Abbott Elementary é comédia leve e otimista
Jamais esquecerei de uma história contada por um professor da rede pública de ensino que me contou, certa vez, que ao entrar para o corpo docente de uma escola municipal, viveu momentos de tensão ao, com a maior tranquilidade do mundo, se servir de café e açúcar no intervalo na sala dos professores. Pesou sobre seus ombros o olhar de reprovação dos colegas. Descobriria, depois, que havia um rodízio na escola: a cada dia um dos professores trazia o café e o outro o açúcar. O Município estava nem aí para o momento de descanso dos professores.
Perrengues como este viram motivo para riso em Abbott Elementary, série fofinha do Star+ que já está em processo de gravação da segunda temporada dado o sucesso da primeira, vencedor de dois Emmys, o Oscar da TV.
Abbott Elementary se passa justamente em uma escola de ensino fundamental mantida por uma congregação cristã e submetida a um conselho bem pão duro. Por isso, os professores têm de usar a “criatividade” para resolver os dilemas do dia a dia como a falta de tapete nas salas, a merenda ruim ou a simples falta de material didático.
Todos os personagens facilmente encontráveis nas escolas da rede pública da sua cidade estão lá. A professora mais velha que tem certeza de que nada vai dar certo, a malandra que finge dar aula, o inseguro e o frustrado. Protagonizando a história está a criadora da série, Quinta Brunson, que vive a super empolgada Janine, sempre disposta a fazer algo revolucionário, o que, não fica bem claro, parece ser muito mais um alimento para o próprio ego do que um nobre pensamento coletivo.
Descrevendo até parece algo amargo, mas vai por mim, não é. Abbott Elementary tem leveza e conquista a partir do segundo episódio. O estilo documental, acertadamente, ajuda a criar intimidade com os personagens, mas nada supera a identidade que temos com os nossos ambientes escolares. O mais assustador é pensar que até nos Estados Unidos a realidade é essa.
