Minissérie apresenta Ayrton como um ser quase perfeito
SENNA
É evidente que ninguém é perfeito. Mas para a produção de Senna, uma das produções mais caras da Netflix, Ayrton Senna é quase perfeito. Até a ambição e teimosia, traços mais fortes de sua personalidade evidenciados na história, são canalizados para o lado positivo. Tornam-se determinação.
São inquestionáveis as qualidades de Senna como esportista, capaz de transformar a história da elitista Fórmula 1. Foi ele quem obrigou, meio que goela abaixo, os xenófobos da modalidade de que estrangeiros como ele poderiam fazer tanto quanto qualquer europeu pelo esporte.
De modo geral, a minissérie impressiona e empolga, com corridas de tirar o fôlego, gravadas com uma definição hipnotizante. O roteiro não é ruim, o que incomoda mesmo é essa tentativa de retratar Senna como um ser perfeito, algo que certamente veio da família, que teve controle sobre a narrativa.
Muito se falou sobre o destaque dado a Xuxa, em detrimento do relacionamento amoroso mais longo que Ayrton teve, de fato, com Adriane Galisteu.
Gabriel Leone, o intérprete de Ayrton, explicou em uma entrevista que não foi intencional, mas sim uma questão de recorte. Nos dois anos que Ayrton passou com Adriane ele não ganhou título mundial, logo, o roteiro praticamente pula de 1991 para 1994, ano de sua morte.
Aliás, falando em Leone, o ator se firma mais uma vez como um dos maiores talentos de sua geração. Foi de um agressivo e platinado Dom para um fofo e encantador Ayrton Senna.
Como entretenimento, a minissérie cumpre seu papel lindamente. Como biografia, contudo, falha ao não mostrar as vulnerabilidades do ídolo. Pode parecer implicância, mas sempre desconfio de ídolos absolutos. Acho um perigo, aliás. Ídolos imperfeitos são muito mais interessantes.