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Uso indiscriminado de antibióticos e a resistência bacteriana

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Tanto animais como vegetais e seres humanos são susceptíveis a infecções bacterianas

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Dra Daniela Pedrassani*

Daniele de Cássia Karvat**

Entre 18 e 24 de novembro é celebrada a Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antimicrobianos. Desse modo esse texto visa contribuir com a difusão de informações adequadas sobre os antibióticos e a resistência bacteriana.

As bactérias são seres unicelulares, microscópicos e invisíveis a olho nu. Estão presente em toda parte, no ar, na água, no solo e até mesmo no nosso próprio organismo.

Algumas bactérias possuem grande importância econômica e ecológica, sendo indispensáveis à biosfera. Contribuem para a manutenção dos organismos vivos e equilíbrio do planeta e desempenham as mais variadas funções.

Mas não são apenas benefícios que estes microrganismos trazem. Algumas bactérias são patogênicas, causam desde doenças simples, as vezes assintomáticas, e curadas naturalmente pelo próprio sistema imunológico, até doenças graves, capazes de exterminar outras espécies.

Tanto animais como vegetais e seres humanos são susceptíveis a infecções bacterianas. Em seres humanos a transmissão se dá por meio da ingestão de alimentos e/ou água contaminados, inalação de partículas ou gotículas de saliva infectantes, através do ar em casos de tosse ou espirro de algum indivíduo doente, contato direto com ferimentos e objetos contaminados ou animais e pessoas infectadas, e também por meio do contato sexual com estes indivíduos.

As infecções podem ser localizadas, no caso de um ferimento ou ferida infectada, ou podem envolver o órgão interno, como em uma infecção pulmonar, e assim ir aumentando a gravidade, podendo evoluir para septicemia que é uma infecção generalizada, ou seja, quando a infecção se dissemina pelo organismo comprometendo outros órgãos, podendo os levar a falência e ocasionando a morte do paciente.

Os sintomas das doenças bacterianas variam de acordo com o agente causador, e com a forma de infecção, mas geralmente incluem febre e dor no local infectado. No entanto, se o sistema imunológico do paciente estiver debilitado os sintomas aparecem de maneira exacerbada, e o quadro clínico pode se tornar mais grave e levar a infecções oportunistas, e novamente enfatiza-se aqui, à septicemia.

A vacinação, sistema imunológico forte, estilo de vida saudável, bons hábitos de higiene pessoais, e saneamento básico são algumas das maneiras de prevenir infecções e doenças bacterianas. Porém, a ocorrência destas doenças está longe de ser eliminada, e assim foca-se na realização do tratamento correto.

O tratamento é realizado por meio de antibióticos. Na maioria das vezes se este é seguido corretamente (entende-se aqui doses, horário e período de duração exatamente como determinado pelo médico), a saúde é restaurada e a infecção eliminada, sem causar alteração na genética bacteriana. Entretanto, muitas pessoas ao notarem uma leve melhora em seu quadro clínico interrompem o tratamento sem permissão médica, pois acreditam não haver necessidade de continuar a medicação uma vez que os sintomas desapareceram.

Outro fator preocupante é a automedicação. Tomar antibióticos que restaram de tratamentos anteriores, ou adquiri-los sem prescrição e orientação de um médico pode, aparentemente, fazer efeito, mas há um grande risco de piorar o quadro clínico, e gerar problemas ainda maiores, como intoxicação, alergia, e alteração genética nos agentes patogênicos.

No Brasil, automedicação já é quase um hábito. De acordo com dados publicados pelo Conselho Federal de Medicina 77% dos brasileiros fazem o uso de medicamentos sem qualquer orientação médica.

Especialmente neste momento de pandemia, a automedicação pode comprometer a saúde, deixando a pessoa ainda mais vulnerável aos riscos de adquirir e desenvolver formas graves de covid 19.

O uso irracional de antibióticos tem sido motivo de preocupação dos órgãos de saúde, pois o número de microrganismos identificados como resistentes cresce a cada ano, e a resistência bacteriana já é uma realidade enfrentada pelo sistema de saúde.

A resistência bacteriana acontece quando doenças de origem bacteriana se tornam resistentes aos antibióticos tradicionais, usualmente usados em seu tratamento. Importante ressaltar que outros agentes patológicos como fungos e parasitas também podem se tornar resistentes aos tratamentos.

As bactérias sofrem alguma mutação, se tornam resistentes ao princípio ativo dos antibióticos e se multiplicam passando essa capacidade aos seus descendentes. Essas cepas resistentes também conhecidas como superbactérias representam um sério risco a saúde da população, em especial aqueles indivíduos que estão hospitalizados, causando infecções graves hospitalares, e podem levar a morte inúmeras pessoas, já que as bactérias não conseguem ser combatidas pelos antibióticos existentes.

Outro fator importante que contribui significativamente para esta problemática é a água. Como a maioria das regiões do país não tem acesso a saneamento básico, com tratamento de esgoto e água de qualidade, nem sempre os dejetos dos domicílios, hospitais e unidades de saúde tem destino adequado, e muitos resíduos de antibióticos acabam atingindo lagos e rios. Aliado a isso, a análise do perfil de resistência bacteriana em águas não é uma exigência da Portaria do Ministério da Saúde que determina os critérios da qualidade da água, e isto também subestima o risco de infecção por bactérias resistentes.

Conforme informe da Organização Mundial da Saúde divulgado em 2019e publicados pela Anvisa, acredita-se que até 2050 a resistência bacteriana poderá estar associada a 10 milhões de morte anuais. É necessário, portanto, realizar intervenções a fim de mudar esta situação.

Apesar de a problemática ser complexa, políticas públicas como o Plano Nacional de Prevenção e Controle de Resistência aos Antimicrobianos, lançado em 2018 no Brasil, que abordem o assunto e incentivem mudanças de comportamentos, como evitar automedicação e racionalizar o uso de antimicrobianos são de importância significativa para preveni-la.

Além disso, profissionais das áreas da saúde devem fazer a indicação consciente destes medicamentos, prescrevendo só quando realmente houver necessidade. O investimento em pesquisas científicas para criar novas terapias com novos mecanismos de ação, métodos de diagnóstico e vacinas, também é de grande valia. Assim como o governo deve focar em garantir saneamento básico a população, visto que este é um direito previsto na Constituição Federal de 1988, e pode reduzir a incidência destas doenças.

Se estas medidas forem sendo implementadas, pode-se evitar que muitas pessoas tenham suas vidas interrompidas por estas superbactérias. Com isso, reduzem-se os gastos públicos com tratamento e internamento, podendo investir estes recursos em outras áreas, e melhorar a qualidade de vida da população.

*Dra Daniela Pedrassani é médica veterinária, docente do Curso de Medicina Veterinária e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC). Email: [email protected]

**Daniele de Cássia Karvat é médica veterinária, mestranda no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UNC. E-mail: [email protected]

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