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Resenha do livro: “A vida não é justa”

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Amores e outros conflitos reais, segundo uma juíza

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Andréa Maciel Pachá (Petrópolis, 4 de janeiro de 1964), é juíza, formada em Direito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Após quase vinte anos à frente de uma Vara de Família, Andréa atualmente exerce seu papel de juíza na Vara de Sucessões. Foi membro do Conselho Nacional de Justiça, vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros e coautora da Cartilha da Nova Lei de Adoção e Pela simplificação da linguagem jurídica. Pela sua atuação no CNJ, recebeu em 2010 o diploma Bertha Lutz. Possui artigos publicados em jornais de circulação nacional e revistas especializadas.

Os vastos anos atuando na Vara de Família, fizeram com que em 2012 a juíza e escritora lançasse sua primeira obra: A vida não é justa – amores e outros conflitos reais segundo uma juíza. É uma obra baseada em diversos casos que passaram por suas mãos no decorrer dos vinte anos; agora recontados por ela, de uma forma muito peculiar. Não se trata de histórias com lindos finais felizes, príncipes e princesas; e sim histórias reais que acometem a vida das mais variadas formas, relacionados à separação, guarda compartilhada, amores perdidos, amores verdadeiros, desilusões, decepções, paixões, tragédias e comédias que tiveram como desfecho final um processo junto à Vara de Família, mas recebidos por uma juíza que compreendeu e se sensibilizou por cada história, e as conduziu de uma forma brilhante.

Separações nunca são fáceis, porém as vezes se tornam necessárias. Diversos são os motivos que podem colocar o fim ao casamento: traições, mentiras, inseguranças, falta do diálogo, falta de afeto, falta de mutualidade. O amor que um dia uniu duas pessoas, agora abriu espaço para as dúvidas, para o descontentamento, para a solidão, para outras pessoas. Enfim, o amor não era mais tão importante e necessário. É com isso com o que o leitor se depara ao ler esta obra. Com algumas histórias de casais que não deram certo e resolveram pôr um fim ao casamento. Detalhes de como foram contados esses casos tornam – os muito especiais, pois o leitor não só os acompanha. Ele se envolve, se compadece, se questiona e em algumas situações até se coloca no lugar dos envolvidos. É difícil assimilar do por que alguém depois de cinquenta anos juntos e com quase 70 anos de idade resolve pedir o divórcio; ou ainda ter de ceder ao divórcio porque o parceiro se apaixonou pelo melhor amigo; ou ainda por um fim em tudo, porque criara uma história na própria cabeça e não admitia perder o embate ou entender que a hipótese fabricada podia não ser real. São vários os motivos; alguns compreensíveis outros nem tanto, mas ao final isso não importa, porque cada um soube de suas limitações e não cabe a ninguém o poder de decidir algo pelo outro, ou seja, quando um decide por um ponto final na relação ou até mesmo os dois, o fim vai acontecer, porque ninguém pode amar por dois, ninguém consegue ser feliz sucumbindo a felicidade do outro.

A vida não é justa de forma alguma mesmo; pois não são só divórcios e separações que a Vara de Família atende. Existe muitos outros casos que precisam ser acompanhados. Como o caso das guardas compartilhadas. Andréa relata algumas histórias sobre isso também. Como a realidade de alguns filhos é afetada quando os pais se divorciam, ou quando o responsável vem a falecer, ou ainda quando se descobre verdades até então nunca reveladas. Em uma dessas histórias ela relata de uma menina que ao perder a mãe e estava sendo criada pelo avô, o qual não tendo mais condições de sustenta-la sozinho, resolve buscar ajuda junto à Vara de Família para localizar o pai da criança, que até então não sabia de sua existência, já que o relacionamento com a mãe da menina aconteceu na adolescência e de uma forma muito conturbada. Ao comprovar que ele era mesmo o pai, fora marcada a audiência. No dia da audiência, ao chegar no tribunal, Andréa repara que ao lado de fora da sala a menina de apenas 10 anos de idade, acompanhada pelo avô, estava toda ansiosa e cheia de expectativas para conhecer o pai. O fato é, que ao seguir com a audiência ele ficou perplexo e demorou aceitar a situação. Tanto que ao final consentiu somente em registar a menina e pagar pensão, porém não querendo nenhum vínculo afetivo com ela. Mas como dizer para uma criança linda daquelas que seu pai não queria a conhecer e não queria estabelecer uma relação com ela?  Seria crueldade revelar a verdade. Foi então que Andréa com toda sua serenidade conversou com o pai e o convenceu a dizer para menina que precisava de um tempo até se adaptar. Um beijo forçado na testa da menina foi o máximo que ele conseguiu. Não houve troca de palavras, nem de olhares. Apesar dele não querer ser o pai presente que a menina tanto idealizou não era o momento de ela saber ainda. Pois ninguém está preparado para rejeição, ainda mais tratando-se apenas de uma criança.                     

