Fragmento esquecido de Watergate é uma pequena pérola do streaming
No último episódio de Gaslit (minissérie disponível na Lionsgate+), um dos presos acusados pelo escândalo de Watergate está trabalhando com os colegas de cárcere em uma rodovia quando olham para um outdoor com a foto de Richard Nixon. “Vocês não entendem, ele somos nós, nós colocamos ele ali”, filosofa o presidiário.
Nixon é o símbolo de uma época em que os políticos se envergonhavam de serem desonestos e que os estadunidenses viam poderes transcendentais em seus governantes. Sempre nos bastidores, ele operou para jogar a culpa pela invasão do diretório democrata em apaniguados, deslumbrados pela proximidade com o presidente e estes, por sua vez, aceitaram levar a culpa em nome da estabilidade do país.
O escândalo conhecido como Watergate soa brincadeira de criança se compararmos a bagunça da política estadunidense no governo de Donald Trump, onde de cara limpa (protegida por um acrílico a prova de balas) exaltou uma horda de seguidores a destruir o Capitólio objetivando manter-se no poder.
O charme de Gaslit, no entanto, não está em detalhar o caso já retratado em quilos de séries, filmes e livros. A escolha aqui é por um fragmento que contempla Martha Mitchell. Casada com um alto funcionário do governo Nixon, influente em Washington e com uma curiosidade latente que beirava a futricagem, ela infernizou o governo Nixon ao soltar notas para a imprensa que acenderam o alerta muito antes de Bob Wodward e Carl Bernstein terem iniciado a série de reportagens no Washington Post que levou a renúncia do presidente.
Interpretada por uma inspirada Julia Roberts, Martha Mitchell ganha nesta minissérie o espaço na história que parece merecer. Mas o grande mérito do show é a direção ágil, roteiro inteligente e o festival de trapalhadas que tornaram a operação especial republicana risível. Vale sua atenção!
