O que poderia ser extinto com compra de dez cartões virou multa com pontos na carteira
A Hiper Off, responsável por administrar o estacionamento rotativo em Canoinhas, deve fechar o ano ultrapassando a barreira do R$ 1 milhão arrecadados com infrações como esquecer de colocar o cartão em área rotativa, cartões rasurados, estacionamento em vaga de carga e descarga ou preferencial para idosos e cadeirantes. Somando este lucro à venda regular de cartões raspadinha ou virtual, pelo aplicativo, a Hiper Off já arrecadou, até outubro, R$ 1,407 milhão, ou seja, 61,3% do faturamento da empresa vêm das notificações. Contudo, como esse valor corresponde ao mesmo produto, ou seja, a venda de “tempo de estacionamento”, o incremento com notificações tem a mesma origem.
A reportagem acessou todas as prestações de contas da empresa desde janeiro até outubro deste ano e contabilizou 48.606 infrações registradas pelas monitoras da Hipper Off. Destas, 43.139 foram regularizadas, rendendo, até outubro, R$ 862,7 mil. As outras 5.467 infrações deixaram de ser pagas e se tornaram multas. Regularizar significa trocar a notificação pela compra de 10 cartões de estacionamento uma hora, o equivalente a R$ 20. Os motoristas têm sete dias de prazo para fazer a regularização, senão, a notificação vai para o Departamento Municipal de Trânsito e vira multa de R$ 195 mais cinco pontos na carteira. A partir daí, a Hipper Off não tem nenhum controle sobre a questão.

O alto número de notificações tem desagradado quem mais necessita estacionar no centro, como é o caso de comerciantes e funcionários do comércio. O empresário Jony Grosskpf, por exemplo, diz que o problema maior é o desânimo do cliente em chegar nas lojas do centro por causa do Rotativo. “O cliente estaciona seu carro, procura alguém do rotativo, não acha ninguém e, pelo medo da notificação, vai embora”, diz citando uma reclamação recorrente de quem opta por comprar os cartões. Muitos reclamam que não conseguem encontrar monitoras para comprar o cartão e acabam ficando a mercê das notificações. O empresário sugere que, ao menos, se dê a tolerância de 10 minutos para evitar tantas notificações já que nem sempre a pessoa demora no que precisa fazer no centro.
Hoje, 18 monitoras e duas supervisoras são responsáveis por trabalhar na área do rotativo Canoinhas. Este é um motivos para o gerente da Hipper Off em Canoinhas, Emanuel Wittlich Silocchi, achar impossível criar a tolerância de 10 minutos. “Nossas monitoras não teriam condições de fiscalizar todos os veículos de determinada área (cada uma delas cuida de 70 vagas), se estariam mesmo no prazo de tolerância ou não. Uma volta no quarteirão já daria bem mais que dez minutos”, explica. Sobre não avistar monitoras para comprar cartão, Emanuel explica que além de pontos de venda no centro e dos parquímetros, que poucos usam, o aplicativo de celular é a melhor forma de não depender das monitoras. Há, ainda, a questão de evitar o contato entre as monitoras e motoristas intolerantes, que já chegaram a bater, ofender e humilhar as monitoras. “Tem gente que joga moedas no chão e manda a monitora juntar, que chamam elas por palavras bastante ofensivas”, lamenta Emanuel. Há dois anos, um empresário da cidade chegou a bater em uma monitora. Apesar de se enquadrar na Lei Maria da Penha, a Polícia não prendeu o suspeito. O abalo psicológico das monitoras é tão corriqueiro que a empresa mantém uma psicóloga para atender as monitoras.

Emanuel diz ainda que, embora a lei não mande, em acordo com a prefeita Juliana Maciel Hoppe (PL), ficou acertada a isenção de pagamento para deficientes físicos, desde que tenham o selo visível no carro, e, também, para idosos pelo tempo máximo de duas horas. Entregadores (delivery, lojas e supermercados) também não pagam rotativo desde que ocupem a vaga por no máximo 15 minutos. Neste caso, a empresa dona do veículo precisa cadastrá-lo junto ao Detracan.
RECEITAS E DESPESAS
No ano passado, a Hipper Off alcançou uma receita de R$ 1,7 milhão. Deste valor, 25% devem ser depositados em uma conta da prefeitura e o valor (R$ 425 mil) deve ser usado para melhorias no trânsito. A Hipper Off também tem obrigação contratual de manter as vagas pintadas e sinalizadas. No ano passado, a empresa investiu R$ 15,8 mil nesse serviço. Incluindo os 25% de repasse para o Município, as despesas que somam salários, aluguel e material de escritório além da manutenção das vagas chegaram a R$ 1 milhão.
Pela lei do Rotativo, a Hipper Off pode fazer três reajustes até 2029, quando encerra o contrato, que pode ser prorrogado ao gosto do prefeito de turno, porém, até o momento, destaca Emanuel, nenhum reajuste foi feito.
A Hipper Off ganhou licitação para explorar o Rotativo em Canoinhas em 2019, com concessão para dez anos. A mesma empresa administra o serviço em Orleans e Rio Negrinho.