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Saúde Única entra em cena

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Consolidar oficialmente a abordagem Saúde Única no contexto da vigilância epidemiológica é desafio

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Daniela Pedrassani*

Na atualidade, sabe-se que 75% das doenças emergentes infecciosas que acometem seres humanos, algumas causando grandes impactos, como a influenza, a covid-19 e o ebola, tiveram origem animal. Também é reconhecido que, em média, cinco novas doenças aparecem todos os anos e que três delas são decorrentes da interação humano-animal. Ainda, 80% dos agentes patogênicos que apresentam potencial para serem usados como armas de bioterrorismo são patógenos zoonóticos (ou seja, são transmitidos entre humanos-animais e vice-versa). Em 2020, a informação da transmissão inicial do SARS-CoV-2 de um animal para um ser humano foi um exemplo de como estas doenças podem ser transmitidas e têm nos dado a oportunidade de refletir sobre a necessidade de mudar a relação com o meio ambiente e por outro lado, levantar questões sobre de que modo as doenças como a covid-19 poderiam ter sido evitadas?

A pandemia de covid-19 nos trouxe um alerta sobre a importância da realização de uma abordagem preventiva de maneira holística e global no enfrentamento de doenças, e mais, face a frequência e recorrência das zoonoses a próxima pandemia que vamos enfrentar deve ter também sua origem em um patógeno zoonótico.

A Saúde Única (termo original “One Health”) é descrita pela Organização Mundial de Saúde e pela Organização Mundial de Saúde Animal como um esforço integrador de várias disciplinas trabalhando para alcançar a saúde ideal para pessoas, animais, plantas e o meio ambiente. Os defensores dessa abordagem reconhecem que os desafios globais de saúde exigem esforços colaborativos multidisciplinares. Com base nos aspectos apresentados, a abordagem Saúde Única é um conceito que permite instrumentalizar o desenho e aplicação de programas, realizar investigações e construir políticas, nos quais vários setores e protagonistas se comunicam e colaboram para obter os melhores resultados em termos de saúde pública. Os fundamentos do conceito de Saúde Única se baseiam na comunicação, coordenação, colaboração e complementação entre a saúde humana, animal e ambiental. Prevê uma abordagem colaborativa, multissetorial e transdisciplinar, que opera nos níveis local, regional, nacional e global, com o intuito de alcançar resultados, ideais de saúde e bem-estar, reconhecendo as interconexões entre pessoas, animais, plantas e o meio ambiente. Em 2019, o Ministério da Saúde criou, no âmbito da Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial, da Secretaria de Vigilância em Saúde um grupo técnico para tratar sobre o assunto, denominado Grupo Técnico Saúde Única.

Um dos desafios desse grupo técnico é estruturar e consolidar oficialmente a abordagem Saúde Única no contexto da vigilância epidemiológica das doenças infecciosas zoonóticas e agravos de relevância para a saúde pública causados por animais. Para melhor efetividade, diálogos com os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento têm sido articulados. Mas essas tratativas precisam avançar por meio da normatização sobre o tema nas normas do Ministério da Saúde, tais como por portarias, manuais e guias.

Desta forma, destaca-se a importância da incorporação do conceito de Saúde Única, como um eixo para promoção de perspectivas para o desenvolvimento de estratégias para a vigilância e controle de doenças, visto que podem passar a ser transmitidas de humano para humano e/ou circular entre animais, vindo a tornar-se amplificadores ou reservatórios de patógenos humanos e gerar crises mundiais de saúde, a exemplo da pandemia de covid-19.

Na data de hoje, 3 de novembro, em que comemoramos o Dia Mundial da Saúde Única percebe-se que o conhecimento dessa abordagem vem crescendo globalmente e que se mostra com uma ferramenta fundamental e necessária, na qual diferentes instituições podem atuar de maneira integrada com intuito de beneficiar a saúde humana e animal e a qualidade do meio ambiente. Essa estratégia permite que as ações realizadas tenham um maior impacto, de maneira mais oportuna e com melhor aproveitamento dos recursos financeiros e humanos.

*Daniela Pedrassani é médica veterinária, docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

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