Prefeita enfrentou funcionalismo e escorregou no passado de aliados
COLUNA DE DOMINGO A coluna retorna com gás total para cobrir os bastidores da política local, regional e estadual ao longo deste 2025. Desejando um ano excepcional aos queridos leitores e leitoras, passemos a nossa tradicional análise mais aprofundada de domingo.
Pois bem, saio geralmente de férias em janeiro com a certeza de que nada de muito relevante na política vai acontecer. Ledo engano. Focando apenas em Canoinhas muita coisa virou notícia.
Juliana Maciel Hoppe (PL) vem se moldando como política fria e certeira e o que ocorreu em janeiro comprova isso. Ciente do curto período de lua de mel com o leitor e, sobretudo, com a Câmara de Vereadores, mandou logo de cara um pacotaço de projetos que vinham sendo cozinhados desde que ela assumiu o mandato tampão e se deparou com as contas da prefeitura em frangalhos. Veja bem, não se trata de déficit, mas de uma impossibilidade de investimento considerando o alto índice com gastos da folha dos servidores. Ainda um Instituto de Previdência que caminha para se tornar deficitário e professores pressionando por concurso.
Resolveu tudo de uma tacada só. Projetos que jamais passariam no mandato passado, dada a sua impopularidade junto aos servidores, sobretudo, foram aprovados no eficaz sistema vapt-vupt, em duas sessões na mesma tarde. Donald Trump fez o mesmo nos Estados Unidos ao assinar mais de 100 decretos no mesmo dia, “para não dar tempo de a imprensa repercutir todos”, ensinou.
A agressividade e xingamentos da oposição e dos servidores que pressionaram pela não aprovação dos projetos assustou os vereadores novatos, a ponto de muitos colocarem na balança o custo de ser governista. Juliana sabia disso e, por isso mesmo, enfiou o remédio amargo goela abaixo, tudo de uma vez.
Analisando os projetos friamente, a luz da distância temporal, observa-se que o cidadão comum não vai sentir nenhum efeito das decisões de Juliana. Os projetos aprovados mudam o sistema de contratação de professores, sobretudo, mas não somente. Ao invés do malfadado e irregular sistema de admitidos em caráter temporário (ACTs) para assumir funções fixas, entra em cena o sistema de emprego público, que, aliás, também pode ser questionado judicialmente. Neste sistema, o Município tem muito mais autonomia para encerrar contratos, não sem antes submeter o servidor a uma sindicância. A palavra final, contudo, é da prefeita. Pode haver perseguição? Pode, mas é uma lamentável questão política, que em nada afeta o cidadão comum.
A barulheira maior foi dos servidores, mas se pensarmos em efeitos coletivos, os projetos que criaram duas secretarias e multiplicaram cargos em setores como o de comunicação, onde faltam até cadeiras para tantos comissionados sentarem, causam impacto social maior. Isso porque demandam custos que incham a máquina pública e fazem Juliana engolir e esquecer o discurso de redução pela metade dos cargos comissionados.
A criação de cargos foi tão atropelada e mal planejada que até mesmo um secretário anoiteceu e não amanheceu, obrigando a prefeita a entregar a pasta de Finanças ao marido de um desafeto. O motivo: falta de alguém igualmente competente numa pasta delicadíssima.
Essa profusão de novos cargos, claro, era prevista, dado o amplo arco de siglas que defenderam sua reeleição. Claro que a população nada tem a ver com estes acordos, mas, sabemos, política é assim mesmo. Quem apoia, quer cargo. Jogo jogado.
Importante observar que Juliana está muito mais assertiva nas atitudes políticas, e vem cada vez mais se aproximando da extrema direita, com direito a elogios públicos a deputados estaduais do calibre de Jessé Lopes, autor de um projeto de lei que proíbe conteúdos impróprios para crianças e jovens nas escolas, como se professores fossem menos inteligentes que ele, incapazes de discernir entre conteúdo próprio e impróprio para a educação. Também tentou ganhar protagonismo na tragédia evitada graças ao tombamento de um ônibus de excursão com canoinhenses rumo ao Beto Carrero no domingo passado. Agradeceu a outro radical, o deputado Sargento Lima, que a teria mantido informada o dia todo. Certamente acompanhou da imprensa e trocou um ou outro WhatsApp com a prefeita. Os empresários da Viação Canoinhas passaram o dia correndo hospitais oferecendo apoio aos feridos, pagando por cirurgias etc. O nobre leitor pode dizer que não fizeram mais que a obrigação. De fato, mas talvez a prefeita seria mais feliz ao enaltecer esse trabalho, do qual muitas empresas envolvidas em confusões fogem, ao invés de dar créditos a um deputado que, no máximo, repassou alguma informação, que já estava na imprensa, por WhatsApp.
Percebe-se que Juliana chamou a atenção das lideranças do PL. Na semana passada foi eleita vice-presidente da Aris, agência de regulação do saneamento em Santa Catarina, cargo de peso que aumenta sua visibilidade no Estado.
De modo geral, ao dar o remédio amargo do “emprego público”, nova modalidade de contratação, Juliana acertou ao corrigir um problema agravado lá no governo de Beto Passos que, pouco antes de ser preso reuniu professores para dizer que estava rendido, sem saber o que fazer para garantir novas contratações e pagamento de direitos como o piso da categoria.
A prefeita errou, no entanto, ao dividir secretarias e recolher mais comissionados. É uma atitude contraditória em relação a anterior, de dar um remédio amargo aos servidores e abrir a porteira para comissionados.
Por fim, ao se aproximar da extrema direita, deixa claro o caminho que quer trilhar para alcançar seu objetivo de se candidatar a deputado estadual em 2026. Cabe ao eleitor julgar essa delimitação.