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Temas eleitorais: a mentira entre eles

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Desemprego, inflação, pandemia, preço da gasolina, Educação, corrupção e violência ditarão o debate

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Walter Marcos Knaesel Birkner*

Retornamos com o time oficial de “O Brasil como nos parece” depois de um mês de postagens de artigos de ilustres convidados, cumprimentando os distintos leitores e anunciando temas que estarão em debate neste ano eleitoral. Desemprego, inflação, pandemia, preço da gasolina, Educação, corrupção e violência. Ah, e as mentiras e difamações, tudo entrelaçado na teia patrimonialista brasileira. Nem o papa será capaz de afastar os idólatras de seu ilusionismo patológico. Mas, entre os extremos, estamos nós, a maioria relativamente honesta, e precisamos estar atentos à lógica e às evidências.

Talvez a maior mentira venha a ser a de que Lula é inocente. É certo reconhecer que as coisas não são tão simples, como chamar o ex-presidente de chefe de quadrilha. Quadrilheiros são patrimonialistas eleitos como Jucá, Calheiros, Eduardo Cunha, Valdemar da Costa Neto, cujo propósito não é a redenção do povo, mas a tunga do tesouro. Lula não é um patrimonialista, é só um ególatra bajulado que se achou merecedor de privilégios. O tríplex não é invenção do Moro e negá-lo não se distingue do medo ao comunismo, da crença na Terra plana e de que vacina é coisa do Diabo.

Aliás, a difamação contra a vacina é a mais sórdida de todas. É preciso ser inescrupuloso para envenenar a opinião das pessoas contra ela, espalhando desconfiança, antídoto do desenvolvimento. Não me refiro às pessoas que acreditam, impulsionadas pelas paixões, por desconfianças misantropas ou imaginação fértil. Duvidar é humano e questionar nos desperta. Mas, se não somos muito desonestos a ponto de prejudicar, nem ingênuos a nos prejudicar, precisamos estar atentos à lógica e às evidências.

Vamos ao exemplo: recentemente viralizou depoimento de um médico estadunidense sobre o “bem-sucedido” caso de Itajaí, cuja distribuição maciça de ivermectina teria gerado resultados notáveis no combate à covid-19. O que está por trás disso tudo tem a ver com “guerra cultural”, fábrica de mentiras e muita coisa no meio, inclusive ataques à OMS, mas é o capítulo final dessa história do tipo “don’t look up” Por agora, faremos um mero exercício de regra de três, nos rendendo à lógica e às evidências.

Ora, se a experiência de Itajaí tivesse tido o êxito propalado, seria lógico presumir que o número de infectados e de óbitos viesse a ser menor que a média estadual e menor do que a de outros municípios populosos de Santa Catarina. Sempre existem variações de circunstâncias, particularidades de cada município, região ou país, porto, imigração acentuada, condições de higiene, beira de estrada, essas coisas, mas nada que torne Itajaí ou qualquer outra cidade catarinense um caso excepcional entre catarinenses.

Então: se consultarmos o boletim epidemiológico do governo de Santa Catarina, ali aparecem diariamente, o número de casos somados e de óbitos ao longo da pandemia (disponível aqui). Pode-se desafiar qualquer cético, desde que saiba fazer contas e não considere o governador um traidor comunista: correlacionar os números com o número de habitantes de Itajaí, dividir e comparar com a situação de qualquer uma das maiores cidades catarinenses ou mesmo com a média estadual.  

Porcentagem, proporção, regra de três: divide-se o número de casos pelo de habitantes e se obtém os percentuais. O resultado é que Itajaí segue as médias de Blumenau, Joinville, Florianópolis, Brusque, Chapecó, Criciúma, Lages, Concórdia, Canoinhas, Mafra e assim por diante. Isso não invalida aquela tentativa. O prefeito de Itajaí é um médico, teve uma hipótese lógica, não colocou a vida das pessoas em risco, não desaconselhou as prevenções de praxe, nem negou a vacina. Não fez mal, nem milagre, ponto.

Colocar em dúvida os efeitos da vacina, vá lá. Negar-se a tomá-la também deve ser um direito, desde que não prejudique os outros. Mas, se algo acontecer, o negacionista deveria assumir a responsabilidade e pagar as contas, da sua internação e dos que contagiou, desonerando os honestos dos custos dessa ausência de empatia. O SUS é da graça, como a vacina, mas não é o “bem feitor” da República quem paga. Quem paga somos nós, que trabalhamos, somos mais ou menos honestos e solidários, até com quem não merece.

A estatística, que é um instrumento orientado pela lógica e pelas evidências, mostra que ao menos nove de cada dez atualmente internados não tomaram a vacina. E quem paga a conta desse prejuízo não é quem o causou. A esses irresponsáveis, restará o julgamento que os mais honestos depositarão nas difamadas urnas eletrônicas – orgulho catarinense. Não estou predizendo o resultado das eleições, que pode contrariar o meu argumento. Mas, assim como a instituição da justiça, os honestos costumam aceitar a lógica e as evidências, da mesma maneira que a democracia liberal e suas eleições regulares.    

*Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo

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