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Sherlock Holmes investiga as mortes de gênios da música

Quando um grande escritor como Pedro Bandeira, que é ícone da Literatura Infantojuvenil, com mais de 100 títulos publicados e 23 milhões de exemplares vendidos, se junta a um renomado médico – Guido Carlos Levi – que é apaixonado por música e romances policiais, para compor uma narrativa, o resultado só poderia ser surpreendente.

Em “Melodia Mortal”, os autores se valem de um dos mais frutíferos recursos do universo literário, isto é, a intertextualidade. Com ele, podemos utilizar, por exemplo, um personagem arquetípico, como é o caso do investigar Sherlock Holmes, e o realocarmos para novos contextos, fazendo, dessa forma, um enredo criativo, com toque de sarcasmo. Nessa dinâmica dialógica, o conhecimento do leitor é crucial, uma vez que, se ele, por acaso, desconhece a história original do perspicaz detetive, não fará as inferências necessárias para assimilar o livro de Pedro Bandeira e Guido Carlos Levi.

Além disso, o enredo tem um viés didático, que é uma característica do estilo de Pedro Bandeira presente em vários de seus livros, pois situa o leitor na história da música clássica, elencando a biografia dos maiores gênios – Vincenzo Bellini, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart, Piotr Ilitch Tchaikovsky, Robert Shumann e Ludwig Van Beethoven – para que suas questionáveis causa mortis sejam verificadas.

Assim, as personagens se embrenham nos questionamentos científicos para constatar se os laudos são confiáveis. Beethoven, por exemplo, desafia o entendimento de sua profícua e insólita vida: “Acho que nunca encontraremos uma explicação para esse fenômeno: um homem surdo, que oferece à humanidade as mais vibrantes sinfonias, os mais acalentadores romances e as mais fenomenais sonatas jamais sonhadas por qualquer um!” (BANDEIRA; LEVI, 2018, p.217), e da causa de sua morte:

- Watson, há vestígios poderosos quanto à morte de Beethoven, mas até agora não consigo fechar o inquérito que eu mesmo decidi abrir. Ouça só isto: examinei detidamente o relatório de sua autópsia, realizada logo no dia seguinte à sua morte. E ali está a descrição de um abdome cheio de líquido, um fígado reduzido, cheio de nódulos, o baço com um tamanho duas vezes maior e o pâncreas também aumentado e com aspecto compacto. Isso fecha o caso?
- Ora, Holmes, isso descreve uma cirrose alcoólica!
- Mesmo assim, estamos seguros em afirmar com segurança que ele morreu somente devido ao alcoolismo.
- Bem... talvez sim, mas... (BANDEIRA; LEVI, 2018, p.221).

E como a medicina da época não havia ainda diagnosticado muitas das enfermidades existentes, tampouco desenvolvera os mecanismos para afirmar com precisão os laudos, as especulações foram inúmeras: envenenamento por chumbo, sífilis, sarcoidose, hepatite infecciosa, cirrose alcoólica, diabetes, pancreatite e necrose papilar.

Não obstante a curiosidade de Sherlock Holmes e de Watson, assim como dos escritores, e de nós, leitores, para saber a verdadeira causa mortis, o mais importante a se levar em consideração é sua trajetória inigualável:

Esse homem trabalhou durante toda a vida perseguindo somente a beleza, sem inclinar-se a dinheiro ou a títulos de nobreza. Seu talento manifestou-se de modo explosivo, foi independente, sem precisar do patronato de algum mecenas, fosse um aristocrata ou fosse um burguês. Foi capaz de raspar a dedicatória que havia oferecido a Napoleão Bonaparte em sua Sinfonia Heroica, depois de o corso ter-se coroado imperador e se transformado em um conquistador sangrento e impiedoso! [...] Para Beethoven, música era liberdade, era um bem supremo. Mesmo após ficar praticamente surdo, esse alemão ainda foi capaz de escrever algumas das composições musicais mais sublimes de todos os tempos. Nunca foi prisioneiro de regras, tanto na vida social quanto na artística, e sua criatividade transformou a música de tal maneira que modificou totalmente o panorama musical da época e influenciou de maneira marcante a vida e a obra dos compositores que a ele se seguiram (BANDEIRA; LEVI, 2018, p.226).

Ao trazer à tona e colocar em xeque os possíveis motivos para o falecimento dos grandes compositores da Música Clássica, Pedro Bandeira e Guido Carlos Levi também enaltecem as vidas desses gênios e nos instigam a conhecer profundamente as suas obras e nos inserirmos no mundo encantatório das mais inquietantes e belas melodias.

BANDEIRA, Pedro; LEVI, Guido Carlos. Melodia Mortal. Sherlock Holmes investiga as mortes de gênios da música. Rio de Janeiro: Prumo, 2018.

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