O que há de podre no mundo dos multimilionários?
OS USHER
Uma vida dedicada a vender o almoço para comprar a janta. A profissão que não deslancha, os problemas financeiros que, quanto mais se trabalha, mais aumentam, enfim, uma sobrevida. É assim que encontramos os personagens da família Usher logo depois das primeiras cenas da última minissérie dirigida pelo bem-sucedido Mike Flanagan para a Netflix (ele já está alojado no Prime Video). A Queda da Casa de Usher parte dos mais célebres contos de Edgar Allan Poe para nos entregar uma história estilosa e intrigante.
Só que, em um pequeno intervalo de anos, os irmãos Usher se tornam multimilionários, donos de uma gigante farmacêutica. A despeito do luxo, estilo, tudo muito bem caracterizado por uma costumeira produção caprichada, os Usher estão sendo miseravelmente exterminados. Os seis filhos de Roderick (Bruce Greenwood) estão morrendo como pássaros abatidos em uma caçada. Sua irmã, a maquiavélica Madeline (Mary McDonnell), logo se lembra de uma conta do passado. A presença de uma misteriosa mulher nos locais das mortes dá a deixa.
O dito mistério da trama é facilmente decifrado, mas não está nele o charme da minissérie, que trabalha com a maestria costumeira de Flanagan o aspecto psicológico do absoluto horror. Como as pessoas cedem a seus desejos e ambições. O preço que isso pode custar. A vida que vale a pena ser vivida (luxou ou amor? Pode-se ter os dois juntos?). Todas as questões filosóficas e existenciais são abordadas com o roteiro afiado que consagrou outras produções de Flanagan para a Netflix como A Maldição da Residência Hill (2018) e O clube da meia-noite (2022).
Flanagan trouxe muita audiência para a Netflix. Será uma perca a ser sentida pela gigante do streaming, especialmente por ser para sua maior concorrente que, aliás, cobra mensalidade três vezes mais barata.
