Desta vez, vereador antes espinafrado pela categoria é aplaudido
CANTO DA SEREIA
COLUNA DE DOMINGO “Não acredito que a prefeita vai ter a cara de pau de mandar um projeto desses pra gente (…) Se ela mandar, vamos ver quem é o traidor da educação”. A frase é do vereador Osmar Oleskovicz (PSD) e foi dita da tribuna da Câmara na segunda-feira, 27, para uma plateia lotada de professores do Município de Canoinhas. Foi ovacionado.
Rebobine essa fita e dê o play em fevereiro de 2022. Troque-se uma palavra ou outra e coloque-as na boca da então vereadora Juliana Maciel Hoppe (PL) e o efeito é o mesmo: aplausos de professores que, incrivelmente, têm uma tendência em ceder a estratégias populistas.
O próprio Beto Passos, inicialmente amado pela categoria ao assumir dívidas históricas com a categoria, foi demonizado quando já prestes a ser preso reuniu a categoria para dizer que não seria possível sustentar os salários dos professores sob o risco de colapsar as contas públicas. Foi em frente a casa de Passos e de Osmar que os professores protestaram, com buzinaços puxados por, ora vejam, Juliana Maciel.
Professores são pela própria natureza da profissão, seres inteligentes. Se caem na esparrela do salvador ou salvadora da Pátria com tanta facilidade é porque ainda não entenderam a regra do jogo ou têm tendência ao autoengano.
Não é de hoje que essa categoria, um contingente formidável para qualquer político, é usada como massa de manobra de olho na eleição mais próxima. Como a categoria já percebeu, quem é vereador os usa para falar frases de efeito, dramáticas e cheias de impacto. O prefeito (ou prefeita, no caso) de turno que arque com o ônus do cargo. Ao invés de cobrar tem de executar e aí é que o bicho pega.
Ninguém em sã consciência nega direitos aos professores. É uma chaga para o Brasil desvalorizar a categoria profissional que deveria ser tida como a mais nobre dentre todas. Não é o que vemos, por óbvio. Não tenho dúvida que Osmar, muito menos Juliana, não querem reduzir salários, tirar direitos ou enfrentar uma categoria tão aguerrida e importante. Para políticos, querer tirar direitos de professores corresponde a uma perda política só mensurável nas urnas. Ou seja, além de pegar mal diante da opinião pública, é péssimo para quem tem ambições eleitorais.
Agora, fato é que a conta não fecha e é preciso tomar uma providência sob o risco de inviabilizar as contas públicas. Beto Passos tentou e só não concluiu porque foi preso. O problema, agora, está nas mãos de Juliana. Ela pode até postergar, mas o dilema só aumentará nas mãos do próximo prefeito, seja ela ou não.
Jogo jogado, os professores sabem disso. Por isso sigo não entendendo porque eles insistem em cair no canto da sereia do populista de turno.