Estudo também aborda motivações e resultado de investigações policiais nos casos registrados
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) pretende mapear todos os casos de feminicídio registrados no Estado ao longo dos últimos cinco anos e detalhar perfis das vítimas, dos agressores, identificar supostas motivações, questões sociais envolvidas e resultados das investigações policiais relacionadas aos crimes. O chamado Mapa dos Feminicídios SC está em fase de elaboração por uma equipe do MPSC.
Atualmente, o levantamento está em fase de solicitação dos dados às autoridades de segurança pública e a previsão de término é até o final de 2025. O mapa, de acordo com o MPSC, pode ser fundamental para a identificação de pontos em comum entre os registros de feminicídio, auxiliando na definição de políticas públicas para conscientização e combate a este tipo de crime.
NÚMEROS NO ESTADO E NA COMARCA
Até o mês de maio de 2025, foram registrados 20 casos de feminicídio em Santa Catarina. Entre 2020 e 2024, os registros somam 277 crimes desta natureza registrados em território catarinense. Os dados mais recentes divulgados pela equipe da Rede Catarina de Proteção à Mulher do 3º Batalhão de Polícia Militar apontam que, atualmente, são 359 medidas protetivas ativas de mulheres contra seus agressores na Comarca de Canoinhas.
Deste total, 214 medidas foram registradas por mulheres com residência no próprio município de Canoinhas. Na sequência, o município de Três Barras, com 112 medidas protetivas ativas no momento. Major Vieira, conforme as informações oficiais, possui 25 medidas protetivas de mulheres contra seus agressores. Bela Vista do Toldo possui oito medidas protetivas ativas.
ABSOLVIÇÃO
Neste mês, Diego de Souza Prestes, acusado de matar sua companheira Daniele Aparecida Colaço, de 35 anos, foi absolvido em um júri popular realizado em Canoinhas. A decisão foi anunciada na tarde de segunda-feira, 30. Os jurados acolheram a argumentação da defesa, que sustentou que Daniele teria caído acidentalmente, batido a cabeça e agonizado até a chegada de Diego.
O caso ocorreu há 13 meses, no dia 13 de maio de 2024, na residência de Daniele, localizada na rua Quintino Tramontin, no bairro Piedade. Devido à gravidade dos ferimentos, que resultaram em um edema cerebral difuso e sangramento intracraniano, Daniele foi transferida para o Hospital São Vicente de Paulo, em Mafra, onde não resistiu e morreu após seis dias internada.
A acusação alegava que Diego havia agido de forma intencional, causando lesões fatais em Daniele. Segundo a denúncia, durante a agressão, ele teria desferido uma pancada na cabeça da companheira, que ficou caída. O réu acionou o Corpo de Bombeiros por volta das 11 horas do dia 14, quando Daniele ainda estava viva. A acusação ainda caracterizava o caso como um feminicídio, argumentando que Diego dificultou qualquer chance de defesa por parte da vítima.
A decisão do júri popular, no entanto, foi pela absolvição do réu.
TENTATIVA
Jayne Thalia Julinski, 26 anos, foi esfaqueada no pescoço e em outras três partes do corpo pelo ex-companheiro, Cilomar Santos, 29 anos, no mercado Alfa, local no qual a moça trabalha, no centro de Bela Vista do Toldo. Ela foi socorrida pelo Serviço Móvel de Urgência (Samu) e foi levada em estado grave para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Canoinhas.
Segundo o Samu, quando os socorristas chegaram no local, a vítima estava sentada sendo amparada por colegas de trabalho que utilizaram uma blusa para conter a hemorragia. A equipe deu prioridade no embarque da vítima e realizando os protocolos de contenção hemorrágica, priorizando o transporte até a UPA de Canoinhas. Antes de chegar na UPA, Jayne entrou em parada cardiorrespiratória, processo que foi revertido na Unidade.
Depois de quase um mês internada, Jayne se recuperou e deixou o hospital. Cilomar se apresentou com seu advogado na Delegacia de Bela Vista do Toldo somente sete dias depois do crime. Como havia mandado de prisão preventiva expedido contra ele, Cilomar foi imediatamente encaminhado para o Presídio Regional de Canoinhas.
Uma das pessoas que auxiliou Jayne logo após o brutal ataque de seu ex-companheiro foi Celine Adur, ela concedeu entrevista ao JMais sobre o caso e sobre a preocupação que também tem em relação aos crescentes casos de violência contra a mulher na região. Assista abaixo:
CONDENADOS
Em 2024, Bruno César Barbosa, de 26 anos, foi condenado a 21 anos e quatro meses de reclusão em regime fechado pelo crime de feminicídio, com recurso que dificultou a defesa da vítima, por ter assassinado a facadas sua então companheira, a farmacêutica Daiane Vogt, de 43 anos. O crime aconteceu em setembro de 2023 no distrito do Campo d’Água Verde, em Canoinhas.
Todos os pedidos do Ministério Público foram acatados. Barbosa ainda recebeu condenação de mais seis meses por ter alterado a cena do crime. No entanto, a pena foi reduzida devido à confissão do reú, que admitiu que matou Daiane. Durante o julgamento, ele não chegou a relatar como foi a dinâmica do crime, mas fez a confissão parcial, que reduziu a pena.
Daiane foi assassinada a facadas na madrugada do dia 4 de setembro de 2023, em uma casa na rua Paulo Wiese, próximo ao Supermercado Via Atacadista, no distrito do Campo d’Água Verde, onde ela morava há pelo menos um ano com o namorado.

Miguel Arcanjo Fiel Braga, de 26 anos, foi condenado a 36 anos de prisão pelo assassinato de Leila Ribeiro Domingues Maciel em novembro do ano passado no bairro Cristo Rei, em Canoinhas. À época, ele fugiu em seguida usando um Fiat Palio que pertenceria a Leila. Isso mesmo sendo cadeirante. Em Porto União, ele bateu o carro e teve de ser hospitalizado. Preso, ele confessou o crime, mas disse que foi em legítima defesa.
O conselho de sentença, formado 100% por mulheres, aceitou integralmente a acusação e decidiu pela condenação. Logo em seguida ele foi encaminhado para o Presídio Regional de Canoinhas, onde já estava desde que foi preso no final do ano passado.
O juiz que presidiu o júri, dr Eduardo Veiga Vidal, concedeu entrevista ao JMais logo na sequência e, falando de modo geral, lamentou o alto índice de casos de violência contra a mulher na comarca. “Temos um número muito alto e triste sobre casos de abuso sexual infantil e de violência contra a mulher. Isso me preocupa e me incomoda. Deve haver uma mudança de postura da sociedade para com o público feminino”, disse.