O livro contém inúmeros outros casos. Alguns por exemplo de como as vezes a burocracia pode dificultar a vida de algumas pessoas que buscam apenas uma identidade na sociedade; que apesar de tudo o que já passaram estão lutando por uma vida digna, e ainda são impedidos por certas formalidades burocráticas. Em contrapartida também cita pessoas que abusam do poder jurídico ao chegar com assuntos banais e sem fundamentos, como levar à justiça o caso para determinar qual seria a melhor escola para o filho frequentar. Isso não é caso para Juiz nenhum decidir e sim os próprios pais da criança. Independente se estão ou não mais juntos, as responsabilidades e obrigações para com os filhos continua. E é repugnante a falta de maturidade de alguns pais em querer que uma terceira pessoa conduza o futuro dos próprios filhos.                    

Cada história contada fica uma lição. Em cada uma delas o leitor é capaz de olhar para si mesmo e enxergar que muitos são os fatos que levam pessoas a fazerem coisas que as vezes não se orgulham ou simplesmente não sabem distinguir o certo do errado, talvez por ignorância, falta de informação ou proveniente da própria cultura que fora criado. Porque como é possível um natimorto ficar quase um mês em um IML e ninguém reclamar pelo corpo? Também é estranho pensar na possibilidade que existem muitas pessoas por aí que não tem ninguém e quando morrem são reduzidos a ser reconhecidos por uma tatuagem que carregam no corpo ou qualquer mero outro detalhe; de acreditar que a violência que sofre por parte do marido vai cessar e ele será um companheiro bom e gentil.   

Mas traz também histórias divertidas; de superação; amizades verdadeiras; autoconhecimento; amor incondicional; amores de pais que vão além da biologia; amores de filhos que desconhecem o contraste entre as cores de pele e reconhecem apenas a intimidade do amor e do afeto.                                           

Toda a explosão de sentimentos contidas nessas histórias acontece porque uma juíza determinada, profissional, imparcial, solidarizou-se com todas estas elas e deixou cada um expressar da sua maneira o que sentia. Uma juíza que apesar de ser razão, também soube ser emoção, fazendo com que o tribunal se tornasse, sob o olhar de quem estava ali presente, um lugar mais “humano”.                

Conclui-se que “A vida não é justa” é a obra em que se percebe que nem sempre as melhores intenções constroem as melhores histórias. Que as vezes para iniciar um novo ciclo, é preciso primeiramente se desfazer dos antigos. Que decepções e tragédias existem, e servem para mostrar o quanto o ser humano pode ser forte. Que as cicatrizes que marcam a vida servem como forma de lembrar que a luta deve continuar, e acreditar que dias melhores virão, já que todos os fins tiveram um dia inícios felizes, ou seja, nem sempre a vida será boa, porém nem sempre será ruim também.

PACHÁ, Andréa Maciel. A VIDA NÃO É JUSTA – Amores e outros conflitos reais, segundo uma juíza. Editora Nova Fronteira Participações S.A. Rio de Janeiro, 2012.                                                                                                                       


Eliane Lemos de Jesus – acadêmica do curso de Bacharelado em Enfermagem – Faculdade Dama

Prof. Danielly Borguezan – professora do curso de Bacharelado em Enfermagem – Faculdade Dama

                                                                                                      


Trabalho desenvolvido na disciplina de “Introdução à Acessibilidade Metodológica e Instrumental” ministrado pela professora Danielly Borguezan.

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