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Quando a recompensa é a punição

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É a lógica do velhaco, lei do menor esforço

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Dr. Walter Marcos Knaesel Birkner*

Em recente edição especial, a Revista Isto É divulgou pesquisa da Austing Rating, elencando as 50 melhores cidades do Brasil pra se viver. A classificação aponta 11 cidades de Santa Catarina na classificação geral, com direito a pódio exclusivo. Assim, vale dizer que 1% do território nacional, com 3% da população, tem 22% das 50 melhores classificadas. Na contrapartida, o esforço pelo desenvolvimento é o desprezo e, entra e sai governo, a recompensa é a punição.

O levantamento da mencionada empresa de consultoria tem quatro categorias: classificação geral, além de separação entre pequeno (até 50 mil habitantes), médio (até 200 mil) e grande portes. Não é o único ranking, existem variações entre os vários rankings. Aí, a classificação altera aqui e ali, mas não essencialmente. As pesquisas são sérias, os índices válidos e todo mundo permanece no bolo das melhores, porque – já diz o ditado pop – “a ordem dos fatores não altera o produto”.

Contudo, o governo federal centralizado – e não é de hoje – consegue a façanha do trocadilho: fazer o produto alterar a ordem e transformar recompensa em punição. Noutros termos, se um estado dispende muita energia para promover o seu desenvolvimento, o prêmio pela arrecadação e transferência de impostos à Brasília é o baixo retorno. É a lógica do velhaco, lei do menor esforço. E olha que os votos de SC que elegeram o atual presidente pareciam expressar a crença de que, enfim, isso mudaria.

Nesse sentido, “mais Brasil, menos Brasília” parecia algo proporcional a “mais Santa Catarina, menos governo federal”. Nada disso: é puro “171”, senão, vejamos:

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/renato-igor/sc-e-desprestigiada-por-brasilia-na-distribuicao-de-verbas-veja-numeros. Acesso em 08/07/2022



Na sequência, olha quanto foi destinado em 2021 para Santa Catarina:

Dá pra ver a discrepância? Então, lancemos mão de um pequeno ensaio de um método infalível, que na ciência denominamos de “estudos comparativos” (ah, falando nela, dia 8 de julho comemoramos o dia internacional da ciência, amiga implacável da matemática e sua filha, a estatística, com a benção de Deus). Pra quem gosta de regra de três, é uma beleza:

Santa Catarina, este mesmo 1% do território nacional e 3% da população, contribui com 5% do PIB nacional. Parece pouco, mas, mas com este tamanho, já é o 6º PIB brasileiro e proporcionalmente passará a ser, ainda este ano, o terceiro per capita, passando o Rio de Janeiro. É um feito histórico, produto do trabalho, da inteligência e da moral – e aqui vale a lógica da perseverança, de quanto maior o esforço, maior a recompensa e Deus ajuda quem cedo madruga, não é isso?

É, mais ou menos, porque chega na hora da divisão, vamos à comparação: Segundo estima o IBGE, Santa Catarina tem 7,2 milhões de habitantes. Segundo o mesmo IBGE, o glorioso estado do Rio de Janeiro tem 17,5 milhões de habitantes. Significa que Santa Catarina tem o equivalente a 41% da população do Rio de Janeiro. Então, bem que uma vez na vida, pelo menos, o estado catarinense poderia receber o equivalente a 41% do que o estado do Rio recebe.

Isso significaria o montante de R$ 10,914 bilhões. Mas, como mostra o segundo quadro acima, do Ministério da Infraestrutura, foram aportados R$ 329 milhões. É menos da metade do que recebeu o Maranhão e menos de 1/6 do que recebeu Goiás, que têm, ambos, a mesma população que SC. O que SC recebeu representa 1,25% do que foi para o Rio de Janeiro, cuja metade da economia já é controlada por milicianos, coisa de cinema, de primeiro mundo.

Quem quiser, faça a comparação, de preferência proporcional per capita e pode procurar por anos anteriores. Nunca encontrará justiça fiscal nesse pacto federativo patrimonialista que é o Brasil. Dele, Santa Catarina é protagonista na hora de ajudar, mas não passa de suplente de figurante na hora da retribuição. Pra quem se aventurar nesse estudo comparativo, vou logo avisando: são muitos os labirintos investigativos e as informações desatualizadas, requerendo paciência (não houve tempo hábil de demonstrá-lo aqui).

Entretanto, o mais grave acontece após o resultado numérico desse estudo: causa repulsão. As palpitações coronárias aumentam e o sangue sobe à cabeça. E aconselho – não aos séquitos dos salvadores da pátria, que nada enxergam. Aconselho aos sensatos: não levem em consideração o quanto mais do nosso dinheiro está sendo transferido, pura necessidade, a obras federais aqui em Santa Catarina, por omissão do governo federal. É quando a recompensa é a punição.

Dr. Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo

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