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Santa Cruz desiste do transporte público em Canoinhas; Município diz desconhecer decisão

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Decisão se deve ao baixo fluxo de passageiros

O Coletivo Santa Cruz confirmou na manhã desta sexta-feira, 24, que não vai mais fazer transporte público por meio de ônibus coletivo em Canoinhas. A decisão encerra um trabalho iniciado pela mesma empresa em 1969 e que desde então nunca interrompeu o serviço prestado ao Município. A medida passa a vigorar na segunda-feira, 27.

Segundo Rodrigo Dams, diretor da empresa, a decisão se baseia no fato de que há cada vez menos fluxo de passageiros. Hoje, o Coletivo opera com cinco linhas urbanas (Marcílio Dias, Jardim Esperança, Campo d’Água Verde e Água Verde, Cohab 1 e 2, e Piedade) e duas rurais (Paula Pereira e Felipe Schmidt) que passam por outros bairros menores.

Dams explica que o fluxo mensal de passageiros é de cerca de 15 mil pessoas, o que cobrando R$ 4 pela tarifa rende R$ 60 mil mensais, valor considerado insuficiente para manter a frota rodando. Conforme estimativa do Coletivo, para se manter no mercado, com manutenção e troca sazonal de veículos, seria necessário transportar pelo menos 75 mil passageiros, número bem distante do atual.

Segundo Dams, a empresa vem dialogando com o Município desde dezembro, mas sem sucesso. O Município pode, por decreto, fixar aumento da tarifa, mas a empresa afirma que mesmo que este reajuste chegue a 50% (R$ 6, portanto), seria uma medida ineficaz para manter o serviço. A medida mais correta, nesse sentido, seria o Município subsidiar a empresa, tal como decidiu recentemente o Município de Três Barras. Hoje, oito cidades catarinenses criaram o transporte público gratuito, subsidiado pela prefeitura.

“Não sei o que vai acontecer porque é insustentável. Estamos afundando cada vez mais”, conclui Dams.


LICITAÇÃO

Procurado, o Município disse que não recebeu nenhum comunicado oficial sobre o encerramento das atividades do Santa Cruz. Isso apesar de o próprio Dams compartilhar com a reportagem o protocolo do comunicado entregue à prefeitura na manhã desta sexta-feira, 24. A reportagem insistiu no assunto ao entrar em contato diretamente com a prefeita Juliana Maciel Hoppe (PL), mas ela não respondeu ao pedido de entrevista.

Via de regra, qualquer Município precisa licitar o transporte público urbano. Desde que o Coletivo Santa Cruz foi criado e assumiu o transporte em Canoinhas, contudo, nunca houve uma licitação. Entre idas e vindas, o Coletivo se manteve com concessões precárias criadas por diferentes governos ao ponto de, hoje, a empresa poder romper a longeva parceria de forma unilateral sem qualquer tipo de sanção.

A crise da empresa que tem como principal motivo a queda no fluxo de passageiros, se agravou ainda mais com o escândalo da operação Et Pater Filium. Segundo a apuração do Ministério Público, a empresa Transportes Santa Cruz, pertencente aos mesmos proprietários do Coletivo, pagava propina para afastar concorrentes em processos licitatórios e superfaturava itinerários do transporte escolar fornecido para o Município. Desde o ano passado, a Transportes Santa Cruz não opera mais.


REPERCUSSÃO

Assim que o um aviso foi afixado nos ônibus na manhã desta sexta-feira, vários usuários do serviço entraram em pânico. “Sou moradora do Campo d’Água Verde e fomos informados que não haverá mais transporte público a partir de segunda-feira. Todos que estavam no ônibus estão revoltados e assustados porque dependem do transporte pra trabalhar. Além dos aposentados, que dependem do ônibus pra receber”, diz uma usuária que não quis se identificar.

Ela cobra uma posição do Município. “Porque se haverá outra empresa a população fica mais tranquila. Se não haverá, coitada da população, mas pelo menos ficam sabendo o que realmente está acontecendo”.

Usuária diária da linha de Marcílio Dias, Silvete Engel diz que a notícia a tirou do eixo. “Não sei o que fazer, não tenho carro”.

HISTÓRIA

Em 16 de junho de 1969, foi fundada a Empresa de Transporte de passageiros denominada Dams e Knopp. Seus fundadores foram Emílio Carlos Dams e Leonardo Knopp, ambos já falecidos. O primeiro veículo de transporte foi uma Kombi – ano 1966. Logo após, outro veículo Kombi ano 1967 foi adquirido. No ano de 1970, a Empresa comprou seu primeiro ônibus modelo Ford F-600 – ano 1960. Em 2 de dezembro de 1978 a Empresa passou então a denominar-se Coletivo Santa Cruz Ltda. Tendo como sócios Wilson Osmar Dams, Wilmar Carlos Dams e Leonardo Knopp contando neste período com uma frota de oito ônibus. No decorrer destes 30 anos, a Empresa cresceu consideravelmente. Em 2009, ao completar 40 anos, tinha uma frota de 55 ônibus. Com sede própria no município de Canoinhas, a Empresa possui oficina própria, bomba de combustíveis e máquina de lavação para a limpeza dos carros.

Chegou a ter 87 funcionários, entre eles, motoristas, cobradores, mecânicos, borracheiros, almoxarife, auxiliar de escritório e vigias. Hoje a função de cobrador não existe mais.