História arrastada fez série perder a força
O CONTO DA AIA
Finalmente encerrou a saga de June Osbourne (Elizabeth Moss) na torturante O Conto a Aia, cujo nome original acabou se popularizando mais que a tradução no Brasil. The Handmaid’s Tale, como queiram, terminou com a sexta temporada encerrada recentemente pela Paramount+, mas não foi bem um fim. Inspirada na poderosa obra de Margaret Atwood, a série estreou como um sopro de novidade em 2017, quando o mundo começava a ser dominado por malucos egocêntricos capazes de impor sandices para toda uma população como se vê hoje em diferentes partes do mundo. Especialmente neste segundo mandato, Donald Trump bem seria capaz de instalar um regime semelhante ao de Gilead, como o da série. Misógino como só ele, certamente veria com bons olhos aprisionar mulheres em casarões dos “comandantes” para serem estupradas sistematicamente como se fosse essa a vontade de Deus como um negócio tão interessante quanto resorts em Gaza.
Vamos falar francamente. O mundo distópico criado por Margaret, que na sua concepção parecia inverossímil de tão rígido, parece fichinha perto das deportações ilegais e famílias tendo de viver em porões com medo da Polícia. A realidade estadunidense se provou mais miserável.
Dada a premissa da série e sua relação com o presente, cabe dizer que O Conto da Aia perdeu a força e o frescor das duas primeiras temporadas já na terceira. Dali em frente, se arrastou em repetições, torturas e o vai e volta de June dividida entre o marido e o “olho” pelo qual se apaixonou. Movida pela busca pela filha, ela infernizou a vida dos comandantes e da tia Lídia, personagem defendido bravamente pela talentosa Ann Dowd.
Lamento dizer, mas a sexta temporada é um tour de force por tudo que já se viu anteriormente na série, inclusive com os personagens de June e Serena (Yvonne Strahovski) retornando a suas posições originais com Serena casada com um novo comandante. Algo mudou, contudo, como era de se esperar. A revolução ganhou força e a queda do regime é uma questão de tempo. Quando vem, o cansaço do espectador com a história já está no limite, mas ainda é possível sentir algum prazer em ver repressores se dando mal.
Apesar de a história estar exaurida, o próprio final sinaliza para uma continuação. Não será exatamente, mas tem fundamento. O fim de The Handmaid’s Tale é só o começo do spin-off The Testaments, também inspirado em um livro de Margaret Atwood e que já está em pré-produção.
