas usá-los de forma consciente, para criar uma sociedade que valorize o ser humano em sua totalidade, e não apenas como peça de uma engrenagem produtiva.

E aqui está a grande provocação de Marcuse: será que ainda somos capazes de imaginar uma outra forma de vida? Uma vida que não esteja limitada ao consumo, à produtividade e à satisfação superficial?

Diante de um mundo em crise, a mensagem de Marcuse é mais relevante do que nunca. Vivemos em uma sociedade que oferece muitas respostas, mas poucas perguntas. Cabe a cada um de nós o desafio de romper com a ilusão de que vivemos em plena liberdade.

Quando olharmos para o espelho, ou para a tela de nossos dispositivos, que imagem veremos? A de indivíduos autônomos, críticos e criativos? Ou a de consumidores satisfeitos, mas anestesiados?

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