Por fanatismo, poder ou vil metal, há quem celebre, faça escárnio e profira impropérios e mentiras
Alaércio Bremmer Maia*
Brasil, 2021.
Pandemia.
A morte faz festa ante tanta liberdade que lhe deram, e cogita até mesmo um ministério nos círculos políticos mais ilustres.
O patógeno circula, destrutivo, de norte a sul do país.
Diariamente morrem sonhos, gestos, amores, lembranças, sabedorias e trajetórias cheias de beleza aos milhares.
Por detrás das duras estatísticas, uma Maria que desejava se casar, um João que queria ser músico, uma Clarice a procura de sentido.
Cálidas luzes que se apagam.
Ausências que permanecem.
Mas há também aqueles que morreram em vida.
Por fanatismo, poder ou vil metal, há quem celebre, faça escárnio e profira impropérios e mentiras tantas sobre as pilhas de cadáveres.
Como corpos secos a quem Deus e o Diabo rejeitam, circulam pelas ruas, estão ao nosso lado, ocupam cargos políticos e se dizem até, vejam só, de nós e da vida representantes.
Indivíduos vivazes e corados por fora, mas podres e corroídos por dentro, porque no interno de si, pereceu a humanidade essencial e as capacidades básicas de ser, questionar e sentir.
Neste desolador cenário, o choro é silencioso.
Muitos perderam a faculdade de se espantar e o absurdo fez-se normalidade.
A negação é a resposta.
O único plano é abrir covas.
A razão é quase um crime.
A omissão se tornou norma.
E aqueles poucos que ainda ousam dizer o óbvio são hostilizados.
Pergunta: neste lugar onde a insanidade é a lei, quem haverá de julgar nossos pecados?
Brasil, 2021.
Pandemia.
Pandemônio.
No fim das contas, ficou claro, registrado e provado, que o vírus é o menor de nossos problemas.
A doença é antes de tudo de ordem moral.
*Alaércio Bremmer Maia é licenciado em filosofia pela Universidade Estadual do Paraná.
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