Embora não tenha as nuances do texto fabuloso do autor, série convence
CEM ANOS DE SOLIDÃO
Havia um temor e até mau humor generalizado da crítica especializada com relação a versão da Netflix para uma das mais monumentais obras da literatura latino-americana. A primeira parte de Cem Anos de Solidão, enfim, chegou no finalzinho de 2024 e o resultado é convincente, alto elogio considerando as dificuldades em se tirar a obra de Gabriel Gárcia Márquez do papel.
Há fatores que vejo como cruciais para o sucesso da adaptação: 1) a exigência da família de Gabo para que os atores fossem todos colombianos tal qual o vilarejo fictício de Macondo, grande protagonista da história. 2) que o texto fosse fiel ao livro, o que foi bem resolvido com a onisciente presença de um narrador. 3) que as filmagens fossem feitas em território colombiano.
A direção e produção também é de colombianos, o que livra a adaptação da maior parte dos clichês e cacoetes hollywoodianos e direciona a narrativa mais para o livro.
Cem Anos de Solidão acompanha várias gerações da família Buendía, fundadores de Macondo no meio da floresta que partiu do nada para um vilarejo capaz de despertar o interesse do governo colombiano em fins do século 19. Tudo é ficção, ou melhor, realismo fantástico, do qual o livro se tornou expoente.
Faltam a narrativa as nuances do livro. Situações que na obra de Márquez nos chocam e encantam pela persistência de Gabo em fazer algo o mais próximo do original, perdem a força na encenação e, por vezes, soam algo mais próximo de uma novela das 21 horas, mas não é nada que estrague o bom desempenho da série, compensada por um elenco afinado e uma cenografia que deixa claro que a Netflix abriu o bolso para os colombianos.
Ansioso pela segunda parte da história, prometida para este ano.