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Viver nas alturas: um século de verticalização urbana no Brasil

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Um dos exemplos mais contundentes de verticalização é a cidade catarinense de Balneário Camboriú

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João Ricardo Licnerski*

Jairo Marchesan**

Argos Gumbowsky***

As primeiras décadas do século 21 marcam a verticalização urbana no Brasil. Há 100 anos, iniciou-se um processo de construção dos primeiros edifícios verticais na cidade de São Paulo. Um dos edifícios emblemáticos deste período é o Edifício Martinelli, situado no centro da cidade, construído entre os anos de 1924 e 1934, contendo 30 pavimentos. De lá até hoje, o processo de verticalização evoluiu e se expandiu consideravelmente pelo país, alcançando as cidades médias e pequenas. Um dos exemplos mais contundentes de verticalização é a cidade catarinense de Balneário Camboriú, que ostenta o título de uma das cidades mais densas e verticalizadas do país.

A verticalização urbana é o processo de expansão de edifícios verticalizados (com dois ou mais pavimentos) na cidade, possibilitados pela evolução dos sistemas construtivos com uso do concreto armado e das estruturas em aço, além da circulação vertical mecanizada. O edifício em altura permite a multiplicação vertical de parcelas do solo urbano e o crescimento de superfícies construídas na cidade.

Além dos aspectos construtivos e espaciais da verticalização urbana, o componente econômico tornou-se crucial, considerando que o edifício vertical é uma das principais formas de investimento de capital nas cidades. Apartamentos, casas e salas comerciais são produtos comercializáveis de um importante setor econômico – o mercado imobiliário. Paralelamente, os fundos imobiliários têm se constituído em investimento atrativo para o capital; contudo, o grande número de imóveis gerados por este setor econômico, muitas vezes para fins especulativos, não tem revertido o quadro de déficit habitacional brasileiro. O perfil dos imóveis lançados no mercado imobiliário é inacessível para a maioria da população brasileira e, nesse caso, a baixa oferta de moradias por meio da promoção pública só acentua as contradições e a crise habitacional no país.

A verticalização urbana no Brasil tem sido objeto de estudos críticos entre os especialistas. Por um lado, a opção por cidades verticalizadas seria a mais racional e sustentável, ao concentrar população e atividades em pontos onde há suficiente infraestrutura urbana, evitando processos expansivos da malha urbana em áreas rurais e naturais. Nesta linha, a densidade e concentração urbanas contribuiriam para reduzir os deslocamentos internos e o consumo energético. Acredita-se, ainda, que cidades densas e compactas ajudariam a criar maior coesão social, ao possibilitar maior contato entre as pessoas, evitando situações de segregação social e espacial.

Por outro lado, os críticos do modelo de cidades verticalizadas insistem essencialmente nas questões socioambientais, na justificativa de que as altas densidades e a verticalização excessiva, sem um planejamento da estrutura urbana, gerariam problemas de congestionamentos, conflitos de circulação, saturação e massificação nesses espaços, levando a uma degradação da qualidade de vida. Além disso, problemas ambientais relacionados à insolação, à ventilação, à contaminação atmosférica e sonora e à geração de resíduos são alguns dos pontos elencados.

Do ponto de vista social, há discrepâncias sobre os benefícios das altas concentrações humanas ocasionadas pela verticalização e pelas cidades excessivamente densas. Ao mesmo tempo em que favorecem os contatos físicos e encontros entre os habitantes, constata-se situações de anonimato, solidão, ausência de pertencimento, individualismo e perda das referências socioculturais. Na opinião dos críticos, a homogeneidade do ambiente construído verticalizado cria paisagens monótonas e banais, gerando cidades pouco atrativas e padronizadas.

De forma geral, predomina a percepção positiva sobre a verticalização urbana, visto que o senso comum associa a construção de edifícios altos ao crescimento e desenvolvimento econômico de uma cidade. É comum frases do tipo “aquela cidade é rica porque tem prédios”. Também vale lembrar que a partir da década de 1960, a imagem de ascensão social se vinculava ao estilo de vida nos condomínios residenciais das grandes metrópoles brasileiras, com porteiro, quarto de empregada e elevador social privativo, difundida em programas de televisão. Era o sonho de viver nas alturas!

Se o processo de verticalização tende a se consolidar no Brasil, cabe então, ter clareza sobre as vantagens e inconvenientes deste modelo de ocupação urbana. É mais que oportuno indagar sobre o bom desenho urbano aliado ao planejamento geral, para promover a qualidade de vida, a sustentabilidade e o desenvolvimento social equitativo nas nossas cidades.

*João Ricardo Licnerski é arquiteto e urbanista e doutorando do Programa de Doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado

**Jairo Marchesan é doutor em Geografia e docente no Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado

***Argos Gumbowsky é doutor em Educação e docente no Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional na Universidade do Contestado

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